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GERAL

Reféns do filho: como (mal)vive a família de Gleisom, morto após envolvimento em barbárie em Castelo

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A pacata cidade de Castelo do Piauí, distante cerca de 190 Km de Teresina, palco de um dos maiores e mais brutais crimes ocorridos no Estado vive um clima de tranquilidade. Há exatos 55 dias, quatro adolescentes foram abusadas sexualmente e jogadas de cima de um penhasco de aproximadamente 10 metros. Uma delas morreu dias depois.

A reportagem do O Olho voltou ao município no dia em que Gleison Vieira da Silva, de 17 anos, o mais velho entre os quatro menores responsabilizados pelos atos infracionais, foi morto brutalmente dentro do Centro Educacional Masculino (CEM), em Teresina. Ao contrário do que muitos afirmaram, inclusive a assistente social que esteve na capital, a cidade não comemorou com fogos a execução do menor. A sensação é de tranquilidade, mas comentar sobre o caso, poucos se atrevem.

“DEVIA MORRER AOS POUCOS”
Na residência onde morava Gleison com seus familiares, apenas a avó Francisca Vieira, de 66 anos, e outros quatro irmãos do menor estavam presentes. Lamentando muito e sem condições de conversar com os repórteres, a idosa ainda se esforçou para tentar explicar que o neto “criado com todo cuidado” deveria ser levado para Castelo do Piauí e enterrado perto da família.

No momento em que ela se esforçava para falar, demos a notícia de que o corpo acabara de ser enterrado no cemitério Santa Cruz, no bairro Promorar, um dos locais mais perigosos de Teresina.

Revoltada, a avó de Gleison, que já havia passado mal e sido internada durante toda a tarde no hospital Nilo Lima – o único da cidade e que atende apenas casos sem gravidade – disse que o neto não merecia ser morto da forma que foi. Ela lembra que os outros menores também participaram dos atos infracionais e fala que Gleison foi justo ao explicar como tudo se deu. “Ele quis ajudar a polícia, mas os outros queriam que ele mentisse, por isso que eu acho que mataram ele”, chora.

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Diabética, com colesterol alto e hipertensa, dona Francisca Vieira inicialmente não sabia o que fazer com os demais netos. A mãe e o padrasto de Gleison haviam sido levados para Teresina pela Secretaria de Assistência Social (Sasc) do município.

Olhando para as netas gêmeas, de apenas seis anos, a idosa disse que não sabia como as mesmas iriam dormir naquela noite. “Não sei como vocês vão dormir hoje, porque a mãe de vocês não tá aqui e só dormem se for com ela. O outro que é fraco do juízo também tá aperriado desde quando falaram aqui. Ele não tem entendimento, mas fica agoniado com o movimento”.

NOTÍCIA DA MORTE VEIO COM A TELEVISÃO
A informação sobre a morte do adolescente chegou de forma repentina. Por volta das 7h da manhã de sexta-feira (17/07) os pais ligaram a TV e assistiram a um programa jornalístico que noticiava a morte de um dos adolescentes. Ao saberem que se tratava de Gleison, os familiares se desesperaram. Dona Francisca disse que começou a passar mal e Elizabeth, a mãe do adolescente, teve que ser acolhida por uma vizinha.

“Eu sei que iam matar ele lá em Teresina, mas eu não queria isso. Eu esperava que ele morresse de uma doença ou de outra coisa, e que morresse aos poucos, mas não ser matado do jeito que foi”, lamentou.

NENHUM PARENTE VISITOU FAMÍLIA DE GLEISON
Perseguidos desde o dia do crime, a família de Gleison demorou para receber a visita de algum parente ou outro vizinho das demais regiões da cidade após a notícia da morte do adolescente. Já se passava das 19h de sexta-feira quando as primeiras visitas chegavam na residência para saber como estava dona Francisca e os irmãos da vítima. Até o momento ninguém havia jantado. As crianças ainda estavam sujas e dormiriam daquele jeito.

