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Arte que transforma e gera renda: conheça um pouco do artesanato de Ipiranga do Piauí

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Uma cidade repleta de arte, cultura, belezas e histórias. Quem chega a Ipiranga do Piauí encanta-se com a riqueza que o local possui. Uma das grandiosidades do município é a produção artesanal, que lá, transforma vidas, muda perspectivas, e gera oportunidades.

Ipiranga exibe exemplos do que há de mais belo no artesanato, desde o tradicional crochê, a móveis e peças de decoração produzidos com matéria prima extraída do Buriti, árvore presente em diversos pontos do município.

O artesanato em Ipiranga faz parte da tradição de várias famílias, está enraizado na cultura local e perdura de geração em geração. Hoje, diversos moradores seguem fortalecendo o artesanato e preservando a identidade cultural da região.

Há artesãos que produzem apenas para a própria casa, a família, e também os que tem o artesanato como uma fonte de renda. Mas entre eles, há uma motivação em comum, o amor por aquilo que fazem.

Para os visitantes que chegam à cidade e se encantam com sua história e com o que lá é produzido, nada melhor do que visitar a Casa da Cultura. Localizada bem no centro da cidade, o local abriga diversas obras feitas pelo talentosos artesãos da cidade.

Além do artesanato, o espaço expõe diversas peças e materiais antigos, que contam um pouco da história da pequena cidade do interior do Piaui. Muito do que se encontra na Casa da Cultura, foi doado por diferentes famílias.

A Casa da Cultura foi inaugurada em 1996. Sarney Júnior, Coordenador Municipal de Juventude, que integra a equipe da Casa, disse que o local é aberto a visitação. “A gente recebe as pessoas, no horário de 08 às 11 e 14 às 17. Temos duas recepcionistas, que recebem quem chega, mostram o local e tiram as dúvidas”.

A cidade também possui a Associação de Artesãos de Ipiranga (Assaripi), que foi fundada no ano de 2007. O grupo que forma a associação é composto, em sua maioria, por mulheres. Ao todo são 50 associados.

Hoje a Assaripi é beneficiária do Projeto Viva o Semiárido, que é apoiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola – FIDA e pela Secretaria do Estado da Agricultura Familiar.

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O Projeto de investimento produtivo contempla a reforma e ampliação do imóvel para unidade produtiva sede, feita em 2020, estruturação do fluxo de produção, aquisição de máquinas, matéria prima, equipamentos, qualificação em todas as etapas da produção, gestão e comercialização.

Maria Lopes, presidente da associação desde 2020, disse que a Assaripi foi fundada com muita luta. “Essa associação foi um projeto muito importante, que a gente conseguiu fundar com muita luta. Temos um apoio muito importante da prefeitura, assistência social, sempre que precisamos de algo eles nos atendem. E no que depender de todas nós não vamos decepcionar, vamos mostrar que merecemos receber esse apoio”.

A presidente explicou que através do projeto do Viva Semiárido, famílias do município também serão beneficiadas e poderão aprender o artesanato. “Ganhamos um projeto do Viva O Semiárido, que é voltado para a comunidade. São 47 famílias beneficiárias e vamos ensinar costura, artesanato, crochê. Ainda estamos começando, mas esperamos que a gente chegue longe e sempre ajudando as pessoas”.

Maria disse que na Assaripi, é feita a confecção de roupa, móveis de talo de buriti, caixaria, crochê na linha de algodão e na fibra do buriti, arranjos com linha de seda e muitos outros tipos de artesanato.

Segundo ela, o intuito é seguir sempre inovando e buscando novas ideias de produção. “E a gente pretende sempre inovar, buscar novidades para estarmos desenvolvendo aqui, porque o artesanato abrange muita coisa. Então, o que não temos ainda, vamos buscar aprender e ensinar também para as famílias”.

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Iolita Ramos, uma das co-fundadoras da Assaripi, iniciou no artesanato ainda na infância. Ela conta que era um tempo difícil, morava no interior, quase não tinha material, mas mesmo assim começou a produzir.

