Suposta imagem de santa em carnaúba atrai multidão no interior do Piauí; veja o caso

Uma suposta imagem de Nossa Senhora de Fátima tem atraído dezenas de católicos para uma casa na cidade de Campo Maior, a 78 km de Teresina. A “santa” surgiu no topo de uma carnaúba no quintal da residência do senhor Augusto Bona, que tem aberto as portas, diariamente, para receber pessoas que creem que a imagem- que só aparece à noite- seja, verdadeiramente, divina.

“Estou admirado com esse possível fenômeno. Minha esposa, que faleceu há mais de um ano, já tinha percebido essa imagem”, disse o dono da casa.

Além de rezar diante da suposta imagem, devotos da santa também se emocionam. A percepção de cada pessoa é variável: alguns afirmam que além de ver a imagem, enxergam uma luz acendendo e apagando; outras dizem que a luz é constante; outros sequer conseguem visualizar algo semelhante à imagem de Nossa Senhora de Fátima.

A suposta aparição da santa tem gerado opiniões diversas até entre os próprios religiosos. “Estive lá por volta de meio dia, mas não dá para dizer nada ainda”, afirmou o monsenhor Mateus, da Diocese de Campo Maior. “É uma questão de fé. O que a igreja pode fazer é estudar o fenômeno e só depois disso se pronunciar”, disse o padre Benedito, pároco auxiliar da catedral de Santo Antônio.

Já o pastor Marcus Paixão é categórico ao afirmar que não acredita ser nada místico. “Creio que seja apenas efeito de luz e impressão. Não acho que seja nenhum sinal. Na verdade, o que se vê é uma silhueta semelhante às imagens fabricadas da santa católica. É exatamente como um nuvem no céu que vai tomando formas diversas. Respeitando a fé e a opinião de todos, mas não há biblicamente subsistência nesse fato de Campo Maior”, comentou pastor.

Para que o fenômeno seja comprovado é necessário que exista um milagre concedido através da imagem. Se comprovado, a diocese aciona estudiosos do Vaticano para analisar o fato. Mesmo sem comprovação, o suposto fenômeno continua atraindo devotos e curiosos durante todas as noite.

COMO TUDO COMEÇOU

A romaria começou de fato depois do dia 18 deste mês. Segundo a professora Maria das Dores Bona, conhecida por Das Dores e moradora da casa, um dia antes uma imagem de Nossa Senhora foi levada até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que fica nas vizinhanças. A santa passou a noite na casa da Família Bona. “No outro dia a gente rezou um terço e uma amiga, a Zilma, fotografou o topo da carnaúba, aí a foto estava diferente, parecia a santa”, relatou Das Dores. “Estava muito perfeito”. A foto se espalhou por redes sociais e o lugar começou a ser visitado. Não parou mais de vir gente ao lugar conferir se era uma santa ou não.

Tudo foi gerado porque o cume da única carnaúba do lugar estava esbranquiçado e parecia estar iluminado, assemelhando-se a um dos fenômenos sobrenaturais visto em filmes e na ficção televisiva. Um dos presentes terminou tirando uma fotografia e essa foto, ao ser ampliada, parecia mais nitidamente com a imagem que os cristãos fazem de Nossa Senhora.

A foto foi o grande motivo do alvoroço. Com a repercussão midiática (o caso foi noticiado por sites locais e por uma televisão regional) o número de visitantes dobrou. Todos queriam tirar fotografias com a suposta santa.

ROMARIA QUASE 24 HORAS POR DIA

A reportagem de O Olho esteve este final de semana no lugar da romaria. Uma casa de 33 metros de frente e 53 metros de fundo, de nove cômodos. Nitidamente é uma residência católica. Na sala da casa há várias imagens de santos católicos. Duas se destacam, Nossa Senhora de Fátima e o Papa João Paulo II, hoje santo católico. No quarto do patriarca Augusto Bona encontra-se um centenário oratório. Diariamente ele faz orações.

A família mora no lugar há mais de 70 anos. E nota-se que é cercada por fé aos santos católicos.

Não foi muito difícil encontrar o lugar. “Ei, a santa fica em que lugar da cidade?”. “É bem fácil, moço, é só ir e ver a rua em que tem um bocado de gente na porta. Não tem errada”, informou uma das moradoras de Campo Maior. Ela não estava errada.

No momento havia cerca de 700 pessoas. A maioria participava de uma roda de oração. Uma senhora, que portava um crucifixo grande no peito, subiu em uma cadeira e puxou a oração. Muitas “Ave Marias” (reza católica que pede que Nossa Senhora rogue e interceda pelos fiéis). No mínimo, a cada momento, mais de dez pessoas empunhavam um celular. Flashs, selfies e muita curiosidade. Queriam filmar e fotografar. Outros, mais prevenidos, traziam lanternas para iluminar o cume da palmeira. “Viu como é santa?”, puxou uma senhora, de aproximadamente 40 anos, como se fosse para provar ao repórter que a santa estava no alto da carnaúba.

Via-se uma imagem branca, realmente com as silhuetas de Nossa Senhora de Fátima, uma das centenas de denominações da mãe de Jesus, que teve uma das aparições de Maria mais cultuadas pelos católicos mundo adentro.

Um senhor visivelmente embriagado, a cada 30 segundos, dizia que via a santa. “Ói lá”.

Choros eram ouvidos e muita curiosidade e até empurra-empurra. A maioria só saía de lá quando tinha certeza de ter visto a silhueta da santa. O lugar estava branco, aparentando ter sido pintado. A família dona da casa diz que a cor é assim há muito tempo.

A casa dos Bona tem visitantes quase 24 horas todos os dias. Desde as primeiras horas, começam a chegar os curiosos e, se a família deixar, vão até o início da madrugada. A preocupação é com a saúde de Augusto, prestes a completar 97 anos. Muitos também querem vê-lo e conhecê-lo.

FANATISMO OU FÉ VERDADEIRA?

Uma série de mistérios cercam o caso e o tornam mais intrigante ou então mais uma prova de fanatismo.

A professora Maria das Dores Bona faz questão de contar que sua mãe, a artesã Iraci Sampaio Bona já teria visto a imagem de Nossa Senhora há tempos no lugar. Dona Iraci faleceu em 02 de junho de 2014 e teria dito para o genro que ali a família voltaria a ter paz, não brigaria e que o local não pararia de chegar pessoas. Uma premonição?

Os familiares revelam que a carnaúba está no lugar há mais de 70 anos e foi conservada por toda a família durante esse tempo. Há menos de dez anos ela ficou sem as características folhas de carnaúba, ficando somente o cume (popularmente conhecido por olho). Durante os anos o cume ficou esbranquiçado. Perguntada se não poderia ser fezes de animais que ali pousam, Maria das Dores Bona disse que não, enfática

“Ela apareceu para nos salvar”, destacou a professora Maria das Dores Bona.

Por enquanto a Igreja Católica de Campo Maior trata o caso com cuidado. Sacerdotes procuram não ir ao lugar e evitam falar com a imprensa. Mas a família Bona confirmou que já foi contatada por dois religiosos. Eles pediram que tratassem o caso com cuidado e que só poderiam se manifestar a partir do momento que houver algum milagre atribuído à santa da carnaúba de Campo Maior.

Também, por enquanto, uma espécie de milagre já pode ser atribuído à santa: fazer uma região inteira discutir um fato e trazer à tona a religião, longe de política, esporte e futilidades.

 

 

Fonte: Cidade Verde / OOlho