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Piauí eleva a taxa de mortalidade infantil

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A segunda reportagem especial da série ‘Te Interessa’ traz como tema a redução da mortalidade neonatal e infantil no Estado. A série aborda uma temática diferente a cada semana para que os eleitores possam estar atentos e cobrem dos candidatos à eleição propostas de soluções em seus planos de governo para atender essas áreas. O objetivo é apontar as necessidades e desafios a serem enfrentados para alcançar o desenvolvimento sustentável, a estabilidade política e o bem-estar social.

A taxa de mortalidade infantil no Piauí ultrapassa a média nacional de 5%. O Estado teve uma média de 19,6%, representando um aumento de 14,6%. Os dados são do Ministério da Saúde, referentes ao ano de 2016. Os motivos são desde a crise econômica até a ausência de assistência médica e falta de vagas em UTIs neonatal. Com a redução de recursos e a estagnação de programas sociais, mortes associadas a diarreias e pneumonias foram as grandes causas de mortalidade infantil.

A presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Piauí – CRM-PI, Drª Mírian Perpétua Palha Dias, afirma que o aumento da mortalidade infantil no Piauí tem relação direta com uma baixa assistência na Atenção Básica. A dificuldade de acesso ao pré-natal ou um pré-natal não realizado adequadamente favorece o aumento da mortalidade, pois eleva os problemas relacionados ao parto e ao pós-parto imediato. As doenças maternas que não são bem conduzidas durante a gestação propiciam a mortalidade de crianças no momento do parto.

“Um dos grandes desafios para superar e reverter essa situação no Estado é aumentar a cobertura da atenção básica nos diversos municípios, facilitando o acesso da gestante ao pré-natal, capacitar os profissionais que prestam atendimento a essas gestantes, direcionar adequadamente o atendimento das gestantes seguindo os critérios de baixa, média e alta complexidade e administrar as unidades de saúde de maneira que não faltem medicamentos básicos necessários para o seguimento das gestantes/recém-nascidos”, destacou.

Dra. Míriam Palha defende que deve ser feita a ampliação de leitos neonatais para tratamento em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN); Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal (UCIN), com duas tipologias: Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCo); e Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa). É importante ressaltar que não basta aumentar o número de leitos, mas também ter a quantidade de profissionais capacitados em número adequado para o devido atendimento.

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“Nós fiscalizamos regularmente as unidades de saúde do Estado e tomamos as providências necessárias de acordo com o caso encontrado. Enviamos os nossos relatórios aos gestores, ao Ministério Público, Defensoria Pública e outras instituições caso necessário para que as medidas cabíveis sejam realizadas.

Recentemente, o CRM participou ativamente contra o fechamento de leitos neonatais do Hospital do CIAMCA e vem lutando pela melhoria das condições de atendimento da Maternidade Dona Evangelina Rosa. Não podemos aceitar ter mortalidade tão elevada, especialmente em maternidade preparada para atendimento de alta complexidade, com mortes infantis tão relacionadas à prematuridade”, enfatizou.

Relação com qualidade de vida

Em análise dos dados, o médico pediatra Marcelo Madeira, presidente da Sociedade de Pediatria do Piauí (SOPEPI), defende que a taxa de mortalidade infantil está intimamente relacionada à qualidade de vida e desenvolvimento de um povo: renda per capita, condições sanitárias, acesso à saúde pré-natal e assistência durante o parto e após o parto, etc.

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“Uma taxa de mortalidade tão elevada nos leva a concluir que a saúde não está acessível a todos. A qualidade alimentar não é boa para todos. Nas últimas décadas, houve uma drástica redução da mortalidade infantil no mundo, graças a avanços sanitários, prevenção de doenças (vacinas), abordagem de doenças que antes matavam muito, tais como a desnutrição, pneumonias, diarreia, doenças infecciosas e parasitárias. Tudo isso melhorou no mundo todo, mas chegou-se a um ponto em que somente isso não se fez mais suficiente para reduzir mais ainda a mortalidade infantil”, afirmou.

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O pediatra explica que é preciso cuidar das doenças não preveníveis, tais como as doenças neonatais e as doenças congênitas. “Nesse caso, a falta de leitos em UTI neonatais e a falta de serviços de neonatologia descentralizados explicam o panorama atual”, acrescentou. (W.B.)

 Profissionais se concentram na capital

Marcelo Madeira destaca que é preciso aumentar a quantidade de leitos e principalmente descentralizar. “Não faltam pediatras no Piauí. O problema é que estão concentrados na capital. Fora o Estado e a Prefeitura de Teresina, os salários no interior são pouco atrativos. Uma boa parte são contratos precários, onde os médicos ficam à mercê do prefeito. Não há estrutura para atendimento especializado (neonatal) na maior parte do interior”, disse.

