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JAICÓS | Duas fortes mulheres que venceram barreiras e conquistaram o sonho de ingressar em um doutorado

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Duas mulheres, e um sonho realizado: o ingresso no doutorado. As jaicoenses Josinete Bezerra e Catiana Vieira, venceram barreiras e conseguiram chegar até um lugar onde muitas pessoas duvidaram que elas poderiam estar.

As duas jovens, de origem humilde, decidiram investir o máximo possível em um dos maiores bens que o ser humano pode ter: a educação. Com muita persistência, elas ingressaram no ensino superior, depois conseguiram seguir para o mestrado e hoje estão tendo a oportunidade de partirem para um objetivo ainda maior, o de obter o título de doutoras.

Mulher, negra, filha de uma professora e de um pedreiro, Josinete de Carvalho Bezerra, 29 anos, que é graduada e mestra em Serviço Social, passou por cima de todas as dificuldades que surgiram no caminho, se dedicou e hoje comemora o início de mais um sonho.

Ela recebeu a tão esperada notícia da aprovação neste mês de março. Ela vai fazer Doutorado em Serviço Social na Universidade Federal do Pernambuco, onde também concluiu seu mestrado. As aulas já iniciam no próximo dia 29 de março.

Para chegar até onde está, a jaicoense em suas falas sempre destaca que o apoio da família, em especial da sua mãe, foram essenciais. Ela diz que a mãe, que é professora e também percorreu um longo caminho pra ter acesso à educação, é o seu maior exemplo.

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Na família, Josinete será a primeira a cursar um doutorado. Ela diz que quer incentivar outros a também lutarem por seus ideais. “Minha família é uma das maiores razões pelas quais sigo em busca dos meus sonhos, minha Mãe sempre foi minha maior incentivadora e referência na educação. Acredito que neste momento quero deixar o incentivo para que outras pessoas também lutem por seus ideais, para que não percam de vista a importância dos estudos, mesmo em conjunturas tão adversas como a que vivemos contemporaneamente. E ainda, para que tenham em mente que é possível chegar onde almejam” concluiu.

A jovem, que pretende ser professora universitária, disse que o doutorado era um objetivo de vida. “O Doutorado era um objetivo de vida, tendo em vista a profissão que sonho em seguir, nesta caminhada meu amor pelos estudos me levaram para a pesquisa e a ciência, além do incentivo e apoio da família que foram ponto basilar em todos os momentos ao chegar até aqui”.

Para ela, a conquista também representa a força do povo negro. “Ingressar no Doutorado é muito significativo para mim, pois, é também quebrar barreiras estruturais postas para negros e pardos que hoje ocupam menos de 1/3 dos espaços de pós-graduação. É mostrar para a sociedade que podemos e devemos ocupar todos os espaços que um dia disseram que a nós não caberia”.

Sobre os desafios, ela falou que o deslocamento para outra cidade e estado foi um deles. “Os meus desafios estão relacionados aos deslocamentos constantes desde a graduação, onde tinha que ir para outra cidade, no mestrado onde já tive que me deslocar para outro estado, prosseguindo com isso também no doutorado. Então, acredito que sem o apoio necessário da minha família, isso não teria sido possível, pois quando você precisa se deslocar é um desafio muito grande, principalmente para nós enquanto mulheres”.

Ela disse que o acesso aos livros, também é um desafio para quem pretende seguir na pesquisa. “Para além disso, destaco também a dificuldade para a gente ter acesso a livros […] Eu como sou oriunda de uma família simples, muitas vezes a gente não tem o orçamento necessário para a compra de livros constante. E para quem pretende seguir no caminho da ciência e da pesquisa, os livros são imprescindíveis. Na graduação eu fiz muita leitura utilizando livros da biblioteca da RSá de Picos, onde estudei, e na pós graduação na UFPE fiquei encantada com a biblioteca, com a possibilidade de ter acesso a diversos livros, e depois com a bolsa de mestrado pude efetuar o investimento em livros”.

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A jovem recordou que os primeiros livros da graduação, ela ganhou de presente de aniversário da mãe. “Lembro que meus três primeiros livros ainda na graduação foram um presente de aniversário que eu pedi a minha mãe. E como eu sempre coloco, ela sempre foi a minha maior incentivadora e é a minha maior referência na educação, o que é muito importante para mim” concluiu.

Catiana da Conceição Vieira Melquiades, 30 anos, graduada em Agronomia, pela Universidade Estadual do Piauí e Mestra pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), foi aprovada em primeiro lugar para o doutorado em Ciência Animal, também na UNIVASF, em Petrolina-Pernambuco.

A jovem de família humilde, filha de pais que não frequentaram a escola e que não tinham condição financeira para investir na educação da filha, provou que com força de vontade, dedicação e fé, é possível passar por cima dos obstáculos e realizar sonhos.

