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GERAL

97% das mulheres afirmam terem sofrido assédio em meios de transporte

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Pesquisa divulgada recentemente aponta que 97% das mulheres dizem já ter sido vítimas de assédio em meios de transporte e 71% relatam que conhecem alguma mulher que já sofreu assédio sexual em espaço público. O estudo foi divulgado pelos Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, em parceria com uma empresa de transporte por aplicativo.

Segundo os dados, a falta de segurança das mulheres em se locomover implica diretamente nos ambientes que frequenta. “Existem 92 milhões de brasileiras adultas, 40 milhões trabalham, 8 milhões estudam e 33 milhões foram a bares no último mês”, mostra o Instituto Patrícia Galvão.

Para a pesquisa foram ouvidas 1.081 mulheres, de todos os estados, que são usuárias de transporte público e por aplicativo. “Vimos que os deslocamentos têm um papel central no cotidiano dessas mulheres. Para 72%, o tempo para chegar ao trabalho influencia na decisão de aceitar e ficar em um emprego”, apresenta a pesquisa.

Assim, a conclusão da análise é que 46% das mulheres não se sentem confiantes para usar meios de transporte sem sofrer assédio sexual. E 3 em cada 4 usuárias se sentem mais seguras usando transporte por aplicativo, sendo que nesta modalidade a maior parte (48%) faz uso do aplicativo tanto de dia como à noite.

Essa realidade faz parte da vida da maioria das mulheres. Em entrevista, 55% consideram que a denúncia dos abusadores é mais fácil no caso dos transportes por aplicativo, sendo esse meio, para 45%, o que dá mais chances de que os assediadores sejam punidos.  E para 91% das consultadas, o transporte por aplicativo melhorou sua capacidade de locomoção pela cidade e 94% afirmam que se sentem mais seguras sabendo que, se precisarem, podem chamar um transporte desse tipo para voltar para casa.

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Entre os pontos levantados no estudo estão: Receber olhares insistentes; receber cantadas indesejadas; receber comentários de cunho sexual; ser encoxada; ser beijada à força; passarem a mão em seu corpo; receber gestos obscenos; ser estuprada, se masturbarem olhando para ela; receber mensagens inoportunas por aplicativos e ser seguida.

Já a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, assegura que, “a pesquisa confirma que, infelizmente, o assédio sexual no transporte faz parte da rotina das mulheres brasileiras. Para elas, que em sua maioria estudam e trabalham fora de casa, a segurança no deslocamento é uma questão essencial. É importante não só aplicar a lei que criminaliza essa prática, como também desenvolver políticas e mecanismos para prevenção, para garantir que as brasileiras possam se sentir seguras ao exercerem seu direito de ir e vir garantindo também seu direito a uma vida sem violência”, afirma.

“O assédio é naturalizado dentro de uma sociedade machista”

A violência contra a mulher seja ela em qual esfera for, deve ser debatida amplamente em todos os meios da sociedade, pois esses dados são apenas um recorte das vivências das mulheres ao longo de uma vida e muitas se sentem coagidas a não denunciar. No caso do assédio em locais públicos, o homem acredita que no meio da multidão não será identificado, e a vítima ainda se culpa e sente vergonha de expor a situação.

Neste sentido, comenta a representante da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social (ENECOS), Joana Darc, “a Enecos é uma entidade política que, portanto, repudia a violência que a sociedade capitalista comete contra as mulheres, e são diversas essas violências que a gente sofre sendo mulher. O assédio, seja no lugar público ou privado é naturalizado dentro de uma sociedade machista que odeia as mulheres a ponto de violentá-las sistematicamente sem preocupar-se com a denúncia, a punição e a resistência das próprias mulheres frente a isso”, discute.

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Quando as mulheres se encorajam a denunciar e não possui provas da situação, o caso fica ainda mais complicado. “As violências que vamos sofrendo ao longo da vida vão sendo desmentidas e menosprezadas pelos próprios homens, pelos órgãos públicos, pela televisão que vão garantindo uma continuidade e desamparo. Quando o assédio acontece ficamos desnorteadas e expostas dentro dos ambientes que não pretendem resolver esse problema”, expõe Joana.

