GERAL
Isolamento impõe cuidar das emoções
Milhões e milhões de pessoas estão fechadas em suas casas, mundo afora, devido à pandemia do novo Coronavírus, impondo uma situação sem registro neste nosso século, que deixará marcos históricos e culturais incontornáveis para os próximos anos, somando-se aos milhares de mortos e aos estragos econômicos sem precedentes na história recente da humanidade.
O isolamento social fez-se determinante. Todos somos impelidos a ficar em confinamento, dentro das nossas próprias casas, embora, ironicamente, juntos mas separados, tudo por uma causa maior: conter a ação incontrolável do vírus, que ninguém conhece e contra o qual não existe remédio conhecido e eficaz.
Tal isolamento mudou radicalmente o estilo de vida e as práticas do trabalho, carregando um espantoso medo da contaminação, nossa e dos outros, e condenando cada um à diminuição, e até mesmo a eliminação, do contato físico, do toque, do abraço entre pessoas queridas, uma característica muito próprio da nossa cultura latina.
Tem-se, daí, que muitas pessoas estão sendo tomadas por um estresse agudo, caindo num sentimento de vazio e solidão, bem próximo daquela nostalgia letárgica, que é a muito estranha sensação do Nada.
Na verdade, esse compulsório isolamento mexe com a questão básica da nossa liberdade, pois não podendo exercê-la na plenitude à qual estávamos acostumados, somos possuídos por um sentimento de incapacidade, e às vezes de inutilidade.
Diante desse ambiente inquietante, a primeira coisa que nos toma a mente é buscarmos saber como será o amanhã. O que acontecerá a nossa vida e à vida dos outros, depois que a pandemia passar?
E disto ninguém sabe, pois esse vírus invisível e desconhecido atua sobre todos e ninguém tem conhecimento de quando vai parar. Assim como ninguém pode saber como será o emprego, a economia, os negócios, a escola, a faculdade, o lazer, o transporte, as relações com as pessoas, depois que esse incômodo mortal decidir ir embora. Nem mesmo sabemos se ele irá embora algum dia.
A primeira consequência desses questionamentos irrespondíveis, é a gente ficar com a mente confusa, pois esse não saber como nem quando é fator causal de insatisfação, insegurança, de desequilíbrios neurofisiológicos.
Dia desses li a manifestação de uma psicóloga paulista, da Universidade de São Carlos, Larissa Souza, chamando a atenção para a necessidade de darmos atenção a coisas que antes não eram foco da nossa preocupação
Diz ela que a consequência do vírus e do seu agregado, o isolamento, é mostrar que a vulnerabilidade humana é muito significativa e que todas as coisas precisam de um processo para se estabelecer. A tendência que temos para uma necessidade muito imediata acaba caindo nessa insuficiência. Olhar para essa fragilidade também representa um processo interno que vem de encontro com a vulnerabilidade e fragilidade que todo ser humano possui.
O psiquiatra Octavio Panan nos chama atenção para o fato de que as pessoas se desesperam, querem saber de tudo que o rádio, a internet e a televisão estão divulgando, comprar todos os mantimentos e remédios, mas esquecem da angústia e da tristeza por trás de todo esse movimento.
Daí ser rigorosamente necessário cuidar das nossas emoções. Pois somos nós mesmos, e mais ninguém, que haveremos de dar atenção a nossas angústias e solidão, antes de sermos forçados a cair no divã. É importante saber que as boas relações com a família e os amigos, a visão e compreensão que temos do mundo, das outras pessoas, da natureza, dos animais, das montanhas e florestas, de rios e lagos, dos pássaros e de seus cantos, têm enorme influência na nossa harmonia.
Mas, pessoalmente, é primordial cada um de nós cultivar apreço às emoções e dar atenção especial a sua saúde espiritual e mental.
Particularmente, um dos recursos que mais me fazem bem é a leitura. Aliada à arte, a literatura é uma companhia sempre necessária, uma fonte de sabedoria, conhecimento e sossego. Uma viagem que cura. Um alimento imprescindível à própria vida.
Livros indicados:
“Do Amor e Outros Demônios” (Editora Cia. das Letras), de Gabriel García Márquez
“O Livro do Travesseiro”, de Sei Shônagon
“Ela Queria Amar, Mas Estava Armada”, de Liliana Prata
“Rituais de Sofrimento”, de Silvia Viana
Mundo Cidadão
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