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GERAL

Autismo é só um detalhe para o teresinense que sonha em conhecer Maurício de Sousa

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O que você quer ser quando crescer?

— Eu quero ser policial.

— Eu vou ser médica.

— Eu quero ser um super-herói.

As crianças ouvem a mesma pergunta quase todos os dias, das pessoas mais próximas às mais estranhas. E um pequeno teresinense bem animado já tem as respostas dele na ponta da língua também.

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— Eu quero ser desenhista, escritor e quadrinista.

Quem falou isso foi o pequeno viciado em leitura Miguel Arcanjo de Albuquerque Rios. Ufa! O nome é grande, mas não maior que a paixão pela arte do criador da “Turma da Mônica”, o imortal Maurício de Sousa, apontado como um dos principais nomes da literatura infantil do Brasil. O menino de oito anos começou a se interessar pela prática do desenho ainda criança, com apenas quatro anos, quando começou a rabiscar uma parede de casa que até hoje permanece com aqueles traços.

O sonho em conhecer Maurício de Sousa motiva Miguel Arcanjo a continuar lendo as obras do criador da Turma da Mônica (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

Miguel é filho da enfermeira Rilma dos Santos Pinheiro Albuquerque Rios e do eletrotécnico Márcio José de Sousa Rios, pais corujas cheios de orgulho. Um ano depois de fazer arte nas paredes, o menino expandiu o leque criativo ao tomar gosto pelo universo da leitura e aquela relação foi de amor à primeira vista. O vício incurável pela busca do conhecimento em meio às viagens mais incríveis se faz cada vez mais presente na vida deste pequenino, que vai de Norte a Sul sem precisar sair do quarto. Ele apenas lê.

E lê muito. Ao longo de três anos, foram dezenas de livros lidos. A maioria, obviamente, do grande Maurício de Sousa. A admiração pelo cartunista nasceu antes mesmo de aprender a ler, quando apenas assistia às animações da franquia de quadrinhos mais famosa do Brasil. De lá para cá, o amor pela Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão só cresceu o sonho de conhecer o “pai” dessas quatro criancinhas levadas, no auge dos seus quase 84 anos. Isso o motiva a mergulhar ainda mais no mágico mundo proporcionado pela leitura.

VIAGEM MARCADA PARA SÃO PAULO

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“Ajuda a gente para ele [Miguel] ver esse homem. O Maurício já tem mais de 80 anos e o meu medo, que deus o livre, é desse homem morrer sem o meu filho poder conhecê-lo”, disse a mãe do nosso personagem principal. E ambos já têm um plano, ainda para este mês, que seria uma tentativa de fazer o Miguel ver, mesmo à distância, o ídolo. Os dois estão com uma viagem marcada para São Paulo, que não é só a maior cidade do Brasil, mas também é onde estão as principais atrações da “Turma da Mônica”, como o parque temático e o estúdio de criação.

Rilma Albuquerque planeja viagem para São Paulo, na tentativa de fazer o filho Miguel encontrar o Maurício de Sousa (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

É justamente nesse estúdio, onde supostamente o Maurício de Sousa trabalha, que o pequeno Miguel quer encontrar a sua inspiração artística. E já imaginou o cartunista se encantar pelo fã e criar um personagem da turminha inspirado no teresinense? A viagem de mãe e filho deve acontecer no dia 25 de julho e ambos devem ficar na megalópole até 28 do mesmo mês, tempo que Rilma espera ser suficiente para realizar o sonho do primogênito. Ana Sofia Albuquerque Rios, a irmã mais nova, de apenas dois anos, ficará em casa sob os cuidados do pai. Por questões financeiras, a família toda não vai poder ir.

“O Miguel nem falava direito e já escrevia e desenhava. Com quase cinco anos, o Miguel começou a falar. Com seis anos, o Miguel era orador do ABC. Foi um evento no Teresina Hall em que ele fazia o juramento. De lá para cá, foi só sucesso”, compartilhou Rilma ao OitoMeia. “O Miguel é muito interessado por cursos e ele sempre demonstra esforços em fazê-los. Ele também gosta muito de robótica. Aliás, tudo o que envolve conhecimento, é interessante para ele”, continuou a mãe, cheia de orgulho.

O PRESENTE IDEAL

Como qualquer outra criança, Miguel também faz questão de ter brinquedos, mas o gosto por carrinhos, bolas e pelúcias não se compara ao amor pela leitura. Do aniversário ao Natal, o presente ideal vocês já devem imaginar muito bem qual é. Quando a família sai junto, principalmente aos shoppings, o pedido chega a deixar os vendedores surpresos com tamanho interesse do menino de oito anos em adquirir literaturas como a biografia do Maurício de Sousa, por exemplo. E o nosso pequeno teresinense garante ter lido e relido a obra sobre o ídolo que não está no gibi.