A impunidade é um dos incentivadores do assédio, “as mulheres independentemente de onde estão se veem rodeada de potenciais assediadores, quase sempre homens que  atuariam contra ela em algum nível de violência e por isso combater essa violência precisa de tantos passos e de uma ruptura com o pensamento patriarcal de que mulheres servem ao patriarcado”, explica a estudante.

Para Joana Darc, a união das mulheres faz com que esses casos possam ter alguma resolução. “Precisamos incentivar denúncias, proteger e dar assistência às vítimas, aplicar punições contra culpados, aprender e ensinar autodefesa para as mulheres e reeducar a sociedade sobre desigualdade e as subordinações de gênero. Minha mensagem pessoal para as mulheres é que elas não tenham medo, que se fortaleçam politicamente contra essas violências, somos fortes quando somos combativas e ajudamos umas às outras”, pontua a militante.

“O silencio da mulher favorece ainda mais a prática do crime de assédio”, diz delegada

A pesquisa realizada pelos institutos repercutiu no país de forma reflexiva. Os altos índices fazem com que os órgãos responsáveis procurem se questionar sobre a diferença entre os relatos das mulheres nas ruas e os números de denúncias nas delegacias. A superintendente do Sistema de Gestão de Risco e Inteligência Estratégica, Eugênia Villa, faz esse levantamento sobre os dados divulgados. “Na pesquisa Patrícia Galvão, ela não se ateve aos registros criminais, foi uma pesquisa feita no âmbito público com mulheres entrevistadas, são as sensações das mulheres, quando vai para o cenário de crime, aí é diferente”, descreve.

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Os questionamentos da delegada vão além. “Temos que saber sobre a efetiva denúncia, em que medida essa violência está chegando à delegacia? Está sendo institucionalizada? nós estamos tendo conhecimento? É preciso agora mensurar essa violência pautada nos crimes, e esses dados se dão com registros nas delegacias. Temos de reunir elementos que estão sendo noticiados pela pesquisa e que as mulheres estão falando”, esclarece.

Com pouco menos de um ano, o crime de importunação sexual sancionado dia 24 de setembro de 2018, ainda não é conhecida. A Lei 13.718/2018 torna crime atos de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro. Assim, é definida como prática de ato libidinoso contra alguém sem a sua anuência “com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”. A pena prevista varia de um a cinco anos de prisão – se o ato não constituir crime mais grave.

No carnaval a lei entrou em vigência, e atos como passar a mão no corpo de alguém ou roubar um beijo, foram enquadrados como crime. O beijo à força ou qualquer outro ato consumado mediante violência ou grave ameaça, impedindo a vítima de se defender, configura crime de estupro. Eugênia ressalta que mesmo com a divulgação sobre o crime neste período o número de denúncias não representa a situação.

“No carnaval a gente só teve um registro de importunação sexual no estado. Será que esse dado espelha a realidade? No aplicativo Salve Maria também não vi nada nesse sentindo. Então até que ponto essas violências estão chegando nessas instituições policiais? E o que a gente pode fazer para chegarem?”, indaga a superintendente.

O assédio é um crime amparado no medo, ele acontece tanto em situações que envolve poder como em situações propícias, no caso dos ônibus. E a denúncia se torna algo assustador para as mulheres, pois muitas vezes não há hematoma visível, não se tem provas. “A mulher não conhece o cara, então como você vai diagramar essa violência? Como que eu chego na delegacia? Eu tenho que é ter alguma pista, evidência, para chegar na delegacia e dizer olha ele me importunou”, explica a delegada.

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Para Eugênia Villa a solução para o assédio é além de incentivar as denúncias e contabilizá-las, está em um trabalho conjunto. “É preciso ter câmera em ônibus, fazer um trabalho de prevenção sobre tudo, mas também de monitoramento. Será que não tem assédio em universidade? No trabalho? Na escola? Essas denúncias têm que chegar e o silêncio da mulher favorece ainda mais a prática do crime”, pontua.

Quando as mulheres se encorajam a denunciar e não possui provas da situação, o caso fica ainda mais complicado. “As violências que vamos sofrendo ao longo da vida vão sendo desmentidas e menosprezadas pelos próprios homens, pelos órgãos públicos, pela televisão que vão garantindo uma continuidade e desamparo. Quando o assédio acontece ficamos desnorteadas e expostas dentro dos ambientes que não pretendem resolver esse problema”, expõe Joana.