Para combater a taxa de mortalidade neonatal e infantil no Piauí, a SOPEPI vem atuando cada vez mais forte na fiscalização. Vários Termos de Ajuste de Conduta foram assinados entre Governo e MP (principalmente no tocante à Maternidade Dona Evangelina Rosa).

“Além disso, como nossas redes sociais permitem concentrar quase todos os pediatras do Piauí, a SOPEPI se transformou em uma rede de ajuda às crianças, onde os diferentes especialistas se dispõem a colaborar com a saúde de todas as crianças e apoio principalmente aos colegas do interior”, considerou.

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Ainda de acordo com o Dr. Marcelo Madeira, havendo interesse e gestão eficiente e responsável será possível promover a interiorização da saúde, levando pediatras para os interiores mais distantes. “Assim, o primeiro passo será dado para a redução não só da mortalidade neonatal, mas da mortalidade infantil como um todo”, finaliza. (W.B.)

60% dos casos são de mortalidade neonatal

Dr. Sérgio Marba, consultor nacional neonatal e do Método Canguru da Coordenação Geral da Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, esclarece que a mortalidade infantil é um indicador calculado a partir da relação entre o número de crianças que morreram antes do primeiro ano de vida e mil crianças nascidas vivas dentro do mesmo período. Por meio dessa mensuração, é possível avaliar a qualidade dos serviços de saúde, saneamento básico e educação de uma região. Cerca de 60% dessa mortalidade é representada pela mortalidade neonatal.

“Quando a morte da criança acontece antes dos 365 dias completos de vida, ou seja, o primeiro ano, ela se enquadra dentro desse indicador. As principais causas de aumento desse número estão ligadas à falta de pré-natal ou assistência e instrução às gestantes, ausência de acompanhamento médico, deficiência no amparo médico, desnutrição, falta de políticas públicas efetivas em educação e problemas no saneamento básico”, explica o consultor, que também é assessor de Políticas Públicas da Sociedade Brasileira de Pediatria.

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Segundo o especialista, quando uma criança nasce prematura, ela pode apresentar diferentes graus de alteração respiratória, ou, em casos mais raros, não ter nenhum tipo de problema para respirar. “Por esse motivo, é feita uma análise do quadro clínico dela e então o neonatologista decide qual o melhor caminho a se seguir. No caso do pré-termo apresentar problemas respiratórios, o especialista pode optar por fazer o tratamento das doenças respiratórias mais graves, como a Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR). Ou até mesmo fazer o gerenciamento de CPAP, um equipamento utilizado para administrar as crises de apneia”, declarou.

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Retranca// Leitos em hospitais privados para atender demanda atual

Ainda de acordo com Sérgio Marba, uma das medidas que podem ser feitas para reverter o problema da falta de leitos no Piauí e na região Nordeste de forma rápida é uma associação maior e mais efetiva entre os setores público e privado para que mais leitos de hospitais privados sejam ofertados no Sistema Único de Saúde (SUS), conseguindo atender a demanda atual.

“Outra forma seria uma gerência de leitos, com apoio das centrais reguladoras e aumento no número de leitos não só de cuidados intensivos, mas também de leitos de cuidados intermediários. Para de fato sanar essa problemática, é necessário rever a localização e o número de centros de saúde que atendem gestantes no pré-natal, melhorar as condições de parto e aumentar o número de centros de referências nesses locais e, consecutivamente, o número de leitos no SUS. É necessário também reavaliar a distribuição de neonatologistas no país, já que a maior parte deles se encontra nos polos econômicos”, recomenda.

Segundo Dr. Sérgio Marba, para diminuir a mortalidade infantil é preciso agir diretamente em suas principais causas, isso significa implementar políticas públicas efetivas que combatam a falta de assistência e instrução às gestantes, ausência de acompanhamento médico, deficiência no amparo médico, desnutrição, deficiência da educação e problemas no saneamento básico.

“Esses problemas podem ser sanados com a adoção de programas voltados para gestantes e mães, uma maior atenção da equipe de saúde para garantir a adesão ao acompanhamento daquele recém-nascido, além disso, programas assistencialistas podem auxiliar no complemento alimentar da família e medidas sanitárias, auxiliar na prevenção de doenças. Alguns dos programas que servem de exemplo são o APICE ON e o QUALI NEO, que são voltados para a atenção neonatal”, disse. (W.B.)

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Demora em atendimento leva a óbito

A coordenadora de projetos sociais Quitéria Silva de Sousa, moradora do bairro Planalto Ininga, na zona Leste de Teresina, perdeu seu neto Esdras de Sousa, no dia em que completou 2 meses, após ser diagnosticado com cardiopatia congênita no nascimento e não receber o atendimento necessário a tempo de evitar seu falecimento. O bebê nasceu na Maternidade Dona Evangelina Rosa e chegou a ficar internado na UTI Neonatal, mas não conseguiu liberação para realizar a cirurgia.