“A gente sempre faz aquele esforço por ele, porque ele sempre pega os livros mais caros. Ele diz que esses livros são os que têm mais histórias, que são aqueles livros grandes e de capa dura. A gente incentiva da forma que a gente consegue”, relatou Rilma, que voltou no tempo para explicar quando filho leu o primeiro livro. Aos dois anos, Miguel começou a ir à escola. Aos três, folheava as páginas dos livros, porém ele ainda não falava. E a primeira leitura, de fato, aconteceu quando o pequenino tinha cinco anos – “Ele não falava direito, mas você entendia as frases”.

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VIU COMO O AUTISMO É SÓ UM DETALHE?

Era nítida a felicidade no olhar de Rilma enquanto falava do filho, principalmente quanto ao excelente comportamento dele na escola, o que se reflete diretamente no boletim de Miguel, referente ao primeiro semestre de 2019. Em todas as matérias, as notas são azuis. O menor valor, cuja mãe ficou até receosa de mostrar, foi 8,1, em Artes. Algumas pessoas podem dizer que ninguém pode ser bom em tudo, porém este futuro escritor foi excelente em todas as disciplinas, porque tirar 8,0 não é demérito. É por essas e outras que o OitoMeia reforça: viu como o autismo é apenas um detalhe na vida desse pequeno teresinense?

Boletim escolar de Miguel é motivo de orgulho (Foto: Divulgação)

Em pensar que Miguel já teve a matrícula negada em um dos mais tradicionais colégios privados de Teresina. À mãe, a instituição alegou que não havia mais vagas, embora a candidatura estivesse dentro dos devidos prazos. Rilma, por outro lado, percebeu que a escola não queria atender o filho, cuja recusa deve ter sido motivada porque o menino tinha acabado de ser diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Hoje, no atual ambiente de aprendizagem, o que não faltam são elogios.

“O apoio da escola foi muito importante para a vida do Miguel e para a vida da família em geral. Eles incentivam o Miguel de todas as formas. Eles sempre dão a atenção necessária. Na hora das avaliações, tem um professor só para o Miguel. A Sofia [irmã caçula, também com TEA] tem uma terapeuta que a acompanha. E esta é a melhor escola, porque dá todo esse apoio que a gente precisa”, agradeceu Rilma.

A VOLTA POR CIMA

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Um dos primeiros sinais de que o Miguel era autista se deu com a fala tardia, ou seja, somente aos cinco anos. Segundo um artigo do Ministério da Saúde, publicado em abril de 2019, outros sintomas podem se associar ao transtorno, como é o caso da dificuldade na interação social e na linguagem, além de comportamentos repetitivos e restritivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 70 milhões de pessoas no mundo tenham TEA. E a família desse pequeno fã do Maurício de Sousa até sentiu certa dificuldade no início, mas conseguiu dar a volta por cima.

“No começo, com o Miguel, foi bem complicado para toda a família. Foi o primeiro caso, ninguém conhecia e ficamos bastante desesperados. Passamos por cima de muita coisa, principalmente em relação ao emprego, pois você tinha que abdicar da sua profissão para cuidar dos filhos”, disse a mãe coruja, que abriu mão de um emprego concursado em Simplício Mendes, Sul do Piauí, para dar melhores condições de vida ao filho na capital. O marido, servidor federal que trabalhava em Guadalupe, na mesma região, conseguiu se transferir para Teresina. Hoje, Rilma trabalha no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), em regime especial de plantão.

AUTISMO NÃO É DOENÇA

E você, caso perceba alguns sinais comportamentais em crianças próximas, lembre-se que o Sistema Único de Saúde faz o diagnóstico do transtorno e trabalha com a reabilitação dos pacientes. Para isso, basta se dirigir à unidade básica de saúde (UBS) mais próxima. Não se preocupe com a impossibilidade de cura, até porque o autismo não é doença. Contudo, o SUS possui 218 Centros Especializados de Reabilitação em todo o país, com 189 serviços de reabilitação intelectual. Em Teresina, o Centro Integrado de Reabilitação (Ceir) e a Associação de Amigos dos Autistas do Piauí (AMA) são referências.

Ansioso para conhecer o ídolo, Miguel costuma passar o tempo fazendo leituras e desenhando (Foto: Ricardo Morais/OitoMeia)

Agora, o OitoMeia se engaja na campanha que pode fazer o pequeno teresinense conhecer Maurício de Sousa. Já imaginou se até a Fátima marca um encontro para tentar ajudar esse garoto apaixonado pelo conhecimento? E você, leitor, pode compartilhar essa ideia em prol do Miguel, o menino com nome de arcanjo que conseguiu superar limitações que poderiam subestimar a sua capacidade intelectual. Ainda bem que esta reportagem provou o contrário.

Fonte: Oito Meia

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