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MUNICÍPIOS

Dois meses depois dos estupros, Castelo do Piauí continua sem delegado e com poucos policiais

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A cidade de Castelo do Piauí (a 190 quilômetros ao Norte de Teresina) tem o nome conhecido nacionalmente. Uma parte da população brasileira sabe que foi aquele município o palco de um dos crimes mais bárbaros da história do Piauí e um dos atos criminosos mais cruéis cometidos este ano: o rapto, espancamento, estupro coletivo e outras série de atrocidades contra quatro adolescentes. Uma delas morreu.

Os acusados são quatro menores (dois de 15 anos, um de 16 e outro de 17), já condenados pela Justiça, e o desempregado Adão José de Sousa, 40 anos, ainda preso.

Passados quase dois meses do crime (ocorrido no final da tarde de 27 de maio) a cidade, uma das 30 maiores do Piauí, começa a voltar ao normal em termos de ser mais uma entre as 224 do estado: com problemas sociais, ares de tranquilidade, praticamente todos os motoqueiros andando sem capacete, falta de políticas públicas e, principalmente, quase ausência dos poderes policiais, principalmente em seu aspecto numérico.

Os quase 20 mil castelenses são seguros por menos de 15 policiais (entre as forças da Polícia Civil e da Polícia Militar do Piauí), dando quase um policial a cada 1.250 habitantes. A proporção aumenta muito mais, para quase um policial para 4 mil habitantes pois esse contingente não está diariamente disponível, já que os policiais têm folgas e opera em revezamentos.

O crime que ocorreu em Castelo do Piauí foi até capa da principal revista de informações semanais do Brasil, além de ter inspirado dezenas de matérias de veículos nacionais. Emissoras de TV e jornais do Sudeste mandaram repórteres. O circo midiático foi realizado.

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Todos queriam contar, passo a passo, como foi o crime e como a cidade estava se sentido. Pouco se refletiu sobre um dos principais colaboradores para a tragédia ter sido justamente o pouco policiamento na cidade.

E continua a mesma realidade mostrada pela reportagem de O Olho dias depois da tragédia com a falta de autoridade policial civil refletindo também na região já que os municípios vizinhos de Assunção do Piauí, Buriti dos Montes, Juazeiro do Piauí, São João da Serra e São Miguel do Tapuio também são abrangidos pela delegacia de Castelo do Piauí.

É uma área de 13.418,8 quilômetros quadrados (equivalente a um país como Irlanda do Norte, Jamaica ou Líbano) sem uma única autoridade policial para acompanhar inquéritos e organizar as atividades investigativas. A Delegacia de Polícia Civil no município e o Grupamento de Policiamento Militar (GPM) funcionam no mesmo prédio, na avenida Antonino Freire, Centro da cidade.

Estruturalmente a delegacia é um cubículo de duas salas em que o banheiro serve também como depósito de armas e objetos apreendidos. Sequer há uma cadeira inteira no gabinete do delegado para que uma pessoa possa ser atendida. Quem quiser sentar tem de ficar em uma cadeira caindo aos pedaços e sem encosto. O GPM tem quase o mesmo tamanho.

A estrutura da polícia de Castelo do Piauí praticamente não é digna para quem trabalha lá e muito menos para quem procura os serviços das duas instituições. Os fatos são confirmados por seis policiais ouvidos pela reportagem. Todos, pedindo anonimato da fonte, reclamam das condições de trabalho e confirmam que nada mudou.

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CIRCO MIDIÁTICO E PROMESSAS. CADÊ OS POLICIAIS?

Dois dias depois do caso várias autoridades da Segurança Pública do Piauí estiveram na cidade. A imprensa foi chamada e foi prometido um choque de realidade na segurança. Foram 77 matérias publicadas sobre o caso. Mas a pergunta geral é: cadê os policiais e a estrutura prometida?

O delegado Laércio Evangelista que continua lotado na cidade de Campo Maior (mais de cem quilômetros de distância de Castelo do Piauí) esteve presente mais vezes na cidade, mas continua acumulando duas delegacias e duas cidades. Oficialmente Castelo do Piauí continua sem delegado.


