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Túmulo construído fora de cemitério vira lenda e há cerca de 100 anos assusta crianças em Picos

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Há gerações, moradores da cidade de Picos, pouco mais de 300 km ao Sul de Teresina, contam às crianças lendas sobre um túmulo que foi construído do lado de fora do Cemitério São Pedro de Alcântara.

O mistério sobre a sepultura durou quase um século e foi resolvido há apenas 3 anos. Contudo, ainda corre pelo imaginário dos moradores. O mecânico Josevaldo Rodrigues, por exemplo, ainda lembra o medo que sentia quando ouvia a “lenda da menina serpente”.

“Meus avós contavam quando a gente era desobediente. E eles diziam ‘vocês lembram da história da menina serpente, que foi enterrada naquela catacumba? Ela era desobediente, dava língua à mãe e virou uma serpente’”, lembrou Josevaldo.

A história contada a ele pela avó fala de uma menina que era muito travessa e desrespeitosa com os pais. Por isso, como castigo, foi transformada em uma cobra.

Quando faleceu, a “menina serpente” não pôde ser sepultada dentro do cemitério, junto com os humanos, e seu túmulo foi feito assim, na calçada.

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Há ainda uma versão da história em que a sepultura estava lá antes do muro, que teria sido construído de uma forma que deixasse o túmulo da menina de fora.

Para completar o mistério, segundo o mecânico, todos os anos surgiam rachaduras na sepultura. “A gente ficava com mais medo ainda, e acreditava que realmente tinha alguma coisa ali dentro mesmo” contou.

Há 3 anos a sepultura foi retirada da calçada do cemitério, e uma nova foi construída do lado de dentro. Ainda assim, a “lenda da menina serpente” continua assustando crianças, como os filhos da dona de casa Cristina Maria.

“Eu tinha medo quando adolescente. Era uma história que meu pai contava e até hoje eu uso ela com meus filhos, falo ‘olha tem que se comportar, se não vai virar serpente”, brincou Cristina.

Mas afinal, porque o túmulo foi construído fora do cemitério?

Em 2021, a Prefeitura de Picos procurou a família das pessoas que haviam sido enterradas no famoso túmulo. Encontraram o motorista de aplicativo Manoel Fontes.

As pessoas enterradas no túmulo são seus ascendentes. Segundo ele, seus bisavós maternos faleceram vítimas de varíola, durante a epidemia que se espalhou pelo o país no fim do século 1800 e início de 1900.

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“Naquela época, não era permitido sepultar dentro do cemitério os mortos por varíola. O túmulo foi construído assim porque eles eram pessoas de posses, e decidiram que tinha que ser feito um monumento, mesmo que fora, para eles. E aí ficou”, disse.

Campanha de vacinação contra a varíola em 1971 no Brasil; país receberia, três anos depois, certificação de erradicação da doença — Foto: ACERVO COC/FIOCRUZ

Campanha de vacinação contra a varíola em 1971 no Brasil; país receberia, três anos depois, certificação de erradicação da doença — Foto: ACERVO COC/FIOCRUZ

A varíola foi uma das doenças mais devastadoras que já existiram. Só no século 20, ela matou estimadas 300 milhões de pessoas no mundo – ou seja, 4 milhões por ano.

Quase uma em cada três pessoas contaminadas com a varíola morria. Os últimos casos da varíola humana foram registrados em 1971, na região norte da cidade do Rio de Janeiro.

Erradicação só foi alcançada com a varíola em 1980 — Foto: Getty Images via BBC

Erradicação só foi alcançada com a varíola em 1980 — Foto: Getty Images via BBC

O túmulo foi então retirado da calçada, e construído um novo, dessa vez dentro do cemitério. A lenda ficou apenas para as crianças, e para a diversão de Emanoel.

“Eu fazia era sorrir, de tanta história que vinham me contar, e dizia: ‘são familiares meus que estão sepultados ali’. Mas deixava o pessoal continuar com essas histórias, com as lendas”, brincou Emanoel.

Fonte: g1 PI

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