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Conclusão de inquérito da morte de Eduardo é ‘aberração’, diz Anisitia

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A Anistia Internacional afirmou nesta terça-feira (3) que a conclusão do inquérito sobre o assassinato do menino Eduardo de Jesus é uma aberração. Além disso, a instituição repudiou o resultado apresentado pela Polícia Civil sobre a morte que aconteceu no dia dois de abril no Conjunto de Favelas do Alemão, Zona Norte do Rio.

Entrevista com José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, que morreu ontem após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo)

José Maria de Sousa e Terezinha de Jesus, pais do
menino Eduardo (Foto: Fábio Gonçalves/Agência O
Dia/Estadão Conteúdo)

“É uma verdadeira aberração. Este fato reitera a percepção de que as favelas são vistas e tratadas como territórios de exceção e que qualquer morte provocada pela polícia pode ser legitimada pelo sistema jurídico”, analisa Atila Roque, Diretor Executivo da Anistia Internacional.

A Divisão de Homicídios considerou legítima a ação dos policiais militares que atingiram a criança com um tiro na cabeça. Segundo a polícia, os policiais estariam em confronto com traficantes e erraram o tiro. Eduardo estava a cinco metros de distância do policial que realizou o disparo.

A Anistia Internacional afirmou também que apurou as circuntâncias do episódio e disse que no momento em que Eduardo foi morto não havia confronto ou troca de tiros. Eduardo estava sentado na frente de casa, esperando a irmã e brincava com o celular quando foi atingido. Os policiais militares ainda tentaram modificar a cena do crime, retirando o corpo, o que só não ocorreu por mobilização da família e vizinhos.

A Anistia Internacional disse que espera que o Ministério Público rejeite a conclusão equivocada do inquérito e que os autores do homicídio sejam responsabilizados.

Família está “inconformada”
O defensor público Fábio Amado, representante da família do menino Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, morto no dia 2 de abril na localidade conhecida como Areal, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, refuta o resultado do inquérito entregue ao Ministério Público (MP). A investigação da Divisão de Homicídios afirmou que os PMs que atingiram a criança agiram em legítima defesa ao tentarem se defender de traficantes. Ninguém foi indiciado.

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“A família já havia sido informada previamente sobre o resultado do inquérito e ficou bastante inconformada”, disse Amado. Não se conformam. Não é admissível que um crime como esse permaneça sem a identificação do autor e sem uma resposta que possa gerar efetivamente um sentimento de justiça.”

O defensor contesta a versão de legítima defesa. “Em tese, a legítima defesa exclui a ilicitude do fato. Mas nesse inquérito há depoimentos divergentes. A narrativa sustentada desde o início pela família é a de que não havia traficantes na área. E, ainda que tivesse, não se espera que um agente do estado dispare e cometa essa ilegalidade”, afirmou o promotor.

Fábio Amado espera que o MP denuncie o caso como homicídio doloso.

“Precisamos aguardar a manifestação do Ministério Público, que pode solicitar novas diligências no local e pode, inclusive, denunciar, porque ele não está restrito à conclusão do inquérito policial”, esclareceu Fabio Amado.

Para ele, a denúncia como homicídio doloso permite que o direito à defesa dos policiais militares seja preservado, pois eles poderiam se defender em juízo.

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“Caso os PMs sejam denunciados, eles vão poder apresentar, em juízo, as suas provas para sustentar a tese de legítima defesa”, concluiu o promotor.

Laudo mostra a dinâmica da morte de Eduardo no Alemão (Foto: Cristina Boeckel / G1)

Laudo mostra que tiro que matou Eduardo foi disparado a 5 metros (Foto: Cristina Boeckel / G1)

 

Indenização
A doméstica Terezinha Maria de Jesus, 36 anos, mãe da criança, voltou para o Piauí, sua terra natal, em julho. Ela desembarcou no estado com duas filhas, um neto, e o genro.

Os pais do garoto estiveram no estado para o enterro de Eduardo, mas retornaram ao Rio para acompanhar as investigações da morte e participar da reconstituição do crime, que foi feita pela Divisão de Homicídios (DH). Porém, desde a morte, Terezinha havia manifestado vontade de voltar a viver no Piauí.

Em junho, afirmou ao G1 que o estado do RJ pagou a indenização prometida à família. Os valores não foram divulgados.

O crime
Eduardo de Jesus Ferreira foi baleado na porta de sua casa e morreu no fim da tarde do dia 2 de abril deste ano. Terezinha diz ter certeza de que um policial fez o disparo.

“Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’”, contou.

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Os policiais que participaram da operação que culminou com a morte do menino foram afastados das ruas.

Segundo o laudo da perícia, a criança foi atingida por uma bala de “alta energia cinética”, possivelmente disparada de um fuzil. Na ocasião, policiais militares tinham sido atacados por suspeitos e estavam revidando a agressão numa área de mata, conhecida como Areal.

 

G1

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