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‘Ele apagou minha mãe das nossas vidas, uma dor sem cura’, declara filho de vítima de feminicídio no Piauí

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A dor, a ausência e ter que reviver a perda de um ente querido assassinado de forma cruel. A morte de uma mulher para o feminicídio traz inúmeras outras vítimas: os filhos, a família, os amigos. No Piauí, 23 mulheres foram mortas em crimes de ódio motivados pela condição de gênero em 2022.

Quase cinco anos após a morte da mãe pelo namorado que conheceu na internet, o filho de Gisleide Alves dos Santos, Maycon Gesquiel, tenta superar os traumas causados pela perda precoce e a forma cruel com que ela foi assassinada. O acusado do crime, Samuel Lucas Teixeira Araújo, foi condenado a 21 anos pelo feminicídio.

“As lembranças são as que mais maltratam, pelo fato da gente pensar nos momentos e a pessoa não se encontrar mais presentes. Eu e minha irmã sofremos muito por conta da ausência da minha mãe, mas a vida tem que seguir, ela não está mais presente em vida, mas estará sempre viva em nossos corações. Eu estou fazendo de tudo para seguir em frente, mesmo sendo falho às vezes, e fazendo de tudo pra que minha irmã não sofra com essa dor”, comentou Maycon Gesquiel.

No dia 17 de maio de 2018, Maycon foi quem subiu no telhado da casa da mãe após a irmã não conseguir entrar. Ele encontrou Gisleide morta a facadas e tiros dentro do quarto, cômodo esse trancado pelos filhos da vítima para não reviver o crime e por trazer dor.

'Minha mãe era o meu pilar', diz filho de vítima de feminicídio no Piauí — Foto: Arquivo pessoal

‘Minha mãe era o meu pilar’, diz filho de vítima de feminicídio no Piauí — Foto: Arquivo pessoal

“Eu fico triste, porque ele apagou uma pessoa da minha vida, não só da minha como de todos da família, só ficaram as memórias. Tem dias que fico pior, porque bate aquela saudade, que a gente só sabe chorar. Ainda não superei. Me sinto destroçado, porque a minha era meu pilar. E não está mais presente entre nós”, declarou.

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Além da saudade, Maycon Gesquiel ficou com sequelas do feminicídio da mãe. O jovem de 23 anos sofre de crise do pânico e ansiedade, mas tenta ser forte para ajudar a irmã Joyce Caroline, de 20 anos, na criação da sobrinha Maria, de 4 anos, que não chegou a conhecer a avó.

“Eu tenho que ser forte pra passar pra minha família. Minha mãe sabia que íamos ficar destroçados com isso, ela é tão incrível que sabendo disso, enviou um presentinho para minha irmã, a incrível Maria. A minha sobrinha é a cópia da minha mãe em tudo, ela foi um dos motivos da gente estar tão forte e conseguindo seguir em frente”, disse.

Filho de vítima de feminicídio fala da proteção com a irmã e a sobrinha após a morte da mãe — Foto: Arquivo pessoal

Filho de vítima de feminicídio fala da proteção com a irmã e a sobrinha após a morte da mãe — Foto: Arquivo pessoal

Gisleide conhecia Samuel pessoalmente havia apenas 15 dias. Ele veio de São Paulo para Teresina e ficou hospedado na casa da vítima, e ao achar que estava sendo traído e por ciúmes, segundo a polícia, cometeu o crime com ‘requintes de crueldade’.

Diante do que aconteceu com a mãe, Maycon diz que se tornou super protetor com a irmã e a sobrinha. Ele fez um alerta para que outras famílias não sejam órfãos do feminicídio.

“Quero que observem bem com quem você estar se relacionando, ninguém conhece o outro, busque procurar mais sobre a pessoa, se for possível até mesmo o histórico criminal, isso vai dizer muito como ela é, não se entregue, elas são traiçoeiras. Não confiem. Caso essa pessoa esteja sendo agressiva com você, se saia. As pessoas não são o que dizem, então busque conhecê-las a fundo”, disse.

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Gisleide Alves foi encontrada morta dentro de casa em Teresina — Foto: Reprodução/Facebook

Gisleide Alves foi encontrada morta dentro de casa em Teresina — Foto: Reprodução/Facebook

Em meio a tanta dor e saudade, ele ainda encontra forças para deixar um alento e alguma orientação a quem, como ele, também perdeu alguma mulher de suas vidas para o feminicídio;

“E para você que perdeu alguém, eu do fundo do meu coração, sei o quanto isso é ruim e destroem a gente por dentro e por fora. Só tomem mais cuidado para que isso não possa se repetir com outra pessoa da família. Seja protetivo, curioso em saber como está a relação. Perguntem. E se tiverem tendo briga e você ver ou escutar mesmo não sendo da sua família, entrem na história. Em briga de marido e mulher, e se mete a colher sim. Você vai estar salvando uma vida e aliviando a dor de uma família”, ressaltou.

Projeto garante pensão a filhos de vítimas de feminicídio

Na quinta-feira (9), a Câmara dos Deputados aprovou a proposta que garante uma pensão às crianças e adolescentes cujas mães foram vítimas de feminicídio. O texto ainda será analisado pelo Senado. O valor da pensão estabelecido no projeto é de um salário mínimo e deve ser pago até o menor completar 18 anos.

Para ter acesso ao benefício, a renda mensal per capita dos filhos ou dependentes menores de idade, órfãos em razão do crime de feminicídio, deve ser igual ou menor que 25% de um salário mínimo.

O texto estabelece ainda que a pensão não poderá ser acumulada com “benefícios previdenciários recebidos do Regime Geral de Previdência Social – RGPS ou dos Regimes Próprios de Previdência Social, nem com pensões ou benefícios do sistema de proteção social dos militares”.

Fonte: g1 PI

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