Lugar em que ocorreu a tragédia. Ao fundo Castelo do Piauí. Foto: João Brito Jr/O Olho

O secretário de Segurança Pública, capitão Fábio Abreu foi à cidade e prometeu intervenção urgente. Não voltou mais. O comandante do 15º Batalhão da Polícia Militar (também em Campo Maior – e responsável pela área) tenente coronel Ruy Cordeiro também não andou mais na cidade.

Por quatro semanas uma equipe do BOPE – Batalhão de Operações Especiais – e do RONE – Rondas Ostensivas de Natureza Especial (todas de Teresina) estiveram na cidade. As hospedagens e alimentação foram pagadas pela prefeitura. Desde a semana passada foram embora e a segurança ficou à cargo do contingente antigo: no máximo apenas três policiais militares e três policiais civis de plantão.

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O comandante do Grupamento de Polícia Militar da cidade, sargento Gomes, divide o tempo entre comandar a PM da cidade e sub-comandar a companhia da vizinha cidade de São Miguel do Tapuio.

Outro ponto reclamado é também que o juiz da cidade, Leonardo Brasileiro, só está em Castelo do Piauí às terças, quartas e quintas.

MAIS PROMESSAS. POPULAÇÃO ESPERA SENTADA, MAS NÃO NAS CALÇADAS, COM MEDO DE MAIS ASSALTOS E MAIS ESTUPROS COLETIVOS

Esta semana os comandos da Polícia Civil e da Polícia Militar do Piauí prometem que finalmente Castelo do Piauí terá o policiamento merecido. Entenda-se: mais homens e mais estrutura.

Menores condenados. Depois de suas prisões diminuiu pela metade crimes na cidade. Foto: Plantão Policial Piauí

Mas a população espera sentada. O mesmo foi dito nas visitas anteriores das autoridades. Em tom de ironia uma parte dos populares castelenses dizem que esperarão sentados mesmo, mas não nas portas de casa, pois temem que os criminosos, à solta nas ruas, possam fazer mais assaltos ou até mais estupros coletivos.

Do lado da Polícia Civil as promessas é de que a cidade (e consequentemente toda a região) ganhe um delegado nos próximos meses, já que está sendo formada uma nova turma justamente para suprir carências de delegados no interior. Não há a mesma promessa para a chegada de novos policiais civis, mas tenta-se internamente transferir alguns policiais para a cidade. Outra solução já pensada é o envio de forças-tarefa com delegados especiais e agentes para trabalhos pontuais de investigação e término de inquéritos.

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Já a Polícia Militar promete que o efetivo da cidade será dobrado tão logo receba os novos policiais já concursados e em formação. A promessa é que o número, que ainda será insuficiente, seja reforçado até o final do ano. Também há promessas de que não haverá transferência dos policiais lotados na cidade para cidade maiores (o que é muito comum).

Um dado interessante é que, em termos quantitativos, a criminalidade, mesmo sem tantas mudanças na segurança pública da cidade, diminuiu pela metade. Um dos policiais ouvidos destacou que isso ocorre não pela cidade estar mais tranquila, mas sim porque boa parte dos crimes realizados em Castelo do Piauí eram atribuídos justamente a dois dos quatro menores acusados pelo estupro coletivo (os dois garotos de 15 anos).

“Eles tocavam o terror. Com a condenação dos quatro, os outros menores, também parceiros, estão de barbas de molho. Sabem que também podem ter o mesmo caminho: prisão e condenação rápida. Se a justiça fosse feita com tanta rapidez para todos os bandidos presos pela gente esse e centenas de outros crimes teriam sido evitados aqui em Castelo do Piauí. Não adianta ter só polícia, tem de ter escola, tem de ter trabalho com a família, envolvendo todo mundo da cidade. Pode botar mil policiais, sem trabalho social continuará ocorrendo crimes”, refletiu o policial.

 

Fonte: O Olho

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