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Barragens do Piauí: “Estruturas são precárias, emergenciais e há risco”, defende engenheiro

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O rompimento de uma barragem da Vale em Brumadinho, cidade de Minas Gerais, tem colocado em alerta autoridades de todo o país. Isso porque a situação desses reservatórios voltou a ser questionada, sobretudo, pelo alto grau de dano humano e ambiental causado. Nesta sexta-feira (25/01), 60 pessoas morreram e mais de 200 continuam desaparecidas. Uma força-tarefa nacional tenta resgatar os corpos já constatados e encontrar funcionários e moradores vivos.

Para o Piauí, o caso visto esta semana em Minas, desperta lembranças dolorosas. Até porque uma tragédia como essa também aconteceu por aqui. Em 2009, a parede da Barragem de Algodões I estourou, arrastando dezenas de moradores da zona Rural de Cocal, distante 260 km de Teresina. Dezenas morreram.

Há um ano, outro susto: moradores encontraram fissuras na Barragem do Bezerro, em José de Freitas, distante 56 km da capital. E foi um desespero: todo mundo precisou sair de suas casas e uma força-tarefa foi montada para fechar o vazamento.

Trabalho feito na Barragem do Bezerro após ruptura na parede em 2018 (Foto: OitoMeia/Arquivo)

A água drenada elevou os níveis do Rio Poti e Longá, provocando cheias em vários municípios do Piauí. Após uma semana, o Governo Estadual conseguiu estancar o vazamento e impedir uma tragédia. Mas, aí foi descoberto que a Barragem do Emparedado, em Campo Maior, distante 84 km de Teresina, também precisava de atenção estrutural, apesar de não haver risco de rompimento.

Mas, qual é a situação desses reservatórios no Piauí? O OitoMeia conversou com o engenheiro civil, Carlos Augusto de Pinho, que realizou um estudo sobre as barragens do Estado.

Carlos Augusto é engenheiro civil, bacharel em segurança pública e pós graduado em gestão de Segurança Pública (Foto: Arquivo Pessoal)

“HÁ RISCO SIM”, DIZ ENGENHEIRO

Segundo ele, há 734 barragens naturais e 215 artificiais Piauí. Dessas, 139 o Estado sabe apenas a cidade em que se localiza. A principal característica é a estrutura precária, já que não são recuperadas há muitos anos.

Em um estudo realizado pelo engenheiro, intitulado “Recursos Hídricos: Quadro Atual das Barragens no Piauí”, ele aponta que 33 barragens foram analisadas e 29 delas apresentaram risco. Somente uma apresentou baixo risco de ruptura, enquanto, as outras duas não tem dados disponíveis.

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“O relatório feito por mim [de 2018] revelou que 15 tinham alto risco de ruptura e 14, médio. Ao todo, 29 delas tem estrutura ainda falha. O que pode levar a uma possível ruptura e dano potencial associado [quais perdas]”, explicou ao OitoMeia.

Para o especialista, o Governo toma medidas emergenciais, ao invés de preventivas. A exemplo disso, foi a ruptura na Barragem do Bezerro.

Estudo feito pelo engenheiro e apresentado em relatório em novembro de 2018 (Foto: Arquivo Pessoal)

O QUE DIZ O IDEPI

Geraldo Magela, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), confirmou que duas barragens tem atenção especial. Exatamente aquelas duas que deram um “susto” no Governo em 2018.

“Essas duas foram classificadas como de risco ano passado e foram avaliadas pela equipe. Rebaixamos o sangradouro para controlar a possibilidade de aumentar o nível por causa do período chuvoso”, explicou à reportagem.

Geraldo Magela diz que a situação não é preocupante (Foto: Ricardo Moraes/OitoMeia)

Por outro lado, o engenheiro diz que mesmo diminuindo o volume, a situação não impede danos ambientais.

“Rebaixar um sangradouro, diminui o risco de ruptura, porque a pressão na parede cai. Mas, desperdiça um recurso hídrico importantíssimo, que poderia ser usado de outras formas. No final, todo mundo paga caro”, contrapôs.

IDEPI INTENSIFICA MONITORAMENTO

Há três materiais estruturantes usados na parede das barragens: solo compactado, cimento e concreto ciclópico [grandes pedras]. No caso da Emparedado, a opção utilizada foi a de concreto. No Bezerro, observa-se solo.

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“Não que o concreto ou solo seja mais resistente e evite uma ruptura. O que impede um acidente é o monitoramento da condição dessas estruturas, uma recuperação preventiva, porque são materiais que suportam a pressão do reservatório e são largamente utilizados”, explicou à reportagem.

No estudo, Carlos conclui que a falta de acompanhamento da segurança das barragens, torna difícil prever possíveis ações anti-acidentes. Por isso, seria preciso evoluir na fiscalização.

“Esse é um quadro propício à repetição de catástrofes. A qualquer momento pode ocorrer um outro colapso de quaisquer dessas estruturas, cujo conhecimento é mínimo ou mesmo inexistente por parte do estado. Não há sequer um único plano sobre as ações emergenciais a serem adotadas diante de uma eventual crise”, alertou.

Mesmo assim, o Idepi disse que a situação delas não é preocupante. “Houve reparo em quatro desses reservatórios pelo Estado e concluímos que a situação é estável. As demais já possuem projetos de reparação e recuperação”, amenizou o presidente.

Fonte: Oito Meia

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