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ARTIGO DE OPINIÃO | Quem salva a UESPI? A frustração, a luta e a esperança!

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em

*Por João Pedro Nunes – estudante de Jornalismo da Uespi de Picos

A Universidade Estadual do Piauí foi estabelecida em 1984, a partir da criação da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Educação no Estado do Piauí. No início dos anos 90 foi elevada à universidade e também expandiu suas atividades para muitas cidades, além de suas fronteiras. E assim começa a longa e árdua luta da UESPI para se manter.

Estudar na UESPI é um tremendo desafio, isso porque por aqui presenciamos vários problemas, desde o básico, que é o direito a professores efetivos previsto no regimento interno da universidade, até os mais complexos, como o abandono e o sucateamento por parte do governo do Estado.

Convivemos com vários tipos de omissões, que seguem dos estudantes, os quais não conseguem ter o mínimo de consciência de classe, a alguns professores, que abominam o movimento sindical e grevista. Para estes, o que vale é o salário na conta. O individualismo que cresce a cada dia em uma sociedade que fecha os olhos quando direitos são retirados, até o mais alto escalão administrativo da instituição, é responsável pelo desmonte que ocorre na referida instituição.

Simone Beauvoir, escritora francesa, relata no livro ‘Segundo sexo’ que o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos. Esse trecho enfatiza uma realidade que, infelizmente, está se tornando comum em movimentos sociais, sindicais e estudantis, onde indivíduos abandonam a própria classe em troca de regalias e favores que os corrompem.

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Me sinto desassistido como estudante, assim como outros com quem me encontro nos corredores, onde podemos trocar informações e dividir nossas frustações com os problemas que nossa universidade vem passando.

Mas, como nada pode ser generalizado, quero exaltar a luta de alguns professores que, assim como todo trabalhador, é digno de um salário justo e de condições de trabalho mais humanas. Porque professor é sinônimo de resistência. Os mesmos são tratados como lixo na gestão do atual governador Wellington Dias, onde o mesmo afirmou em várias entrevistas que não concederia reajuste à categoria, apoiando-se na Lei de Responsabilidade Fiscal, para então maquiar o desmonte da educação superior no Estado.

Professores sem reajuste há cinco anos, vários deles lutando por uma ampliação de carga horária para poderem cumprir com suas obrigações acadêmicas, e assim exercerem o papel de disseminador de senso crítico e formador de opinião. Será isso que tanto o governo tem medo?

Certa vez, em um cartaz, vi a seguinte frase: “O governo não dá educação porque a educação derruba o governo”. E isso de fato é uma verdade que permeia como um paradoxo no meio social.

É na UESPI, onde há todo esse ataque aos professores, que conseguimos dados positivos quanto ao censo da educação superior de 2018, divulgado pelo Ministério da Educação. É também nesta universidade tão sucateada que temos a maior representatividade de professores negros e pardos do país.

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Há cerca de 500 disciplinas inativas por falta de quem as lecione nos campi da instituição, segundo o sindicato. Na cidade de Oeiras, primeira capital do Estado e berço cultural da região, pode-se observar uma estrutura completamente abandonada e a não conclusão do novo campus que se arrasta por anos, sem prazo para término. Em Picos, o desmonte continua. Um campus aparentemente novo, mas que já apresenta vários problemas como a falta de salas de aula para comportar todas as graduações, laboratórios equipados, transportes acadêmicos abandonados, cursos sem professores e a desinformação que preocupa, porque indivíduos desinformados e sem comunicação são as melhores cabeças para os governantes. Já dizia o velho guerreiro José Abelardo Barbosa, “O Chacrinha”: “Quem não se comunica, se trumbica”.

Na UESPI não existe política de assistência estudantil sólida que atenda a nós, estudantes de classe baixa, por isso a evasão na nossa universidade é alta. Mas o que eu posso fazer como estudante? Baixar a cabeça? Desistir? Jamais! Porque só a luta muda a vida.

No final do ano passado, a Assembleia Legislativa do Piauí – ALEPI – votou o orçamento do Estado. Uma coisa um tanto curiosa e, ao mesmo tempo, revoltante, aconteceu: o orçamento da UESPI caiu cerca de 6%. A universidade iniciou 2020 com 16 milhões a menos nos cofres da instituição.

Além disso, a UESPI não goza de autonomia financeira. Esse problema emperra várias ações que a universidade poderia realizar, mas não consegue devido aos entraves burocráticos.

O Governo do Estado comete um crime rasgando a Constituição Estadual que, no artigo 228, diz: “As universidades gozam de autonomia didático-científica e administrativa, incluída a gestão financeira e patrimonial, observado o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.

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“Quem sabe faz a hora não espera acontecer”. É com esse trecho da música do Geraldo Vandré que inicio minha fala à classe estudantil. Podemos ter discordâncias ideológicas, mas o que nos une é a vontade de lutar por uma universidade pública e de qualidade, porque somos um só nesse momento que o desmonte avança rapidamente para uma privatização do ensino superior no Piauí e no Brasil e é de suma importância a resistência estudantil organizada por meios de espaços como Centros Acadêmicos (Cas), DCE (Diretório Central Estudantil) e associações atléticas. Porque palavras podem até convencer, mas o exemplo arrasta.

A classe estudantil não deve fugir à luta. É preciso espalhar o ideal de que outra UESPI é possível, que outro mundo é possível, com a força da coletividade.

Portanto, para que a educação seja priorizada, é necessária uma revolução desde a base até o ensino superior, com investimentos massivos e liberdade pedagógica para os educadores, criação de um plano de assistência estudantil que vise contemplar desde a moradia estudantil a bolsas de iniciação à pesquisa e à extensão, restaurantes universitários em todos os campus para dar assistência alimentar aos estudantes de baixa renda e a criação de um novo concurso público para professores efetivos e convocação dos docentes aprovados no último concurso da instituição.

Finalizo com um pequeno trecho de um poema do escritor russo Vladimir Maiakóvski, ‘A sierguéi iessiênin’: “É preciso arrancar alegria ao futuro”.

 

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