Catiana disse que a aprovação no doutorado foi uma de suas maiores conquistas. “Para mim é uma das maiores vitórias da minha vida, porque quando eu penso que tive que fazer uma graduação, depois mestrado, vindo da minha realidade é surreal. Ao contrário de muitas pessoas que tem o estímulo dentro de casa eu não tive, pois meus pais não entendem o que é um doutorado, porque eles não tiveram estudo. Minha mãe não lê, meu pai lê pouco, mas ele também não frequentou a escola. Então assim, com essa conquista eu considero que eu já venci na vida (risos), apesar de não ter entrado em um concurso ainda, eu considero uma grande vitória”.

Para ela, sua conquista também pode ser um estímulo para outras pessoas. “E eu acredito que minha conquista pode estimular outras pessoas a acreditarem em seu potencial, por mais que você seja predestinado a estar ali naquele ciclo todo da sua família, mas você consegue quebrar o ciclo. Precisa de muito esforço, dedicação e muita loucura, porque tem que ser muito louco (risos) para acreditar que você vai conseguir chegar num lugar tão difícil para sua trajetória. Mas com essa dose de loucura, de determinação, você consegue chegar”.

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Catiana disse que em sua trajetória, teve que enfrentar pessoas que menosprezavam seu sonho. “Em relação às pessoas zombarem da minha vontade de entrar na universidade, é porque era uma coisa muito complicada, porque eu queria entrar, mas meus pais não tinham condição de pagar nem um transporte de um mês, porque eles vivem de um Bolsa Família. Eu morava com minha tia, pois fui criada por ela, mas ela também não tinha condição, então, como eu ia pagar um carro para ir para Picos ou um aluguel? Então, quando eu falava que estava indo para uma universidade, eu tive que chegar a escutar pessoas falando “ò, não vai se prostituir não viu”. E isso doía muito. Até um tio meu falou isso para a minha mãe. Muitas pessoas zombaram porque eu não tinha condição, e eu realmente não tinha, mas eu não ia para aquele caminho que eles estavam querendo dizer que eu ia”.

Mas, a jovem não se deixou vencer. Desde sua graduação, Catiana teve que lutar muito para poder seguir estudando. “Tive que trabalhar, trabalhei três anos focada na graduação. Eu entrei na faculdade no finalzinho do Ensino Médio, mas eu não tinha condição naquela época, então tive que guardar meu sonho na caixinha, aguardar eu ter dinheiro, e aí quando eu tive dinheiro para passar um ano, eu fui. E as pessoas acharam loucura, minha família também, porque eu ganhava um salário aqui. Aí quando o dinheiro foi acabando em Picos, eu consegui bolsa e depois consegui um emprego, comecei a trabalhar e estudar, e assim terminei minha graduação”.

No mestrado, as dificuldades prosseguiram. “Quando chegou no mestrado eu pensei que tinha bolsa, mas não tinha, mas eu também juntei dinheiro trabalhando cerca de 7 meses no IBGE, porque já desconfiava que poderia não ter bolsa, mas não pensei que passaria todo o mestrado sem bolsa”.

Catiana atuando na pesquisa

Sem ter auxílio por parte da instituição, Catiana contou com o apoio de suas orientadoras para poder prosseguir com seu sonho. “Mas eu também conto com ajuda, por isso o mérito não é só meu. A minha orientadora da graduação foi meu maior incentivo, ela disse “Não Cacá, você vai fazer o mestrado e eu vou te ajudar a pagar o aluguel, não é por falta de dinheiro que você vai deixar de fazer”. Então ela segurou na minha mão esse tempo todo, pagando o aluguel, e a minha outra orientadora, a do Mestrado, me manteve junto com ela. Elas foram o meu alicerce nesses dois anos, pois só no final foi o que eu consegui um emprego. A universidade não pôde financiar a bolsa, mas elas tiraram do bolso um valor que eu consegui me alimentar e pagar um aluguel. E minha orientadora do mestrado, em dia nenhum deixou de me ligar para perguntar o que eu ia almoçar ou jantar. E não podia deixar de dizer que cuscuz não me deixou passar fome (risos), é barato, dá sustância, e é muito importante na vida do estudante (risos)”.

Depois de conseguir vencer mais uma luta, veio a tão sonhada aprovação no doutorado. “E aí eu fiz a seleção do doutorado para a UNIVASF mesmo, onde eu já tinha feito o Mestrado. Abriu vaga, eu fiz, passei, eu foi uma surpresa para mim passar em primeiro lugar, porque tinha muita gente boa, projetos bons, mas foi uma vitória a mais, porque foi incrível quando eu vi o meu nome lá, e que eu tinha passado para um sonho, em uma colocação tão boa, então foi perfeito. Para mim nem precisava ter passado em primeiro lugar para ser o maior sonho da minha vida, mas isso me incentivou”.

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Por fim, Catiana disse que acredita que vai vencer mais uma vez. “Eu vejo que estou no caminho certo, vou seguir e Deus vai me ajudar como tem me ajudado até agora, colocando o tempo todo as pessoas certas na minha vida. E eu creio que vou vencer essa também, em nome de Jesus vou entrar em uma universidade e vou vencer a pobreza (risos)” concluiu ela.

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