A impunidade é um dos incentivadores do assédio, “as mulheres independentemente de onde estão se veem rodeada de potenciais assediadores, quase sempre homens que  atuariam contra ela em algum nível de violência e por isso combater essa violência precisa de tantos passos e de uma ruptura com o pensamento patriarcal de que mulheres servem ao patriarcado”, explica a estudante.

Para Joana Darc, a união das mulheres faz com que esses casos possam ter alguma resolução. “Precisamos incentivar denúncias, proteger e dar assistência às vítimas, aplicar punições contra culpados, aprender e ensinar autodefesa para as mulheres e reeducar a sociedade sobre desigualdade e as subordinações de gênero. Minha mensagem pessoal para as mulheres é que elas não tenham medo, que se fortaleçam politicamente contra essas violências, somos fortes quando somos combativas e ajudamos umas às outras”, pontua a militante.

“O silencio da mulher favorece ainda mais a prática do crime de assédio”, diz delegada

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A pesquisa realizada pelos institutos repercutiu no país de forma reflexiva. Os altos índices fazem com que os órgãos responsáveis procurem se questionar sobre a diferença entre os relatos das mulheres nas ruas e os números de denúncias nas delegacias. A superintendente do Sistema de Gestão de Risco e Inteligência Estratégica, Eugênia Villa, faz esse levantamento sobre os dados divulgados. “Na pesquisa Patrícia Galvão, ela não se ateve aos registros criminais, foi uma pesquisa feita no âmbito público com mulheres entrevistadas, são as sensações das mulheres, quando vai para o cenário de crime, aí é diferente”, descreve.

Os questionamentos da delegada vão além. “Temos que saber sobre a efetiva denúncia, em que medida essa violência está chegando à delegacia? Está sendo institucionalizada? nós estamos tendo conhecimento? É preciso agora mensurar essa violência pautada nos crimes, e esses dados se dão com registros nas delegacias. Temos de reunir elementos que estão sendo noticiados pela pesquisa e que as mulheres estão falando”, esclarece.

Com pouco menos de um ano, o crime de importunação sexual sancionado dia 24 de setembro de 2018, ainda não é conhecida. A Lei 13.718/2018 torna crime atos de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro. Assim, é definida como prática de ato libidinoso contra alguém sem a sua anuência “com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”. A pena prevista varia de um a cinco anos de prisão – se o ato não constituir crime mais grave.

No carnaval a lei entrou em vigência, e atos como passar a mão no corpo de alguém ou roubar um beijo, foram enquadrados como crime. O beijo à força ou qualquer outro ato consumado mediante violência ou grave ameaça, impedindo a vítima de se defender, configura crime de estupro. Eugênia ressalta que mesmo com a divulgação sobre o crime neste período o número de denúncias não representa a situação.

“No carnaval a gente só teve um registro de importunação sexual no estado. Será que esse dado espelha a realidade? No aplicativo Salve Maria também não vi nada nesse sentindo. Então até que ponto essas violências estão chegando nessas instituições policiais? E o que a gente pode fazer para chegarem?”, indaga a superintendente.

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O assédio é um crime amparado no medo, ele acontece tanto em situações que envolve poder como em situações propícias, no caso dos ônibus. E a denúncia se torna algo assustador para as mulheres, pois muitas vezes não há hematoma visível, não se tem provas. “A mulher não conhece o cara, então como você vai diagramar essa violência? Como que eu chego na delegacia? Eu tenho que é ter alguma pista, evidência, para chegar na delegacia e dizer olha ele me importunou”, explica a delegada.

Para Eugênia Villa a solução para o assédio é além de incentivar as denúncias e contabilizá-las, está em um trabalho conjunto. “É preciso ter câmera em ônibus, fazer um trabalho de prevenção sobre tudo, mas também de monitoramento. Será que não tem assédio em universidade? No trabalho? Na escola? Essas denúncias têm que chegar e o silêncio da mulher favorece ainda mais a prática do crime”, pontua.

Fonte: Portal o Dia

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