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PICOS | Manifestantes vão às ruas e cobram por justiça após a morte do pedreiro Joílson Pereira

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Vestidas de preto e carregando cartazes com mensagens contra o racismo e a morte de pessoas negras, diversas pessoas foram às ruas em Picos na manhã desta segunda-feira (08), clamar por justiça, igualdade e respeito.


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O ato foi organizado após a morte do pedreiro  Joilson Pereira, 39 anos, que foi baleado por um agente da Polícia Rodoviária Federal, na noite do último dia 02 de junho, quando retornava da cidade de Bocaina, onde estava a trabalho.

A ação, criada por várias entidades de luta negra e por pessoas inconformadas com o crime, foi denominada de Manifesto Negro Picos e contou com uma caminhada que seguiu do Fórum à Praça Josino Ferreira, no Centro da cidade. Familiares de Joilson, representantes de movimentos sociais, ativistas e membros do Movimento Negro de Picos participaram da manifestação.

Raimunda Lima, esposa de Joílson, disse que tem enfrentado um momento difícil e que deseja justiça. “Está sendo muito duro para mim. Não estou comendo, dormindo, nem tendo sossego. Não sei o que estou fazendo da vida. Vim aqui protestar, pedir ajuda, junto com as pessoas da comunidade e a família dele. Nós queremos justiça, pois ele era uma pessoa trabalhadora, não era um vagabundo. Eles acabaram com a vida dele e com a minha” disse.

O coordenador do Grupo Adimó, Francisco das Chagas, o Mano Chagas, disse que é inaceitável que vidas negras continuem sendo tombadas. “O fato dessa atrocidade, dessa violência acometida pelo policial, tirando a vida de Joilson, a gente quer fazer isso presente, registrar e dizer que a gente não aceita mais que vidas sejam tombadas, principalmente a nossa vida, de negros que vivem no dia a dia labutando, enriquecendo esse país e de repente tem a vida tirada de qualquer maneira. Há quem diga que o ato não foi racista, mas o povo já é racista por si só, pois ninguém é racista só quando diz algo contra o negro, mas as ações no dia a dia são racistas. O tratamento que dou a um negro não é o mesmo que dou a um branco, a sociedade não faz assim” disse.

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Sávio Barão, líder de movimento negro, em lágrimas, relatou sua indignação e pediu igualdade. “Estou de luto e cansado de andar em um lugar e ter que dar satisfação porque eu sou negro. Acho que tem que parar com isso, nós temos que ser respeitados. Uma vida tombou. E vai vir mais? A gente vai ser sempre tratado como bandido? O policial vai sempre chegar e ir logo atirando ou espancando porque é um negro?. Acho que a lei tem que ser para todos. Nós somos vidas humanas que estão tombando todos os dias. Então, que não aconteça mais como aconteceu com Joilson. Nossos filhos vão vir por aí, nossos netos, e o que peço é igualdade”.

Rafael Santos, professor e um dos diretores do grupo de capoeira Palmares, disse que a luta tem sido contra o racismo e a opressão. “Essa manifestação aqui para mim representa a voz das pessoas que não tem muitas vezes espaço para falar, que muitas vezes também são vistas como bandidas, como suspeitas em potencial. Ontem foi o Joilson, e amanhã quem será? Se a gente se calar, se omitir, poderá ser um de nós. Por isso esse movimento hoje, para que a justiça seja feita e não tenhamos outros ‘Joilsons” mais a frente.  Estamos aqui para lutar porque a história do povo negro é de luta. Nunca conseguimos nada sem a luta. E hoje o objetivo é abrir os olhos da população para que eles entendam que é uma luta contra o racismo, mas também  contra a opressão não só dos negros, mas de todas as pessoas que são marginalizadas na sociedade”.

Regina Barão, que também está à frente de movimento negro em Picos, falou que o preto enfrenta o racismo desde cedo. “A gente que é preto enfrenta racismo desde a hora que nasce. A gente descobre que é reto antes mesmo de descobrir que é cidadão. A sociedade nos fala isso antes de dizer os nossos direitos. Nossa luta começa desde cedo, em qualquer ambiente que a gente vive a gente descobre que é preto e o quanto a gente é discriminado. Acredito que só a medida que a gente vai crescendo, que a gente quer que isso seja mudado, é daí que começa as lutas, a nossa raiva e revolta. Porque estão nos matando, discriminando, porque não sou como todo mundo”. Não deveríamos ser mortos pela cor da pele, sermos confundidos com bandidos, sermos sexualizados, objetificados, discriminados. Enquanto as pessoas estão lutando pelo maior, estamos lutando pelo básico que é viver e ter qualidade de vida”.

No encerramento do ato, na praça Josino Ferreira, foram entoadas palavras de luta e feitos relatos por alguns manifestantes sobre o racismo vivenciado diariamente.  Os integrantes do movimento ainda declararam que a luta vai continuar,  não sendo encerrada apenas com a manifestação.

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Texto: Josely Carvalho
Imagens: Jaqueline Figueredo

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