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Residência onde Gleison morava é simples e com pouca estrutura (Foto: Manoel José/O Olho)

No quarto onde Gleison dormia, uma vela acessa dava sinal de que a casa estava de luto. Os familiares não permitiram a entrava da reportagem nos cômodos. Segundo Francisca Vieira, o padrasto do menor é agressivo e se soubesse que havia “gente de Teresina” dentro dos quartos não iria gostar.

“VIZINHOS CRITICARAM MORTE BRUTAL”
O idoso João Lima da Silva, de 63 anos foi um dos que esteve visitando a residência onde morava Gleison. Ele conta que não tinha muito contato com os familiares, mas “como se tratava de um ser humano”, teve que ir dar os pêsames para a família. Mesmo afirmando que não concordou com a maneira como a morte do adolescente se deu, ele diz acreditar que todos os outros também irão morrer da mesma maneira.

“Eu nem ando aqui não, mas depois da morte do menino da filha dela eu tive que vir aqui, porque ele também era gente, mesmo depois de ter feito o que a polícia diz que ele fez. Eu acho muito errado terem matado ele desse jeito e depois nem quererem trazer o corpo para enterrarem perto da família”, critica.

Mesmo após as investigações, João Lima diz que os quatro adolescentes não teriam coragem de cometer os crimes se não fosse o incentivo do maior de idade, Adão José de Sousa, de 40 anos, apontado pela polícia como o arquiteto e principal aliciador dos menores. O agricultor diz que os adolescentes foram usados por Adão e que “não fariam isso da cabeça deles”.

“Se não fosse esse Adão esses meninos não fariam isso da cabeça deles. De jeito nenhum. O problema é que a polícia não pegou ele no dia que ele atirou na gerente do posto. Eles deixaram passar. Agora esse sim já devia ter sido morto. Às vezes nem somos parentes das pessoas, mas a gente sente, porque nós também temos família”, finaliza.

Poucos minutos depois, vendo a movimentação na casa e a presença de um veículo de reportagem na frente, a única vizinha que ainda esteve cuidando de dona Elizabeth e da idosa Francisca Vieira ao longo do dia, a doméstica Francisca das Chagas Borges da Silva, de 37 anos, se aproximou e revelou que Gleison era um adolescente calmo.

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Francisca Borges diz que acompanhou a rotina da família e a mãe não apoiava os atos errados do filho (Foto: Manoel José/O Olho)

VIZINHA DEFENDE: “ROUBAVA UMA GALINHA AQUI E ACOLÁ”
Em tom de defesa, ela diz que o adolescente foi morto injustamente e lembra que na cidade ele nunca havia cometido atos infracionais que o levassem a ser executado com “tamanha crueldade”. “Ele roubava uma galinha aqui aculá, entravam num comércio ou outro e roubava um botijão de gás, mas nunca usou drogas dentro de casa. Ele já foi preso outras vezes, mas mesmo assim não podiam ter feito isso com ele. E dizem que foi o outros três meninos daqui de Castelo. Tem uns que são piores que ele e não fizeram nada”.

Francisca das Chagas diz conhecer Elizabeth há anos. Amigas, ela conta que sabe como era a rotina na casa e diz que a mãe nunca apoiou o filho “ser errado”. “Ela sempre quis que ele fosse para a escola, mas ele não queria. Toda vez que ele vinha com negócio de droga para casa ela dizia logo que não queria e mandava ele sair”, relata.

FAMÍLIA VIVE AMEDRONTADA E DEVE IR PARA SÃO PAULO
Desde o dia do crime os familiares de Gleison passaram a viver amedrontados. A população de Castelo do Piauí não quer mais a volta de nenhum dos adolescentes. O comentário na cidade era de que se o corpo do menor fosse levado até a cidade populares iriam queimar o caixão. Ainda com medo, Francisca das Chagas diz que já ouviu de Elizabeth que a família ia deixar o município. O destino será São Paulo, onde residem vários parentes da família.

A avó do menor ainda chorava. Conversamos por quase uma hora e a preocupação dela era saber como seriam os próximos passos da família. Enterrado em Teresina, as visitas de 7º dia e de 15 dias não poderão ser feitas, já que a família não dispõe de recursos financeiros para se deslocar até a capital. “Só Deus sabe como vai ser. Porque não trouxeram ele para perto de nós? Só avó e a mãe é quem sabem a dor de tá passando por uma situação dessa. Nem as visitas vão ser feitas. Foi tão difícil trabalhar a vida toda para criar esse menino e nem poder ver depois de morto eu vou”, completou.

