Influência do El Niño pode elevar ainda mais a temperatura no Piauí

A situação climática no Nordeste e região central do país pode se complicar nos próximos meses. O Piauí, por exemplo, já registrou 41º e nada garante que o estado não tenha temperaturas que ultrapassem esta até o final do ano. As temperaturas altas são decorrência do fenômeno climático El Niño que neste ano tem características semelhantes ao ocorrido em 1997, o mais intenso desde 1983.

O El Niño é um fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico que redunda em chuvas no Sul do país e em tempo seco nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e parte da Norte. Nas últimas décadas os mais intensos ocorreram em 1950, 1983, 1997 e agora, o que acontece desde o ano passado.

Todo ano, há o aquecimento das águas do Pacífico. De acordo com a meteorologista Sônia Feitosa, quando a temperatura chega a 0,5º, acima da média, isso caracteriza-se como o El Niño. Com essa temperatura, ele é considerado um El Niño neutro. “Ele pode recuar ou pode se dissipar sem trazer grandes consequências. No entanto, o que ocorre agora passou alguns meses com 0,5º, com 0,6º. Depois subiu para 1,5º. Em 2015, ele já começou assim, acima da média. A temperatura das águas já estão acima de 30º. Chegou a 2º que é considerado de moderado a forte. Em alguns pontos do Pacífico, já chega a 4º”, explicou.

Um vídeo criado pela NOAA, a agência dos Estados Unidos que estuda os oceanos e a atmosfera, mostra a semelhança entre os eventos de 1997 e 2015. O vídeo mostra a anomalia de temperatura nos dois anos. A cor vermelha ou amarela apontam para um nível mais elevado da temperatura do mar naquele dia. Em alguns momentos, as imagens dos dois anos são quase idênticas. Naquele ano, o El Niño desestruturou todo o sistema climático do planeta, com enchentes, terremotos, furacões e secas em diferentes países.

A diferença do fenômeno deste ano e o de 1997 é que o deste ano abrange uma área menor. Contudo, essa área pode aumentar. E é isso o que preocupa a meteorologista (veja a imagem).

A área amarela (El Niño) corresponde à área aquecida do Pacífico. Os pontos vermelhos são os que têm temperaturas mais altas, com 4º

Consequências

O resultado é a redução do nível dos reservatórios de água com a intensa evaporação sem a devida reposição, pois não há chuvas suficientes. A situação do Piauí é ainda mais sensível porque já vem sofrendo há, pelo menos, quatro anos um grave quadro crítico de estiagem. Segundo dados do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS), das 25 barragens acompanhadas pelo órgão, 14 estão com menos de 30% de sua capacidade – índice considerado “crítico” ou “muito crítico”. Há casos, como em Pio IX, que o nível de água do reservatório Cajazeiras já chegou a menos de 1%, indíce considerado crítico. “O mais agravante é que nossos reservatórios estão em um nível baixo. O semiárido, por exemplo, as barragens, os rios estão secando. E a tendência é aumentar a evaporação. A previsão aponta que para os próximos três meses as chuvas devam acontecer abaixo da média”, alertou.

Além disso, há o ressecamento da vegetação e até mesmo sua morte. “Com o aumento da temperatura, haverá o aumento dos focos de calor e, consequentemente, de queimadas. A maioria delas são provocadas pela ação humana, mas elas tomam maiores proporções quando a temperatura está mais elevada”, disse a meteorologia.

Foto: Adriano Sousa|Vooz

Meteorologista diz que situação deve se agravar pelos próximos meses com chuvas abaixo da média

Sônia ainda disse que embora não seja muito natural, mas não impossível, é preciso tomar cuidado com lixo e entulho porque alguns materiais, a partir de reações químicas, podem se tornar um foco de incêndio somente por causa da temperatura intensa. Ou quando, por exemplo, raios solares incidem no vidro e não há muita refração, aquilo pode se tornar um foco de calor e um possível incêndio.

A saúde das pessoas também é afetada: problemas respiratórios, dermatológicos (ressecamento da pele e até queimaduras), auditivos e auriculares são mais comuns nesta época.

Agricultura familiar – “As consequências são ruins para todo mundo, mas não é igual porque quem possui um poder aquisitivo maior, tem como enfrentar a situação climática. É diferente do pequeno produtor que não tem como reverter prejuízos. O grande produtor está sempre de olho nas previsões e tem equipamentos, pode substituir culturas de imediato, além de outros meios de enfrentamento deste período”.

 

Vooz