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“Vi criança gritar: minha mãe está morta”; sobrevivente relata momentos da tragédia na BR 135

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“Foi uma tragédia anunciada”. Assim resumiu o biomédico Wellyton Lira, em entrevista ao OitoMeia, por telefone, onde ele deu detalhes de como sobreviveu à tragédia que chocou o Piauí na madrugada desta segunda-feira (09/12) em um trecho da BR-135, na cidade de Bertolínia, no extremo Sul do Piauí.

Wellynton é uma das 34 das vítimas que sobreviveram ao grave acidente que aconteceu quando um ônibus da empresa Princesa do Sul, fazia a linha Teresina à Uruçuí, tombou e deixou duas pessoas mortas e mais 14 ficaram feridas. Wellyton estava sentado na poltrona 23, quando sentiu o primeiro impacto. A partir daí, tudo o que viu foi traumatizante.

Wellyton Lira disse ter visto uma das amigas de infância perder vida e uma criança chorar sob o corpo da própria mãe nos minutos que sucederam o desastre. Uma das várias imagens que ele gostaria de apagar da memória, mas que vão ficar para sempre, como prova de uma tragédia que, segundo ele e outras vítimas, já era esperada de que fosse acontecer.

“TRAGÉDIA ANUNCIADA”

O biomédico disse que pagou cerca de R$ 129 para embarcar na viagem. Ele mora em Teresina, onde estuda e trabalha, e há doze anos volta, regularmente, para visitar a sua família na terra natal, na cidade de Baixa Grande do Ribeiro, há cerca de 600km da capital. Durante todo este período, Wellyton afirma ter presenciado diversos acidentes, que, na sua visão, já denunciavam que tratava-se de uma “tragédia anunciada”. Ele fala em “descaso” da empresa Princesa do Sul. Culpa também o Poder Público por não sinalizar adequadamente a rodovia.

“Eu falei que foi uma tragédia anunciada porque eu já faço essa viagem há 12 anos. Já aconteceram outros acidentes de pequeno porte com esse ônibus. Esse trajeto dura umas 20h e não há troca de motoristas. Os ônibus que são designados para cá não tem manutenção alguma. Uma vez o pneu de um saltou e a pista. As pistas também não têm sinalização. Temos uma ladeira com 5 km de inclinação sem placa de sinalização”, relatou em entrevista ao OitoMeia. No seu perfil no Facebook ele fez um desabafo:

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“MINHA MÃE MORREU. VOU MORRER TAMBÉM”

Wellyton Lira disse ainda que grande parte das pessoas que estavam no ônibus havia embarcado na viagem em busca de tratamento médico em Teresina. Outra parte era formada por estudantes e trabalhadores que costumam ir e voltar das cidades do Sul do Piauí para a capital. Ele disse que foi um dos primeiros a conseguir sair do veículo após o acidente e, portanto, acompanhou de perto o resgate dos outros passageiros, inclusive daqueles que tiveram a vida ceifada. As duas vítimas foram identificadas como Flávia Barros Amorim e Evani Carvalho Ribeiro e Sousa. Elas eram servidoras públicas da secretaria municipal de Saúde e Social da cidade de Ribeiro Gonçalves.

“Eu perdi uma amiga naquele acidente. Ela era psicóloga, nós fazíamos aquele trajeto juntos há muitos anos. Era uma pessoa muito boa. Eu vi todo o sofrimento de quem veio a óbito. Uma criança presa nas ferragens gritava socorro e dizia ‘minha mãe está morta, em cima de mim. Eu vou morrer também’. Tudo isso foi um descaso da empresa. Algo já premeditado pelo esquecimento”.

Criança ficou presa nas ferragens junto do corpo da mãe e pedindo por socorro (Foto: Reprodução)

MOTORISTA TERIA DORMIDO AO VOLANTE

O biomédico conta que viu o momento em que o acidente aconteceu porque havia acordado para ir ao banheiro que existe dentro do veículo. Ele discorda da versão divulgada pela empresa, através do chefe de Transporte da Princesa do Sul, Ribamar Neves, de que o ônibus capotou porque talvez o motorista tenha tentado desviar de uma carreta no sentido contrário. Para o passageiro sobrevivente, o motorista dormiu ao volante.

“Eles dizem que haviam dois motoristas revezando, mas isso é mentira. Havia um motorista e um cobrador. E isso é recorrente. Nessa viagem de quase um dia os motoristas fazem uma pausa de 40 minutos para descansar. Eu já vi motorista até tomando remédio para ficar acordado. Não havia nenhuma carreta perto o bastante para que ele fizesse esse desvio. Eu acredito que o motorista dormiu (e isso teria provocado a tragédia)”.

Biomédico Wellyton Lira, sobrevivente à tragédia, relatou momentos de terror (Foto: Reprodução/ Facebook)

BR-135: RODOVIA DA MORTE

A Polícia Rodoviária Federal informou que quando chegou ao local deste acidente com o ônibus da empresa Princesa do Sul, que fazia linha Teresina/Uruçuí, o motorista já havia fugido. Os agentes afirmam ainda estar fazendo um levantamento do que ocorreu e que ainda é muito cedo para determinar quais as motivações do acidente.

Segundo dados divulgados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), ao menos 19 pessoas morreram em acidentes na BR-135, conhecida como “rodovia da morte”, de janeiro a junho de 2019. A PRF-PI registrou 27 acidentes e 28 pessoas ficaram feridas até o dia 28 de junho. A rodovia ganhou destaque nacional pelos constantes acidentes com vítimas fatais. Entre as principais reclamações dos condutores, está a falta de acostamento, as curvas perigosas e a via estreita, mesmo com o tráfego intenso de caminhões. A PRF também aponta a  falta de sinalização em diversos trechos.

Só em 2017, mais de 40 pessoas morreram em colisões na BR-135. Em 2018, foram 41 acidentes, 29 feridos e 28 mortos. Com os investimentos e obras de ampliação, o desejo dos piauienses é que esses dados sejam um retrato do passado. A “rodovia da morte” há muito é alvo de reclamações e a demora por obras na estrada tem provocado revolta de moradores da região Sul do estado.

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Acidentes, tragédias e mortes: há muito tempo são comuns nesta rodovia BR 135 no Piauí (Fotos: Reprodução)Fonte: Oito Meia
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