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Dia das Mães: Heroínas vestem jaleco

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Corria o longínquo ano de 2002 na ainda desconhecida São Raimundo Nonato e, a primeira imagem que tive dela, foi a de uma super-heroína. Ela estava dentro de um pequeno avião no aeroporto da cidade, uma simples pista com asfalto em péssimo estado de conservação. Como profissional da área da saúde, fazia o acompanhamento de uma paciente – minha esposa na época – que seria transferida via aérea para Teresina em consequência de um gravíssimo acidente. Aquela imagem que representava tanta coragem, dedicação e carinho nunca saiu da minha cabeça.

Mas, sinceramente, eu jamais imaginei que iria reencontrá-la. Como jornalista, fotógrafo e produtor cinematográfico, minha “casa” sempre foi o mundo, literalmente. Apesar disso, mesmo pernambucano de nascimento, filhote da metrópole Recife, sempre mantive um pé na distante São Raimundo Nonato, lugar de muitos amigos. Meu filho Renato, com 16 anos, mora na cidade. E foi exatamente como repórter que o destino me aproximou daquela heroína das minhas memórias.

Meados de 2019

Eu estava de pauta: a ideia seria fotografar uma mulher piauiense que tivesse conteúdo, uma bonita história de vida e, claro, uma beleza estonteante. Ela iria representar o Piauí fotografando em diferentes regiões do estado. Certo dia, a modelo escolhida para realizar os ensaios, me avisa: André, minha mãe quer participar do trabalho e disse que vai me acompanhar Piauí afora nas viagens. Eu, surpreso, disse: será um prazer ter a companhia dela!

Alguns dias depois planejamos uma viagem. O ensaio seria na colonial Oeiras, primeira capital do Piauí. E, como numa janela do passado, quem aparece ao lado da jovem modelo, cedinho da madrugada para nos acompanhar? Sim, era ela, a enfermeira heroína que 18 anos atrás tinha marcado profundamente a minha vida com o seu ato solidário e de muito profissionalismo. Não importava se o avião fosse um simples monomotor ou que a pista do aeroporto, na época, parecesse mais um queijo suíço, ela estava lá com a sua atitude, acima de tudo, humanitária.

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Foi uma emoção incrível. Acho que ela nem percebeu, mas chorei de alegria por aquela feliz coincidência. De tão emocionado que fiquei, quis lhe presentear de toda forma naquele instante e terminei lhe dando uma barra de chocolate suíço – já aberta e meio derretida – que tinha no carro. Agora, quase duas décadas depois, eu estava fotografando a sua filha, a também enfermeira Tatielly Castro, que além de doutora é modelo e digital influencer. Ela tinha sido escolhida pelo destino para representar a beleza feminina da mulher piauiense.

Em defesa da vida

São Raimundo Nonato é um dos municípios mais afetados percentualmente e em número de casos positivos para a Covid-19 no interior do Piauí. A cidade abriga o importante Parque Nacional da Serra da Capivara, que conserva pinturas rupestres declaradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Com 30 casos confirmados, os profissionais da saúde se preparam para socorrer a população de toda a microrregião que necessita de atendimento médico.

Nesse cenário se destaca a família de Luiza Amélia Teixeira de Castro Rosário, 52 anos, nossa mãe heroína que lidera um quarteto de mulheres jovens, bonitas e decididas a combater a pandemia no sertão. Técnica em enfermagem, ela trabalha no Hospital Senador Cândido Ferraz, a maior unidade médica do Sul e Sudeste piauiense. Sua história encantou as 3 filhas que, a exemplo da mãe, também seguiram carreira na área da saúde.

Luíza Rosário é matriarca de uma família que luta contra a Covid-19

A primogênita Thaísa Loanne Rosário, 30 anos, é assistente social. Apesar da beleza, meiguice e aparente fragilidade, é uma mulher guerreira. Lida diretamente com o drama de pacientes e familiares não só vítimas da Covid-19 mas no dia a dia do hospital regional com a complexidade de casos que envolve uma unidade médica dessa importância. Uma missão que exige fôlego, muito autocontrole, coragem e experiência. “Estamos na linha de frente, mas nem sempre o trabalho do assistente social é reconhecido”, lamenta.

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Thaísa Rosário é a primogênita e atua como assistente social

A segunda filha de nossa mãe heroína, a doutora Tatielly Lourranny Teixeira de Castro Rosário, 25 anos, mais conhecida como Taty Castro, é enfermeira por formação com várias especializações e modelo nas horas vagas, além de digital influencer 24 horas, 365 dias do ano. Considerada uma das mulheres mais bonitas do Piauí, em 2019, ela foi a ligação entre o passado e a mãe super-heroína das minhas lembranças. Trabalha numa Unidade Básica de Saúde (UBS) do município, presta serviços na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, sempre que necessário, no SAMU.

Tatielly Castro seguiu os passos da mãe e atua na área da saúde como enfermeira

A mais jovem das meninas, Thallyssa Davina Rosário, 23 anos, não fugiu do destino traçado pelo exemplo da mãe e seguiu carreira na área da saúde se formando em farmácia. Hoje, apesar da pouca idade, já é empreendedora e possuiu o seu próprio estabelecimento comercial onde atende como farmacêutica orientando os seus clientes como se proteger do novo coronavírus, entre outras enfermidades e indicando o tratamento e a medicação correta para os diferentes casos.

Thallyssa Rosário, a mais nova das filhas, é farmacêutica

Uma história de mulheres sertanejas empoderadas, independentes, fortes e determinadas a trabalhar dia e noite, se necessário, para ajudar a população, se dedicando nas últimas semanas quase que exclusivamente ao combate das complicações da Covid-19. E tudo fruto da história de uma mãe-heroína. Um exemplo de vida, um sopro de esperança e gratidão num momento tão sensível da vida em nosso planeta.

Gratidão e amizade 

Mas essa história não seria completa sem a homenagem as 7 mulheres, todas mães, da minha vida. A gratidão maior, certamente, é para dona Márcia Regina Cunha Pessoa, uma bióloga e advogada que me trouxe à vida e a qual amarei eternamente. Em seguida está a professora piauiense Shirley Macêdo Gonçalves, aquela paciente que estava no avião no começo desta reportagem e hoje, totalmente recuperada, é mãe dos meus filhos Walter Neto (in memorian) e Renato.

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A jornalista paulistana Simone Siman de Carvalho, mãe da minha filhota Nina, e a bióloga mineira Melissa Gogliath Silva, mãe da galega deliciosa, elétrica e popstar Valentina.

Outras três mulheres, minhas “mães” de coração e amizade, fecham esse tributo. Em São Paulo, tenho o carinho e a proteção de Céliah Nogueira; em São Raimundo Nonato o manto protetor da Tia Socorro Macêdo e, para finalizar, a mais jovem delas, a mãe-herói dessa história, nossa super-heroína, Luiza Rosário, que carinhosamente chamo de mainha. Feliz Dia das Mães para todas elas. Essa é a minha singela homenagem!

Fonte: Meio Norte / André Pessoa  (Especial Dia das Mães)

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