“Quando tinha uns 10 anos de idade eu já me despertei como artesã. Nessa época a dificuldade era grande, eu morava no interior, não tinha acesso a material, equipamentos, mas comecei a fazer crochê, que é o meu forte. Mas hoje faço muitas variedades de artesanato, bordo, trabalho com a fibra do buriti, faço bolsas, havaianas”.

Iolita disse que desde que a associação foi fundada, os artesãos trabalham em grupo e já participaram de muitas feiras, inclusive em outros estados. “Desde a associação trabalhamos juntos em grupos e participamos de muitas feiras, porque a associação foi criada já com outras entidades. Temos muito apoio nas repartições. Já fomos feira na Bahia, Belém do Pará, São Paulo e temos sempre feira em Teresina e também nas cidades vizinhas. Do ano passado para cá mudou por causa da pandemia”.

A artesã, disse que através do Viva Semiárido, a Assaripi ganhou material e vai produzir uma grande variedade de peças artesanais. “E com o projeto do Viva Semiárido foi reformado o prédio e a gente ganhou todo material para fazer costura. Na associação vai ser trabalhado roupa, confecções e se estender para cama, mesa, banho e outras variedades. Vamos trabalhar também com o buriti, já temos a matéria prima”.

Ela ainda anunciou que a associação pretende realizar um desfile somente com moda artesanal. “Estamos com uma grande expectativa, vamos confeccionar muitas roupas e preparar um desfile de moda artesanal aqui em Ipiranga, com fé em Deus daqui para o fim do ano, se a pandemia passar”.

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Dilsa da Silva, 64, trabalha com artesanato há anos. Ela conta que a produção artesanal faz parte da família e vem desde os seus avós. “Eu sou de uma geração onde uma das primeiras coisas que a gente aprendia era costurar, bordar, então com 8 anos eu já bordava, fazia crochê. As mães sabiam e iam ensinando, era algo que ia passando de geração em geração. Meu avô fazia aqueles baús de madeira cobertos com couro, meu pai fazia malas, gibão de couro, e minha mãe costurava bordava, então é de família mesmo”.

Hoje ela produz diferentes tipos de artesanato. “Faço de reciclagem, macramê cobrindo garrafas e crochê. Sei fazer também algumas coisas de tecelagem da tala do buriti e também com o reaproveitamento do talo, fazendo quadros. Eu tenho um curso que fizemos através do SENAC e sabemos produzir, mas não é a minha habilidade principal”.

Para ela, o artesanato, além de um lazer, é uma prática que trabalha a mente e ainda ajuda financeiramente. “Estou fazendo agora um crochê muito grande, com mais de 120 aplicações, e durante a pandemia foi o que me ajudou a passar por esse momento onde você tem que estar dentro de casa. É algo que é bom para o lazer, para a mente, trabalha a concentração e ainda é uma ajuda financeiramente”.

A artesã ainda falou sobre a associação, destacando que a criação da mesma permitiu uma organização do trabalho e produção. “A associação trouxe a organização dos artesãos. Por exemplo, quando se tem uma encomenda grande é preciso muitas pessoas trabalhando, e a gente tinha essa dificuldade de não conseguir dar conta quando tinha muitas encomendas, mas com a associação conseguimos organizar nosso trabalho. Hoje a gente recebe as encomendas e vai organizando quem vai fazer, e também capacitamos outras pessoas com formação, oficinas”.

Maria Francinete é mais uma que tem o dom da produção artesanal. Ela disse que aprendeu o crochê apenas olhando outras pessoas fazendo. “O crochê eu aprendi olhando os outros fazerem, e as outras coisas eu tiro a mostra da internet, revistas e vou fazendo. Faço ponto bargello, crochê, ponto cruz, meia de seda, é uma infinidade de coisas. Faço por encomenda e vendo para as pessoas. Antes eu fazia também umas almofadas de fita e vendia”.

