Conheça a fascinante história de Dona Francisca, ex-gari que alimenta e vive rodeada de cães nas ruas de Picos

A frase Melhor amigo do homem! é muito usada e bastante comum para descrever que os cães – cachorros – domésticos possuem relações íntimas, de lealdade, amizade e companheirismo com humanos, independente de cor, classe social, ou crenças. Isso pode ser notado diariamente nos grandes centros e em comunidades mais distantes da urbe.

Dona Francisca Ferreira Barbosa, de 69 anos, mora na rua Nossa Senhora dos Milagres, no bairro Malvinas, em Picos, Centro Sul do Piauí, distante 310 quilômetros de Teresina. Bastante humilde, mas rica de muito amor pelos animais, ela percorre as ruas da cidade sempre acompanhada. Ela tem 12 cães e diz que ama os bichinhos.

Para alimentar os animais ela conta com apoio de pessoas e revelou que há cerca de três anos, a Dona Remedinha ajuda todos os meses com ração. Mas antes disso, Francisca andava pelas ruas pedindo que as pessoas colocassem um ponto na sua rifa para arrecadar recursos e comprar a alimentação dos cães.

“Eu conheci Dona Remedinha, ela colocando um ponto na minha rifa”.

Além de Remedinha que ajuda muito com a ração, Francisca revela que mais pessoas também colaboram nos cuidados quando há necessidade de medicar os cães. Entre os doze, Francisca disse que ainda tem quatro cadelas paridas e está a procura de pessoas que se interessem em criar os filhotes, mas que realmente tenham o que ela tem no coração: o amor.

Francisca e sua família vieram de Santa Cruz do Piauí para Picos há vários anos. Seu pai é falecido há muito tempo e sua mãe também já não está mais nesse plano terreno há aproximadamente cinco anos.

A ligação entre o cão e ser humano

Francisca sofre de artrose na perna esquerda. Ela contou que uma certa vez que precisou ir ao hospital para um procedimento cirúrgico, um tratamento de outro problema, um de seus cães ficava uivando dentro de casa com saudade.

Branquinha e Branquinho, Toquinha, Susinha e Piauizim, são alguns nomes dados aos seus animais.

“Branquinho dorme é perto ‘deu’. Eu não deixo ele dormir longe. Eu gosto das outras, só que mais é ele, o mais companheiro. Eu estiro um pano no chão e ele deita”.

Do amor à perversidade

Os animais nem sempre são bem vistos pelas pessoas. Dona Francisca disse que já sofreu perseguição. Por algumas vezes tentaram e conseguiram matar alguns de seus cachorros. Um de seus cães teve as orelhas perfuradas pela ação humana. “Bem magrinho, mas escapou”.

Ela contou que ao longo do tempo já morreram 5 ou 6 cães. Em um dos casos uma cadela foi morta após três dias de parida vítima da perversidade do homem, mas sob seus cuidados os filhotes se criaram.

“[…] Ficaram com os olhinhos fechados procurando a mãe. Dei leite na mamadeira e criou ‘tudim’. Eu adotei os bichinhos”.

Sem revelar o nome, Francisca disse que depois da cachorrinha, ele matou mais dois cachorros. “Ele é perverso. Ele fazia era correr sorrindo e eu ficava chorando”.

É possível encontrar Dona Francisca rodeada de cães com frequência pelas ruas de Picos. Ela gosta sempre de ir até a praça Josino Ferreira, no Centro, ao final da tarde para início da noite. Na maioria das vezes sempre está acompanhada de seus fiéis escudeiros.

Hoje tem sua renda mensal apenas da aposentadoria, mas lembrou da época que trabalhou na limpeza das ruas picoenses como gari por vários anos e em diversas gestões de prefeitos.

Quando se fala em amor pelos animais, Dona Francisca sempre será lembrada e a cidade de Picos é referência. Não em sua totalidade, mas existem pessoas em diversas parte da cidade que, meio ao anonimato, dedicam seu amor aos pets. Cães e gatos são os mais vistos na região.

A Organização Não Governamental, Amigos Protetores dos Animais de Picos (APAPI), não mede esforços, e diariamente está engajada em prol da causa em diversos tipos de ações e atendimentos aos pets.

Na cidade em diversos pontos tanto pelo centro como em bairros é possível encontrar matilhas nas ruas.

Em 2016 foi aprovada na Câmara de Vereadores, a Lei da Castração Pública em Picos através dos esforços da APAPI.

A causa animal é muito defendida em municípios da região de Picos como em São Julião, Santo Antônio de Lisboa, Pio IX, entre outras. Organizações estão se mobilizando sempre, mesmo que de forma ainda tímida na defesa dos animais.

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