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Limpeza pública: uma questão de conscientização

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Um dos maiores entraves de qualquer gestão municipal tem sido a questão da limpeza pública. Por mais que se tomem medidas para evitar a sujeira pelas ruas, ela continua. E aí persiste um questionamento: a quem pertence, de fato, a responsabilidade por tal problemática?

Coletas diárias, seletiva, panfletagem, e palestras são algumas das medidas que qualquer gestor municipal deve sempre manter ativas. Em contrapartida, entra em cena um segundo personagem que, muitas vezes, para não dizer que na maioria, não tem contribuído para um bom desenvolvimento dessa limpeza: o cidadão.

É muito comum, ao andar pelas ruas de Picos, encontrar embalagens de bombons e biscoitos, “bitucas” de cigarro, garrafas de sucos ou refrigerantes, papéis, enfim, inúmeras outras coisas que são deixadas pelas vias, aumentando a poluição. E a quem devemos remeter a responsabilidade de tal ato? É da Prefeitura que não fica de plantão 24h, esperando que o cidadão jogue o lixo e ele possa ir recolher? Ou do cidadão que sabe o seu dever, entende o transtorno que causa a poluição, mas, mesmo assim, continua deliberadamente com a prática?

A Secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Picos, Maria Santana, apontou para essa questão a possibilidade de não pertencimento de muitas pessoas para com a cidade. Ela acredita ser esse o real motivo de muitas das ruas do Centro estarem permanentemente poluídas.

Maria Santana, Secretária de Meio Ambiente

“Eu não sei se é porque em Picos é uma cidade com grande número de transeuntes, aonde as pessoas vêm diariamente a Picos – e sabemos que isso é muito importante para nossa cidade porque faz a nossa economia movimentar – e não têm aquele pertencimento da cidade, não sintam que fazem parte daqui e isso contribua para que, principalmente no centro da cidade, a parte da limpeza não seja tão cuidada por parte dessas pessoas. Mas sabemos também que o próprio picoense não costuma jogar o lixo no horário adequado”, comentou.

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Tentativas em vão
Uma das comunidades que mais sofre por conta da falta de conscientização de algumas pessoas é a que reside nas ruas Alto do Morro – mais conhecida por Morro da Mariana – e Frei Ibiapina, assim como a Travessa Joaquim da Luz. Essa faz parte da área central do município, ficando bem próxima da Avenida Getúlio Vargas e Praça Félix Pacheco.

Há muitos anos a comunidade sofre com a falta de higiene por conta dos lixos que são jogados, literalmente, no meio da rua. Mesmo havendo a coleta quatro vezes por semana, nos turnos da manhã e noite, o que totaliza a passagem do carro coletor em sete vezes – pois no domingo só passa uma vez, é comum encontrar lixo espalhado todo o tempo. E por que isso acontece? Segundo a secretária do lar Clarice Sousa, as pessoas que residem no trecho, em sua maioria, não respeitam o horário da coleta.

“Como você pode ver aí, começou a ter lixo. São oito da manhã e o carro passou não está nem com duas horas. O povo dessa rua é muito mal educado. Sempre deixam para jogar assim que o carro passa. É incrível de se dizer, mas já vi gente colocando lixo cinco minutos depois de o carro coletor ter passado. Parece até que esperam ele passar para virem jogar. É a impressão que a gente tem”, disse ela.

Questionada sobre a ação do poder público em relação à coleta, e se o mesmo deixa a desejar, ela comenta que sempre há coleta nos dias e horários já pré-estabelecidos pela Prefeitura, mas a população não respeita. Ela disse ainda que é preciso que o poder público encontre uma alternativa para sanar o problema.

Realização de coleta de lixo

“Faça chuva ou faça sol, eles sempre vêm coletar o lixo. O problema daqui são as pessoas mesmo. Trabalho nesta casa há mais de quatro anos e o problema sempre existiu. Já colocaram uns tambores menores, aí soube que roubaram. Depois colocaram aqueles contêineres, mas depois retiraram. Mas, mesmo com essas alternativas, as pessoas jogavam o lixo no chão. É preciso que a prefeitura estude uma maneira de mudar isso aqui”, apelou.

A secretária do lar ressaltou ainda os diversos problemas, principalmente para a saúde, que são acarretados por conta do lixo espalhado na rua.