FAMÍLIA DE OUTRO MENOR JÁ DEIXOU CASTELO DO PIAUÍ
A família do adolescente J.S.R, de 16 anos, não ficou na cidade para aguardar o desenrolar do caso. Poucos dias depois de ser decretada a morte da jovem Danielly Rodrigues, de 17 anos, uma das vítimas do estupro coletivo, os familiares de J.S.R. venderam a residência de taipa localizada no bairro Rffsa – nome dado devido a presença da empresa que cuida da estrada de ferro que passa pela cidade.

Com todos os móveis da casa, quase nada, apenas uma geladeira velha e um aparelho de televisão, além de pequenos móveis, o local foi negociado por R$ 1.800.

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Residência onde J. vivia foi vendida por R$ 1.800 com toda a mobília dentro (Foto: Manoel José/O Olho)

A nova proprietária, a dona de casa Maria Irislene Alves Feitosa, de 23 anos, residia em São Miguel do Tapuio, município distante cerca de 35 Km de Castelo. Ela agora reside na casa com mais três filhos pequenos e está sendo sustentada pela mãe, Francisca Ferreira Neves, de 47 anos, que foi a responsável pela negociação do imóvel. Maria Irislene lembra que a mãe de J. vivia separada do pai.

Francisco Antônio Jerônimo, de 40 anos, pai de J. foi procurado pela reportagem. Estava na residência de sua mãe, sentado na calçada e conversando com um irmão quando percebeu a aproximação de um veículo. Com as luzes apagadas, ele entrou para o interior da casa e ligou uma lâmpada para que pudesse identificar os visitantes. “Boa noite, aqui é porque a gente apaga para não vir mais caro o talão”, justifica.

Amigável à primeira vista, o pedreiro não quis mais conversa ao saber que se tratava de uma equipe de reportagem. Segundo ele, um advogado de Teresina, que faz a defesa do filho, orientou para que ninguém comentasse mais sobre o caso. Fomos obrigados a sair do local.

VIZINHA DETALHA SOBRE FAMÍLIA DE MENORES
A dona de casa Francisca Ferreira contou que é próxima das famílias de J. e de I. V.I., considerado o mais agressivo e mais perigoso dentre os quatro. Com quase uma centena de passagens pela delegacia local, Francisca diz que a cidade voltou ao normal e agora tem tranquilidade sem a presença dos menores.

“A família do I.V.I se mudou também depois disso. Foram para outros locais mais distantes. A mãe do J. R.S também saiu da cidade, ela trabalhava em casa de família. Todos eles estavam ameaçados depois do que os meninos fizeram. Antes de serem presos, quase todos os dias a polícia andava aqui na casa de uma e da outra atrás deles”, lembra.

Local onde residia I.V.I também já está desabitado (Foto: Manoel José/O Olho)

J.R.S e I.V.I sempre andavam juntos. Eram amigos de vizinhança e de “paradas”, gíria usada no submundo do crime que significa “assaltos”. Francisca diz que sempre ouvia reclamações da mãe de I.V.I. Segundo ela, os menores quase que diariamente cometiam assaltos e eram presos. I.V.I sempre chegava em casa com marcas de agressões, mas ele nunca revelava para os pais onde havia sofrido. “Os donos dos lugares que eles assaltavam batiam nele pela rua, mas ele nunca chegou contando para ninguém. Geralmente eles roubavam galinha, objetos pequenos e entravam em lojas”.

A vizinha garante que os pais sabiam que o filho era usuário de entorpecentes, mas não conseguiam mais retomar o controle da situação. A dona de casa conta sobre um assalto que fora cometido pelos quatro adolescentes pouco tempo antes do dia do crime. Os menores teriam invadido o Lojão da Construção, uma das maiores lojas da cidade. Na ocasião, levaram vários objetos e trocavam por drogas. A reportagem esteve no local para saber do proprietário, identificado apenas como Celso, se havia mudado alguma coisa e se ele estava mais tranquilo após a apreensão dos acusados. Celso não estava na loja e os funcionário se recusaram a comentar sobre o assunto.