“Em menos de 24 horas que ele nasceu já ficou todo roxo, fomos informados que aquilo era normal, até que ele ficou revirando os olhos e foi retirado para UTI. O médico nos disse que ele precisava de uma cirurgia urgente, mas o SUS não liberou a cirurgia e ele veio a falecer. Antes disso, tiraram ele da UTI e levaram para a enfermaria, foi quando ele morreu com infecção hospitalar. Isso serve de exemplo para todo Piauí”, declarou.

A cardiopatia congênita é uma alteração na estrutura do coração presente antes mesmo do nascimento. Em homenagem ao pequeno Esdras, Quitéria de Sousa iniciou um projeto social no bairro onde reside para atender crianças com aulas de balé e idosos com aulas de dança e assim manter viva a memória do neto.

O primeiro obstáculo enfrentado pelo bebê prematuro está em respirar. Por isso, é muito comum que esses pequenos necessitem de uma série de procedimentos. Durante o período em que estão internados na UTI neonatal, eles são submetidos a diferentes tipos de tratamento, e o que poucos sabem é que decisões tomadas durante a internação podem afetar a qualidade de vida da criança por toda sua extensão.

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 (Crédito: Divulgação)
(Crédito: Divulgação)

Bebê prematuro

Quando uma criança nasce antes das 37 semanas de gestação, a Medicina a enquadra como prematura e, a partir desse momento, são necessários avaliações e cuidados que variam de acordo com a idade gestacional do bebê. A família também necessita de uma atenção especial, pois, independentemente do quão prematura a criança é, o medo e insegurança dos pais em relação aos próximos passos é imenso. Mas atenção! Justamente pela fragilidade da situação, é preciso que tanto médicos quanto familiares tenham em mente que as decisões tomadas na UTI Neonatal podem influenciar o futuro da criança.

Existem muitas maneiras de se reduzir a mortalidade infantil, mas para ter sucesso nessa tarefa, o Estado precisa implantar uma série de políticas sociais que provoquem mudanças estruturais nas condições de vida da população. Por exemplo: acabar com a fome e a miséria, aumentar o acesso ao saneamento básico, melhorar a instrução das mulheres, dar à população de baixa renda mais acesso a serviços de saúde de qualidade, aumentar as campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação, da reidratação oral e do aleitamento materno, investir em pesquisas médicas, entre outras. (W.B.)

Procedimentos que salvam

Diversos países na Europa têm realizado técnicas minimamente invasivas para a administração de surfactantes (LISA/MIST). Essas têm como principal característica a não intubação do paciente, eliminando, portanto, as complicações de outros métodos, como o INSURE.

“Não basta mantê-los vivos, temos que manter sua qualidade de vida. Estudos mostram que a técnica LISA pode eliminar a necessidade de intubação para a distribuição de surfactantes e reduzir a ventilação mecânica, com suas morbidades relacionadas a longo prazo”, explica o professor-doutor Sérgio Marba.

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“Pode ser que o paciente em questão não tenha indicação para o procedimento menos invasivo e necessite de intubação (INSURE), mas isso deve ser definido após uma avaliação. O especialista deve, sempre que possível, escolher procedimentos menos invasivos que preservem a saúde e a qualidade de vida do paciente. Vale lembrar que a prematuridade não é doença, mas sim uma condição passageira”, complementa. (W.B)

Distribuição de médicos se concentra nas regiões mais ricas

Avaliando a distribuição dos médicos neonatologistas no país, é possível concluir que há mais profissionais nas regiões ricas do país, o que consequentemente diminui a mortalidade neonatal. Além disso, um estudo identificou que 1 médico para cada 1.000 habitantes é igual a uma diminuição de 2.3% na mortalidade neonatal, no entanto, uma enfermeira para cada 1.000 habitantes é igual a uma diminuição de 3.8% na mortalidade neonatal.

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Atualmente, há 8.766 leitos de UTI neonatal disponíveis no Brasil. São 2.9 leitos para cada 1.000 nascidos vivos. No entanto, apenas 4.677 são do SUS. Há um deficit de 3.305 leitos no país. Dados do Datasus 2016 relatam o nascimento de 316.245 recém-nascidos prematuros nascidos, cerca de 12% do total nascidos no ano. Isso quer dizer que foram 900 recém-nascidos prematuros ao dia, 40 por hora.

A Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais identificou que a hipertensão na gestação é um fator de risco importante e influencia na prevalência de hemorragia pulmonar nos prematuros, por isso a administração de corticoide antenatal deve ser considerada.

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O instituto identificou em estudos que o uso da droga diminui a prevalência de reanimação, Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) e Displasia Broncopulmonar (DBP) nos recém-nascidos prematuros, independentemente do tempo de intervalo entre a administração da medicação e o nascimento das crianças. Em relação à hipotermia, a Rede indica que a hipotermia na 1ª hora de vida aumenta a chance de óbito precoce em 67%. (W.B.)

 

Fonte: Meio Norte

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