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Alunos sobem em árvore em cima de morro para assistirem a aulas remotas no Piauí

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Jovens estudantes do Povoado Brejinho, na zona rural de Sebastião Leal, no Sul do Piauí, precisam subir em árvores em cima de um morro e se deslocar longas distâncias para terem acesso à internet. Somente assim, conseguem assistir às aulas remotas. Nesta quarta-feira (11), em que se comemora o Dia do Estudante, o G1 ouviu os relatos dos jovens.

Uma das 12 estudantes do povoado é Ana Vitória Soares, que tem 18 anos e está no nono ano do Ensino Fundamental. Ela está atrasada na escola. Pela idade, já deveria ter terminado o Ensino Médio, mas só começou a escola aos nove anos.

Desde o início da pandemia de Covid-19, em março do ano passado, com a suspensão das aulas presenciais, a jovem enfrenta dificuldades para se manter estudando. Ana Vitória está matriculada na Escola Municipal Tia Nair, localizada na cidade de Bertolínia, distante 51 km de onde ela mora.

Em 2020, não conseguiu acompanhar as aulas porque não tinha celular e computador. Em 2021, a dificuldade vai além. O Povoado Brejinho, onde ela mora desde abril deste ano, não possui sinal de internet e, para ter acesso às aulas remotas, ela precisa subir um morro e enfrentar sol forte.

“Estou estudando através de material impresso que pego na escola. Mas as aulas online, cursos e pesquisas não consigo acompanhar porque o sinal aqui é muito ruim, quase inexistente. A gente precisa subir um morro, enfrentar o sol quente. Mesmo assim, o sinal ainda é ruim. Fica difícil”, relatou a estudante.

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Estudantes sobem morro e caminham longas distâncias para assistir aula no Piauí  — Foto: Arquivo Pessoal

Estudantes sobem morro e caminham longas distâncias para assistir aula no Piauí — Foto: Arquivo Pessoal

As dificuldades da estudante não vieram com a pandemia. Ela só começou a estudar aos 9 anos na Unidade Escolar Narcisa Fonseca, em Bertolínia, onde morava na época. Ia para a escola sozinha, por volta do meio-dia e caminhava cerca de 6 km para ir e voltar. Quando estava no sexto ano na Escola Municipal Martinho Filho, repetiu a série devido à dificuldade com matemática.

Hoje, a estudante se dedica ao término do Ensino Fundamental e, posteriormente, do Ensino Médio. Depois, disse que pretende o curso de fonoaudiologia. O interesse pela área veio quando a sobrinha foi diagnosticado com autismo.

“Tenho uma sobrinha autista que só fala comigo. Quero usar minha profissão para ajudá-la a se desenvolver na fala e na vida. Sei que sem educação não se chega a lugar nenhum, mas como está, fica difícil continuar”, lamentou a estudante.

Alunos do ensino superior também enfrentam dificuldades

Estudante sobe em árvore para conseguir sinal de internet  — Foto: Arquivo Pessoal

Estudante sobe em árvore para conseguir sinal de internet — Foto: Arquivo Pessoal

Jailson de Sousa e Iêda Brito têm 18 anos. Os primos fazem faculdade de licenciatura em matemática no Instituto Federal do Piauí (IFPI), Campus da cidade de Uruçuí, distante 70 km de Sebastião Leal. As aulas tiveram início em maio de 2021. Mas no caso dos dois estudantes, nem mesmo subir no ponto mais alto do morro dá garantia de acesso à internet.

Para acompanhar, precisam ir ao Povoado Cágados, que fica a 6 km de onde moram, para acessar a internet da casa de familiares. Costumam utilizar uma moto para o transporte, mas também já fizeram o trajeto a pé.

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Ao G1, os estudantes contaram que após o início da pandemia as dificuldades só aumentaram. Agora no ensino superior ficou tudo mais desafiador. O uso da internet virou uma obrigação já que as aulas acontecem em uma plataforma online.

“Vou de moto com a minha prima que também estuda no IFPI. Às vezes chegamos em casa mais de meia-noite. É perigoso, a estrada é escura. Corremos riscos nesse percurso. Estamos sendo prejudicados pela falta de internet na região. O poder público só promete, mas até agora nada foi resolvido. É muito difícil e perigoso”, disse o estudante.

Estudantes se deslocando até outro povoado para ter acesso a aulas online  — Foto: Arquivo Pessoal

Estudantes se deslocando até outro povoado para ter acesso a aulas online — Foto: Arquivo Pessoal

“Muitas vezes não conseguimos assistir às aulas porque o sinal é muito fraco. Antes da pandemia tinha o ônibus escolar, mas depois nossa rotina mudou completamente e estamos passando por muitas dificuldades”, disse a estudante de licenciatura em matemática, Iêda Brito.

 — Foto: Arquivo Pessoal

— Foto: Arquivo Pessoal

O que diz a prefeitura

A Prefeitura de Sebastião Leal informou que tem buscado meios de resolver o problema, que empresas já fizeram um levantamento da demanda na comunidade, porém não mostraram interesse no serviço por ser uma comunidade muito pequena e distante, com valor alto de investimento (nota na íntegra abaixo).

A secretária de educação do município, Cristiane Maria de Sousa, afirmou que os alunos do Ensino Fundamental têm acesso, quinzenalmente, a blocos de atividades impressas que são entregues na casa dos estudantes.https://7f8f48b0f66eb211dbcbc8a21ba30738.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

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Nota na íntegra:

A Prefeitura Municipal de Sebastião Leal, na pessoa da prefeita Manoelina Borges, se solidariza com a situação dos alunos da comunidade porque sabe da necessidade de internet para estudar hoje. Ela tem buscado meios de resolver o problema, já contatou algumas empresas privadas, que inclusive já fizeram um levantamento da demanda na comunidade, porém não mostraram interesse no serviço por ser uma comunidade muito pequena e longe, e o investimento ser muito alto. Também já esteve na comunidade conversando com os moradores.

ATI

Procurada, a Agência de Tecnologia da Informação do Piauí (ATI) informou que está fazendo um levantamento junto a alguns órgãos do estado, assentamentos e comunidades rurais quilombolas que tenham localização próxima a BR, e população de no mínimo cem pessoas e avaliando a viabilidade de instalação de rede de internet nestas localidades. O município conta com ponto um de internet, através do projeto Piauí Conectado, instalado na Praça João Veloso, Centro da cidade.

Dia do Estudante

No dia 11 de agosto, é comemorado, no Brasil, o Dia do Estudante. Essa comemoração acontece desde o ano de 1927 e teve como ponto de partida algo que ocorreu 100 anos antes, isto é, em 1827, na época do recém-instituído Império Brasileiro.

Em 11 de agosto de 1827, o então imperador Dom Pedro I autorizou a criação das duas primeiras faculdades do Brasil, a Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco, e a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, em São Paulo. Por esse motivo, no dia 11 de agosto, também se comemora o Dia do Advogado no Brasil.

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Fonte: G1 PI

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