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Loja foi alvo dos menores dias antes do estupro coletivo (Foto: Manoel José/O Olho)

“Todo mundo já esperava a morte deles, mas não queriam que fosse assim. Muita gente gostou. Tem hora que a gente acha que tudo isso aqui é um sonho”, diz Francisca Ferreira, aparentando tristeza.

Antes dos quatro serem apreendidos, Francisca lembra que eram difíceis as noites no bairro. Geralmente não dormiam e ficavam vulneráveis aos ataques dos menores. Pedradas, gritaria, baderna e tiros eram ouvidos constantemente. “Não tinha jeito. A gente vivia com medo a noite toda. Só ouvia as portas alheias sendo arrombadas. Era zoada a noite toda quando eles estavam drogados”, completa.

Por fim, ela destaca que envergonhados e ameaçados, os pais de I.V.I decidiram se afastar da região. Segundo ela, a mãe chorava muito e se perguntava a todo momento o que seria da vida daquele instante para frente.

INSEGURANÇA CONTINUA EM CASTELO DO PIAUÍ
O comunicador João Pedro, proprietário do Portal Mais Castelo, um dos mais acessados da região, acompanhou a reportagem do O Olho em alguns locais visitados. Ele conta que desde o dia do crime as ocorrências envolvendo violência continuaram da mesma forma. João Pedro diz que os quatro adolescentes eram de fato os mais perigosos da cidade e responsáveis por “tocar o terror”.

“Não diminui as ocorrências, nós temos acompanhados com o portal a continuidade desses casos envolvendo violência. Poucos dias depois do estupro das meninas, teve outra tentativa, só que desta vez foi um maior de idade que tentou violentar. Outro dia teve um quebra-quebra no hospital, fora as ocorrências nos finais de semana envolvendo bebida alcóolica. De certa forma esse crime não inibiu de jeito nenhum a ocorrência de outros crimes”, destaca.

Sobre a morte de Gleison, o comunicador diz que não é verídica a informação de que houve comemoração na cidade, e nem confirmou a informação de que fogos foram soltados na manhã de sexta-feira. Ele garante que parte da população ficou feliz ao saber da morte e disse ainda que ninguém espera mais vê-los na cidade.

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“É mentira essa notícia de que soltaram foguetes. O pessoal ficou alegre, mas não até esse ponto. A esperança do pessoal é de que nenhum deles volte mais vivo para Castelo. A felicidade pela morte do Gleison foi mais porque era um dos mais violentos com as meninas”.

João Pedro fala em uma população dividida. Mesmo após a execução de uma barbárie de tamanha repercussão, os quase 20 mil moradores de Castelo do Piauí ainda seguem divididos. Alguns falam abertamente que são a favor da morte de todos os menores, outros acreditam que a prisão já é uma pena que sacia a sede de justiça do povo. “Tem gente que tem pena deles”.

PAI DE MENOR B.F. USA O NOME DO FILHO PARA EXTORQUIR
O pai do adolescente B. F.O., de 15 anos, passou a usar a fama do filho de matador e estuprador, para também cometer crimes. João Pedro diz que ele passou a abordar pessoas e as extorqui-las dizendo ser pai de B. “Ele chegava nas pessoas e pedia dinheiro dizendo que era o pai dele. Como o pessoa estava com medo ainda por conta do crime, eles davam”, diz.

José Márcio Oliveira, de 40 anos trabalha como vendedor ambulante no Centro de Castelo. Algumas pessoas falam que o mesmo é usuário de drogas e envolvido com o tráfico na região. Dias após o filho ser apreendido, ele também foi preso pela polícia de Castelo acusado de praticar gestos obscenos em via pública e mostrar os órgãos genitais para mulheres.

A reportagem esteve no Conjunto Vila Nova tentando conversar com a família do menor, mas ninguém estava na casa. “Parece que tudo de ruim dessa cidade foi levado para esse Conjunto. Aqui é perigoso demais”, conta João Pedro.

