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OEIRAS

O dia mais oeirense do ano: “Sexta-feira de Passos”

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A sexta-feira de Passos (celebrada hoje, 31) é o dia mais oeirense do ano, porque se Oeiras é conhecida como a Capital da Fé, certamente é nesse dia que o povo explicita ainda de maneira mais intensa esse sentimento, esse fervor religioso do povo dessa região dos sertões de dentro do Vale do Canindé.

“A festa do Bom Jesus dos Passos como a gente costuma chamar aqui em Oeiras, geralmente chamada de Procissão do Encontro em outras regiões, rememora um dos últimos momentos da vida de Jesus Cristo que durante quase todo o período da quaresma é lembrado durante as Vias Sacras, então, podemos dizer que a festa de Passos é uma grande Via Sacra a céu aberto onde  vai percorrer as vias públicas da cidade levando essa imagem tamanho homem, momento em que a população vai sentir de maneira mais intensa como foi aquele sofrimento de Jesus Cristo que carregou aquela cruz tão grandiosa desde o momento em que ele foi condenado por Pôncio Pilatos no pretóri, até chegar ao gólgota que seria o calvário”, disse o professor e historiador, Junior Vianna.


A festa de passos acontece em dois momentos: numa quinta-feira que antecede a festividade propriamente dita quando a imagem do Bom Jesus sai da Catedral de Nossa Senhora da Vitória e vai em direção à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde naquele local vai representar a ocasião na qual chamamos de Monte das Oliveiras. Inclusive essa procissão anteriormente só era acompanhada por homens.

Na Igreja do Rosário a imagem vai ser descoberta, pois ela está envolvida por um dossel roxo que é um cortinado roxeado que inclusive é a cor símbolo da ocasião.  O roxo em Oeiras é muito mais do que uma cor, ela representa um sentimento que é a cor do amor piedoso, essa cor litúrgica da igreja católica, que é a cor do perdão.

No outro dia a igreja vai intensificar as suas manifestações litúrgicas desde o início da manhã com celebrações de missa. Um dos momentos mais chamativos é o ofício dos passos que acontece ao meio dia, que é uma oração cantada que mescla essa questão da tradição sertaneja como os repentes, a literatura de cordel, e, sobretudo essas linguagens religiosas, essa narrativa Sacra do Novo Testamento dos Evangelhos. É uma oração cantada de cerca de uma hora e, é um momento em que já começa a se potencializar a preparação da Procissão de Passos do Bom Jesus que sai por volta das 16h30min. É quando chega esse momento apoteótico que é a Procissão de Passos, que percorre as vias públicas e compreende sete paradas.

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Essas paradas representam cada uma delas, duas estações da via sacra, por isso que ao todo totalizam quatorze. Nas extremidades, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, fica o primeiro passo e a Igreja de Nossa Senhora o último. Nesses passos das extremidades são espalhados pelo centro histórico da cidade outras cinco capelas.

Essas capelas são abertas de maneira especial para essa festividade, e são decoradas com uma flor artesanal típica da região que é chamada de flor de passo, feita de papel. Para dar cheiro a essas flores é colocada uma planta encontrada nos sopés dos morros, nas encostas da cidade, que é chamado de alecrim Silvestre, por isso tem um cheiro adocicado e termina dando essa essência olfativa à festa.

Aí vem o Bom Jesus por essas capelas onde acontecem alguns rituais. É a benção do Santo Leme que é um madeiro onde guarda um pequeno fragmento da cruz em que Jesus foi crucificado e na ocasião vai ter o canto da Maria Beú. Costuma-se dizer o canto da Maria Beú, mas na verdade ela não canta, ela lamenta, lamenta palavras atribuídas ao Profeta Jeremias.

Após esse ritual a banda de música Santa Cecília acompanha a procissão com o dobrado e esse ritual vai se repetindo de passo em passo até o momento ápice que se dá na Praça das Vitórias de fronte ao Paço Municipal, Sede do Executivo Municipal que é o momento em que algum Orador Sacro convidado pela igreja de Oeiras, vai proferir palavras éticas e religiosas pra uma multidão de aproximadamente 30 mil pessoas.

Nessa ocasião também vai acontecer o encontro da imagem do Bom Jesus dos Passos com a sua mãe Nossa Senhora da Soledade, conhecida na região como Nossa Senhora das Dores. Depois desse encontro a procissão segue pra outro passo, outra capela de passo que resguarda nessa sua história uma peculiaridade que é quando a imagem vai dar três voltas no epicentro lembrando as três quedas de Jesus Cristo no caminho do Calvário.

Depois segue pela Rua das Flores e chega ao último passo, que é o passo de Raimundo Cigano ou passo da Naninha. Desse passo, ele segue para a Catedral de Nossa Senhora da Vitória, onde encerra toda essa celebração litúrgica, festiva, popular e cultural que marca a cidade de Oeiras como uma grande referência religiosa do povo do Piauí, uma grande referência histórica para o povo brasileiro.

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Se Oeiras é conhecida como a Capital da Fé, a Procissão de Bom Jesus dos Passos tem a capacidade de sintetizar todo esse fervor religioso, porque é nesse dia que as pessoas costumeiramente usam roxo pra externar sua devoção, onde muitos deles vêm no percurso da caminhada do cortejo com pedras, garrafa d’água na cabeça, etc.

Ali eles exteriorizam que tinham uma promessa pra pagar, haviam feito uma comunicação com esse ser sobrenatural que, de certo modo, pode ter lhes garantido um retorno positivo.

Para o historiador Junior Vianna, “A procissão de Bom Jesus dos Passos nesta sexta-feira, (31), é tida por nós como a maior manifestação religiosa do Piauí, uma das maiores do Brasil, e é marcada por esse catolicismo popular, com essa parte devocional do povo anônimo que saem de suas casas, de suas regiões, no propósito de maneira coletiva, fazer com que as ruas de Oeiras se transformem na Via Sacra mais sertaneja do Brasil”.

Por Romário Britto, via Portal Integração

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