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Antes de ter um emprego fixo, era através do artesanato que Maria obtia uma renda. Hoje ela diminuiu sua produção, mas diz que mesmo sem encomenda, segue fazendo suas peças por amor. “Hoje quase não estou fazendo para a venda, mas quando eu fazia antes de trabalhar na prefeitura, minha renda era dessas coisas que eu produzia. Mas é algo que faço por amor. Mesmo não tendo encomenda sempre estou produzindo, não consigo ficar sem fazer, é uma terapia”.

Nayane Maria Gonçalves foi aprendiz da Maria Francinete, com quem trabalha. Para ela, o artesanato passou a desempenhar um papel ainda mais importante. Ela, que sofre de ansiedade, disse que passou a se sentir melhor depois que começou a produzir. “Aprendi com a Maria desde que estou aqui, início do ano. Para mim é uma terapia. Eu via ela fazendo, começou a me incentivar, eu comecei e acabei gostando, é algo muito gostoso de fazer. E depois que comecei até minha ansiedade melhorou”.

Nayane disse que faz o ponto bargello e também tapetes de lã. “Produzo apenas para casa mesmo. E meu intuito é continuar aprendendo mais e mais” destacou.

Domingas Costa, 62 anos, é apaixonada por boneca de pano, primeira peça artesanal que produziu. Ela, que tem mais de 30 anos no artesanato, começou a produzir porque passava muito tempo em casa. “Eu tinha uma criança que era doente, então não saia muito de casa e comecei a fazer artesanato. Comecei pelas bonecas de pano. Iniciei fazendo, e logo em seguida comecei a vender. As pessoas foram vendo, gostaram e começaram a encomendar. Eu também costurava, faço crochê, o que tiver pode trazer que eu faço (risos), mas o que gosto mesmo de produzir é as bonecas” contou.

Com um sorriso no rosto, brilho nos olhos, e demostrando muito amor pelo que faz, ela disse que pretende seguir no artesanato até o dia em que Deus permitir. “Até quando Deus permitir vou seguir no artesanato, não me vejo mais sem fazer (risos). Faço máscara, lençol, almofada, e faço tudo por amor. E minha paixão mesmo é as bonecas de pano. Elas, dependendo do tamanho, eu faço uma por dia”.

A artesã disse que o trabalho artesanal é apoiado na cidade e que com a fundação da associação, as coisas avançaram ainda mais. “A fundação dessa associação foi muito importante, desde então a gente segue lutando pelo nosso trabalho. Já somos convidados para participar de feiras fora, o que ajuda bastante a divulgar o artesanato de Ipiranga. E na cidade temos apoio ao nosso trabalho. No tempo do buriti acontece a semana do artesão. Em 2020 e esse ano a gente não fez por causa da pandemia, mas quando acontece vem muita gente daqui e de fora também. É um evento muito importante, com uma semana de atividades” concluiu.

Produção na pandemia

No ano de 2020, em meio a pandemia do Novo Coronavírus, a associação também começou a desenvolver uma importante ação. Percebendo que a máscara, importante item voltado a prevenção contra a disseminação do vírus, estava em falta nos estabelecimentos da cidade, surgiu a iniciativa de produzir a peça.

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A produção iniciou de maneira mais tímida, com poucas unidades, que foram doadas a pessoas residentes no interior, em especial idosos, mas depois, o trabalho tomou uma proporção maior, e a associação passou a fornecer as máscaras e também aventais, para as secretarias de Saúde da Região do Vale do Sambito, principalmente de Ipiranga e municípios vizinhos. A produção feita pela Assaripi chegou a alcançar a marca de 500 máscaras por dia.

As doações produzidas pelas artesãs piauienses também foram entregues ao Hospital Regional de Picos, que contribuiu com o material. Além de 300 máscaras, foram confeccionadas toucas.

Através de ações do PVSA e das mulheres que formam a Assaripi, com a confecção de máscaras para serem utilizadas na prevenção à Covid-19, a entidade ganhou maior visibilidade, o que resultou em um número maior de apoiadores na ação contra o coronavírus.


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