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O comerciante José Venâncio Costa, de 70 anos diz que um dos filhos que também é comerciante foi alvo dos menores duas vezes. Ele lembra que nas duas oportunidades, o menor de iniciais I.V.I era quem comandava as ações. Objetos pessoais e dinheiro foram levados. Em apenas uma dos assaltos os menores foram apreendidos.

“Toda vez ele dizia que era ele mesmo. Arrombava e levava as coisas. A gente que mora aqui vive resguardado. Não falamos porque eles tem comparsas e podem fazer algo contra a gente. Se abrir a boca para falar de bandido pode até ser morto a qualquer hora”, ressalta o comerciante que mora em Castelo há cinco anos, mas nunca foi alvo de nenhum dos quatro menores. “Graças a Deus nunca fizeram nada comigo, mas eu sabia de tudo que eles faziam aqui”, completa.

CIDADE CONTINUA SEM DELEGADO
Uma semana após o crime, viaturas das Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais (Rone) circularam pela cidade. Mas isso ocorreu em apenas uma semana. Atualmente Castelo continua com os mesmos três policiais militares que se revezam em regime de plantão e sem nenhum delegado. Quem atende na cidade é o delegado Laércio Evangelista, titular do Distrito Policial de Campo Maior, distante cerca de 100 Km de Castelo. O delegado só anda em Castelo quando se trata de uma ocorrência grave ou algum flagrante.

O cabo Ribamar é quem estava na delegacia no dia em que a reportagem visitou Castelo. Já eram quase 18h quando a reportagem do O Olho chegou ao local. O militar disse que estava desde as 5h da manhã no local e naquele dia não havia atendido nenhuma ocorrência.

O regime de atuação dos três militares é de 24h por 72h. Somente nas sextas, sábados e domingos, outros três militares de Campo Maior se deslocam para a cidade e reforçam o policiamento. Já no sábado, voltamos ao DP e constatamos a presença de apenas um PM.

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Apesar da falta de policiamento, a cidade não teme a ocorrência de novos crimes (Foto: Manoel José/O Olho)

CIDADE DA CACHAÇA: DELEGACIA REGISTRA CASOS DE EMBRIAGUEZ CONSTANTES
“Não aumentou as ocorrências, o movimento continua normal na cidade. Assim que teve o crime ainda vieram umas viaturas da Rone, da Força Tática, mas quando acalmou saíram e tudo continuou como era antes”. Conhecida pela cachaça e por eventos como o “Cachaça Fest”, a cidade registra corriqueiramente casos de embriaguez no DP. Durante a noite, o município ficou sem segurança oficial, já que os PM’s estavam se deslocando para o município de Buriti dos Montes, onde realizaram a segurança dos festejos da cidade.

Cabo Ribamar disse ainda que a insegurança não está controlada na cidade. Segundo ele, outros grupos de menores continuam agindo, mas que a polícia tem monitorado todos eles. A maioria está localizada na região do Conjunto Vila Nova e no bairro Rffsa, nas proximidades da linha férrea, local onde residem os traficantes mais perigosos de Castelo.

EQUIPE DE REPORTAGEM É AMEAÇADA
Enquanto nossa reportagem esteve fotografando a linha férrea, um motoqueiro que fumava um cigarro de maconha se aproximou e tentou intimidar o repórter. Ele disse que seria bom que todos saíssem do local o mais rápido possível porque outras pessoas estavam querendo se aproximar. Quando estávamos chegando um homem em uma L-200 passou pela equipe e estacionou pouco depois. Monitorou todos os passos e saiu atrás da equipe assim que a mesma se deslocou para o morro do Garrote, local onde o crime foi consumado.

Linha férrea é utilizada como ponto de consumo e venda de drogas (Foto: Manoel José/O Olho)

LOCAL DO CRIME COMEÇA A SER HABITADO
Alguns moradores começaram a construir nas proximidades do morro. Dezenas de lotes já foram vendidos por uma faixa de preço de R$ 2 mil, e o primeiro morador já iniciou as obras. Trata-se do pedreiro Manoel Cordeiro, de 53 anos. Ele diz que está levantando uma residência para sua filha. A casa ficará há menos de 100 metros do morro.