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“Um transtorno enorme, que pelo menos eu sofro, é com a quantidade de moscas e baratas que esse lixo acumula e elas acabam vindo para as casas. Até ratos já apareceram por aqui. Tenho que estar atenta o tempo todo com a casa, procurando sempre eliminar esses insetos. Por isso parto para o uso de venenos, mas isso também não é 100% seguro e eficaz. Além de que existe o fato de que trabalho para uma idosa. Então o cuidado redobra. As pessoas não têm a consciência de que o que elas fazem traz prejuízos. Quantas e quantas as pessoas que transitam por aí levam quedas? E isso a pé e, principalmente, de moto. A gente vê isso com frequência demais. E o motivo? Por conta do lixo espalhado, o que é de comida se transforma em chorume e deixa escorregadio. As pessoas jogam, aí vêm os gatos, cachorros e urubus e rasgam as sacolas à procura de algo. Aí fica espalhado. A gente até tenta juntar esse lixo quase todos os dias, mas não adianta. E não tem adiantado nem o trabalho do poder público, pois o que é feito, o povo desfaz”, afirmou.

A dona de casa Nazaré, mora na rua Frei Ibiapina há mais de 10 anos. Ela corroborou a fala de Clarice ao afirmar que a população tem uma grande parcela de culpa na falta de limpeza das ruas.

“Antigamente aqui tinha um contêiner, mas a gente reclamou para a prefeitura porque o povo estava usando ele para jogar animais mortos. Então isso aqui ficava um fedor enorme. Então eles tiraram e ficou assim, como se pode ver, nessa situação ruim. A vantagem dos contêineres era porque os animais não alcançavam para rasgar as sacolas e espalhar o lixo. Mas grande parte desse problema é da população, porque se jogasse no horário certo, isso diminuiria. Eles vieram hoje pela manhã e deixaram tudo limpo. Mas depois de oito da manhã isso aí vai estar cheio de lixo. Se o carro vem buscar cedo, o que custa vir deixar às cinco da manhã? Mas insistem em colocar depois que ele passa, e fica o dia todo, porque o carro só retorna à noite”, disse ela.

Limpeza é uma via de mão dupla
O servidor público, Seu Pedro, trabalha como gari no município de Picos. Segundo ele, há uma desvalorização do trabalho feito por eles por parte da população, que não contribui com a limpeza do município.

“A verdade é que estamos passando por aqui, limpando, mas as pessoas insistem em colocar o lixo em sacolas abertas. Elas não se preocupam em amarrar as sacolas. Jogam no chão, muitas vezes, por estar com a sacola aberta, acaba atraindo animais que espalham ainda mais. E isso demonstra o quanto nosso serviço é desvalorizado, porque se eles dessem valor, não fariam algo assim”, afirmou.

Em busca de alternativas
O Secretário de Serviços Públicos, Aírton Carvalho, disse ter ciência do problema que acomete não apenas essa comunidade, mas alguns outros trechos da cidade. Segundo ele, o trabalho tem sido feito, é preciso apenas que as pessoas abracem a causa na busca de um espaço limpo e bom para se viver.

Aírton Carvalho, Secretário de Serviços Públicos

“Infelizmente em nossa cidade há esses pontos críticos de lixo que a gente tenta combater todos os dias. O que tem que acontecer é uma conscientização. Uma parte da população tem que se conscientizar com relação ao lixo. A coleta é feita três vezes por semana. Então falta a conscientização de uma parte da população para nos ajudar a termos uma cidade limpa e um ambiente melhor para se conviver”, declarou.

Ele ainda comentou que métodos estão sendo procurados e estudados para serem implantados nesses locais, a fim de que o problema seja sanado. A prefeitura iniciou o trabalho de coleta seletiva que, além de diminuir a carga de lixo de vai para o aterro sanitário, ainda gera empregos com a reciclagem.

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Coletores de lixo seletivo instalados pela cidade

A geração de vigilância e multas também são algumas das alternativas que estão em análise. Muitas vezes a consciência só vem quando passa pelo bolso. As pessoas necessitam entender que o bem é geral e a longo prazo, afetando as próximas gerações. Assim como o mal. Então que se plante o que é bom para que se colha bons frutos.

*Por Jaqueline de S. Figueredo C. Rajner

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