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Desníveis gigantes entre a pista e o acostamento transformam BR-135 em ‘rodovia da morte’ no Piauí; 43 pessoas morreram em 2017
Dessníveis gigantes entre a pista e o acostamento transformaram o trecho da BR-135 no Piauí em uma “rodovia da morte”: 43 pessoas perderam a vida ali em 2017, número maior do que a soma das 38 mortes dos dois anos anteriores –22 em 2015 e 16 em 2016.
Segundo dados da PRF, 30 dos 55 acidentes ocorridos na via até o final de junho, ou 54% do total, tinham como causa os desníveis. Entre as rodovias federais de todo o país, foi a única a ter defeito na via como principal responsável por acidentes.
Provocados por sucessivos recapeamentos ou por erosão, os desníveis chegam a até 35 centímetros, o equivalente a quase dois degraus de escada, segundo inspeção da Polícia Rodoviária Federal em março deste ano. Isso acontece porque os reparos adicionam camadas ao asfalto, mas não elevam as margens da via.
Os degraus são pelo menos sete vezes maior que o tolerável, de acordo com a PRF: o limite para rodovias com velocidade de 60 km/h é de cinco centímetros; quando a velocidade sobe para 100 km/h, o desnível tolerado é de 2,5 centímetros. Desníveis acima disso “representam perigo e devem ser corrigidos”, ainda segundo o relatório. No Piauí, a rodovia federal tem 642,2 quilômetros e vai da divisa com o Maranhão à divisa com a Bahia. A velocidade máxima varia de 60 km/h a 100 km/h.
Diante dos degraus gigantes, continua a PRF, o risco é de tombamento ou perda de controle da direção quando um veículo sai para o acostamento e tenta voltar de modo abrupto.
Piores acidentes
Os dois piores acidentes no ano no trecho piauiense da BR-135 tiveram por trás justamente os desníveis. Em junho, um ônibus de turismo capotou na zona rural de Monte Alegre do Piauí após sair da pista –em um degrau de 20 centímetros entre a pista e o acostamento: das 30 pessoas a bordo, nove morreram e 18 se feriram.
Entre as vítimas do acidente está a aposentada Antonia Vieira de Souza, de 77 anos. Ela estava sentada no fundo do ônibus, junto com o marido e a sobrinha. No capotamento, um pedaço de guard-rail entrou no ônibus e a atingiu. Outras pessoas morreram ao serem atingidas pelo próprio veículo, jogadas para fora durante o capotamento, disse o filho dela, Valdo Souza, 43 anos. O marido de Antonia perdeu um pedaço do braço e a sobrinha fraturou a perna.
“O ônibus saiu para o acostamento, pegou um desnível e tombou. Era uma curva fechada. É muito doloroso”, disse Valdo.
A família recebeu assistência da empresa e agora ele aguarda por indenização, enquanto avalia se vai à Justiça buscar reparação, disse.
Três meses antes, em fevereiro, quatro pessoas (pai, mãe e duas crianças, de 9 e de 13 anos) morreram carbonizadas depois que o carro em que estavam bateu num caminhão-tanque na altura de Cristalândia, um dos trechos críticos da BR-135 no Piauí. Havia um desnível de 23 centímetros entre a pista e o acostamento, constatou a PRF.
Outro problema é a largura da pista, de no máximo 5,80, bem abaixo dos 7 metros recomendados para uma rodovia do porte da BR-135. A rodovia, de pista simples, recebe cerca de 1.100 veículos por dia, segundo o relatório da PRF.
Caminhoneiros sofrem e têm prejuízos com desnível
A BR-135 é um dos principais trechos para o escoamento da produção agrícola dos cerrados piauienses. Em geral, os caminhoneiros reclamam das dificuldades em trafegar pelo trecho e muitos já perderam cargas inteiras nos tombamentos registrados na rodovia.
“Eu passo muito por essa rodovia. Sempre tem dificuldades com caminhões tombados. Eu moro em Teresina e faço uma rota no sentido de Brasília, passando ali umas duas vezes por semana no trecho”, disse o caminhoneiro Rorisvaldo Carvalho.
Rorisvaldo contou que já presenciou diversos acidentes relacionados a tombamentos na rodovia, em geral causados por causa do desnível entre a pista e o acostamento. No dia em que conversou com o G1, lembrou que houve um tombamento próximo a cidade de Redenção do Gurguéia e que já viu muitas vítimas no trecho.
“A gente vê a dificuldade é grande para a gente que é caminhoneiro. O trecho não é propício para esse tipo de transporte, mas, com a graça de Deus, vamos passando. Todo dia tem acidente e caminhão tombado.”
R$ 200 milhões aplicados desde 2012
O superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) no Piauí, Paulo de Tarso Cronemberger Mendes, reconhece uma piora em relação ao desnível da pista. “Na realidade ela está piorando porque está em curso um pavimento em que é recuperada toda a parte de pista e isso tem implicado alguns trechos com desnível acentuado entre a pista e o acostamento”, disse.
Paulo de Tarso explicou que o desnível está ligado aos recapeamentos da rodovia em alguns trechos. “Tem relação porque foram colocadas várias camadas ao longo do tempo onde não tinham e houve alguma erosão. Mas, não é ao longo de toda a extensão da rodovia. Tem trechos que chega a atingir os 30 centímetros, mas tem locais que tem 5 ou 8 cm”, relatou acrescentando que o recapeamento obedece a projeto de recuperação da rodovia, datado de 2012.
Nos últimos 5 anos foram investidos R$ 200 milhões no trecho da BR-135 que passa pelo Piauí, segundo o Dnit, ligado ao Ministério dos Transportes. O superintendente Paulo de Tarso disse que a rodovia tem 350 km que precisam de recuperação, como o alargamento da plataforma. O Dnit fez uma prorrogação do contrato atual por mais um ano para ter aplicar recursos de imediato no alargamento.
“É um aditivo contratual para poder usar já de imediato nessa fase. Ao longo de 2018 imaginamos que o trecho entre Elizeu Martins e Bom Jesus vai estar com a plataforma padrão BR”, afirmou.
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