“Faz 15 dias que comecei as obras aqui. É uma filha minha que vai morar. No começo era uma movimentação grande, as pessoas querendo conhecer o morro, mas agora pararam. Ninguém mais anda para cá”, explica.

Morro do Garrote, local onde o estupro coletivo aconteceu (Foto: Manoel José/O Olho)

O pedreiro diz que não teme morar nas proximidades do morro, apesar do local ser conhecido por abrigar criminosos que buscam refúgio após os atos delituosos, assim como Adão, que estava no local após atirar contra a gerente do posto de combustível. Manoel diz que o sonho é de montar uma lanchonete e cavar um poço para que a filha possa morar tranquilamente. Energia e água encanada já são uma realidade.

“O marido dela mora no Rio Grande do Sul e manda o dinheiro para a gente ir fazendo aos poucos. Não tenho medo de morar aqui não, já estou acostumado morar em cidades maiores e perigosas. Esse caso de Castelo foi atípico, nunca havia acontecido algo desse tipo aqui”, justifica, após contar que já residiu três vezes em Teresina, nos bairros Vila da Paz, Redenção e Vila Irmã Dulce, e outros 14 anos em São Paulo, no município de Bom Jesus dos Perdões, distante cerca de 60 Km da capital paulista.

Manoel Cordeiro revela que reside há seis meses no Conjunto Vila Nova, ao lado da residência do menor B.F.O. O pedreiro diz que não tem muito contato com a família, mas que sabia que o menor era envolvido com crimes.

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Manoel Cordeiro deve ser o primeiro a ter uma residências nas proximidades do morro (Foto: Manoel José/O Olho)

“Não sei muito sobre eles. Nós moramos vizinhos agora, mas eu não conhecia nenhum deles. Sei que esse menino era envolvido com coisa errada, mas era comentário dos vizinhos. Na minha casa até o muro eu já levantei para evitar contato”, diz.

FAMÍLIAS DAS ADOLESCENTES SAÍRAM DE CASTELO
A reportagem também buscou contato com familiares das quatro adolescentes vítimas do estupro coletivo. Os pais das três sobreviventes estão morando em Teresina e ainda acompanham as filhas no processo de recuperação. A previsão de volta para o município ainda é incerta. João Pedro diz que apenas no próximo ano eles devem voltar, mas nada é garantido.

“Pelo que conversei com eles só voltam no próximo ano. Aqui em Castelo só mora alguns tios das meninas”.

A única família que ainda mora na cidade é a da adolescente Danielly Rodrigues, de 17 anos, que morreu poucos dias após o estupro. O pai da menor está viajando à trabalho, e a mãe, a comerciante Josefa, conhecida apenas como Zefinha, mora na casa da mãe.

O comércio de propriedade da família parece que não será mais reaberto. A família pensa em se mudar da cidade para tentar esquecer o crime. O possível destino também pode ser São Paulo.

A reportagem localizou Josefa, mas, ainda muito abalada, ela não quis conversar e disse apenas que está muito mal. “Não consigo falar. Era minha única filha e fizeram uma coisa dessas”, lamentou.

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Comércio da família já está fechado há semanas (Foto: Manoel José/O Olho)

PRÓXIMOS PASSOS
Os outros três adolescentes que estavam reclusos no CEM ainda seguem com o futuro definido. A Justiça deve encaminhar todos eles para unidades socioeducativas em outros estados. Os menores também poderão ser responsabilizados pela morte de Gleison.

Já o maior de idade, Adão José de Sousa, continua preso na penitenciária de Altos. O inquérito ainda segue em tramitação, mas o acusado poderá ser condenado à pelo menos 151 anos de prisão.

Em Castelo, a família dos menores seguem sem amparo do Estado. Nenhum agente público tem acompanhado os familiares. Procurada, a SASC da cidade estava fechada e a secretária não foi localizada. Algumas famílias que possuem filhos menores também não recebem atendimento psicológico.

CRAS de Castelo do Piauí só funciona até meio dia de sexta-feira (Foto: Manoel José/O Olho)
Fonte: O olho
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