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Após anos, olaria é reativada no interior de Jaicós e produz cerca de 50 mil tijolos por mês

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Uma atividade que faz parte da história de diversas famílias há vários anos, mas que havia sido interrompida por um longo período, foi retomada no interior de Jaicós. Quem passa pela localidade Salina, zona rural da cidade, avista, logo a margem da estrada, vários homens trabalhando em uma tradicional olaria.

A olaria, local destinado à produção de objetos que utilizam o barro ou argila como matéria-prima, é considerada a mais antiga das indústrias. Em Jaicós e também Massapê do Piauí, a atividade de oleiro já foi desenvolvida por muitos e garantiu o sustento a diversas famílias.

Na Salina, uma das localidades pioneiras nesse tipo de produção, o trabalho não era realizado há cerca de 8 anos, mas foi retomado em 2020. Patrício Carvalho é quem está à frente das atividades desenvolvidas no local. “Aqui iniciamos esse trabalho em agosto deste ano. Eu já tinha trabalhado com olaria, mas estava com 6 a 8 anos que ninguém trabalhava mais fazendo tijolos. Aí apareceu a oportunidade, a procura estava grande, então a gente tentou voltar e está dando certo” contou ele.

Segundo Patrício, a alta no preço do material de construção e também a abertura de novas fábricas de tijolos influenciaram o retorno da produção na olaria. “A alta no preço do material de construção foi um motivo, também estão abrindo cerâmicas novas e eles precisam desses tijolos para fazer os fornos. Os blocos são feitos também por causa desses tijolos aqui. E tem a demanda para casas também, para fazer baldrame, as casas antigas que são feitas com esses tijolos também para aumentar elas tem que ser com esse tijolo também, fica mais fácil para o dono da casa” explicou.

A atividade na olaria possui a simplicidade como principal característica, bem diferente da produção em escala industrial. A matéria prima é o barro e o “paú” da palha de carnaúba. Todo o processo, desde a coleta do material nos chamados “barreiros”, até a formação da peça, é feito manualmente.

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Patrício explicou sobre o processo de produção. “Primeiramente a gente tem que encontrar o barro, escavar, e depois do barro escavado a gente prepara, quebra todo, coloca de molho e coloca o “páu” de palha de carnaúba. No outro dia a gente amassa junto os dois, mistura bem, e aí sai a massa para o tijolo. Depois a gente ainda deixa secar por dois dias, depois eles vem para cá para a caieira, aí quando chega a quantidade certa a gente reboca ela e assa. A gente assa numa noite, e no outro dia está assado. Aí com 5 dias, depois de esfriar, pode pegar o tijolo”.

Enquanto para a produção nas grandes fábricas, a argila é extraída da natureza com o auxílio de retroescavadeiras, na olaria a principal ferramenta é a mão do trabalhador. Para auxiliar, eles utilizam picaretas, pás e enxadas e vão escavando até encontrar a matéria prima.

Após extraído e quebrado, o barro é misturado com água, fica de molho e depois acrescenta-se o adudo natural de palha de carnaúba. Com os pés e auxílio de enxadas, os trabalhadores também amassam bem a mistura e só depois de todo esse processo é que se obtém a massa.

Com a massa já pronta, os trabalhadores fazem a montagem do tijolo utilizando um molde de madeira, chamado de Grade, com o qual são produzidos dois tijolos por vez. Após a montagem, os tijolos, em um terreno escalvado chamado de lastro, ficam expostos ao sol para o processo de secagem (eliminação do excesso de umidade).

O processo final é a queima das peças, que é feita no forno de olaria construído com os próprios tijolos que se vão assar, chamado de caieira. O processo de queima proporciona ao tijolo a dureza e resistência necessárias.

Para realizar todo esse processo, mais de 10 homens trabalham no local, e produzem cerca de 50 mil tijolos por mês. “Toda a mão de obra veio para a cidade, desde a “cavação” do barro, até carregar o tijolo. É muito serviço para a cidade, o que é muito bom. Aqui tem dia que a gente está com 12, 15 pessoas, depende da quantidade do trabalho. E tem outra turma de mais 6 pessoas que trabalha carregando. No mês, como tem que queimar ainda, a gente faz uma média de 50 milheiros. Estamos vendendo para a cidade mesmo, por enquanto. Antigamente a gente vendia muito para fora, Pernambuco, Picos, mas agora está saindo para cá mesmo” informou Patrício.

O trabalho, segundo Patrício, é temporário, feito no período de seca.  “Aqui é um serviço temporário, temos o período de começar e o de terminar, porque se chover a gente corre um risco grande. A gente tem que começar e terminar no período seco, porque se chover a gente perde todo o nosso serviço. Quando começa as chuvas acaba o nosso ganho aqui e a gente tem que partir para outras coisas. Sempre foi assim, começa pelo mês de junho, julho, e vai no máximo até dezembro”.

Patrício contou que antigamente muitas famílias trabalhavam em olarias e produziam diferentes peças de barro. “Aqui antigamente fazia telha e tijolo. Mas aí apareceram as cerâmicas e o povo não quis mais comprar as telhas. A telha era trabalhosa para fazer, pesada. Aqui antigamente também os mais velhos faziam potes, panelas, pratos, tudo saia daqui. Da minha família tem tio meu que trabalhou aqui e também meu sogro trabalhou muito, ele que é o dono daqui. Ele criou os filhos tudo aqui. Ele tinha muita terra, mas disse que a única que dava renda era essa aqui. Hoje ele não aguenta trabalhar mais, aí me pediu para assumir”.

Ele conta que já chegou a encontrar no local restos de peças que ele acredita que sejam de mais de 100 anos. “As famílias antigamente, cada uma tinha um grupinho trabalhando aqui nesses barreiros. Se você olhar daqui para sair nas casas lá na frente é tudo cheio de buraco, porque as famílias trabalhavam todas aqui. É uma atividade que já vem de muitos anos. Trabalhando aqui um dia eu até achei um pedaço de um pote quebrado que acho que era de mais de 100 anos”.

Zé Adão, disse que começou a trabalhar em olaria aos 15 anos de idade. “Trabalho há muito tempo nisso aqui, desde os meus 15 anos de idade. Parei com 30 anos porque apareceu outro serviço, viajei para São Paulo para trabalhar na laranja. Com tijolo eu trabalhava na Lagoa Grande, mas aí o nosso barro lá acabou também, e a gente parou. Hoje eu trabalho aqui e na roça, as vezes plantando algum tomate, pimentão”.

Iracildo Alves, conhecido como Pinguinha, 60 anos, também é um dos mais antigos trabalhadores da olaria. Ele conta que criou nove filhos através da atividade. “Eu não conhecia a Salina, aí um primo meu foi me chamar lá na Gameleira para trabalhar aqui, comecei com 19 anos. Aqui comecei batendo tijolo, depois passei para a telha. Trabalhava mais meu sogro e meu cunhado. Depois fui trabalhar na laranja em São Paulo, mas voltei. Mas os nove filhos que tive criei com o trabalho daqui. Na seca estou aqui na olaria e no inverno trabalho na roça. E tenho dois filhos que trabalham aqui na olaria comigo”.

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