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Marcelo Magno, único curado do coronavírus no Piauí, conta como venceu a doença

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Antes de começar este texto, peço permissão do leitor para que eu possa escrever em primeira pessoa. Além de ser uma excelente notícia -e estamos precisando delas neste momento de pandemia-, assim faço por dois motivos:

Marcelo Magno é um dos grandes amigos que fiz no jornalismo. Nos conhecemos desde os tempos de faculdade, somos da mesma geração e na verdade esta não foi uma entrevista, mas sim uma conversa entre dois caras onde um torce pelo outro.

Depois porque a vitória de Marcelo Magno é uma vitória que merece ser comemorada não só por ele, mas por todo o Piauí, todo o Brasil e talvez todo o mundo. Depois de 12 dias internado -8 deles na UTI e 6 entubado-, ele é mais um dos casos de pessoas curadas do novo coronavirus no Brasil. No caso do Piauí, é o único curado entre os 18 casos confirmados.

Marcelo Magno posa ao lado da equipe médica: o jornalista recebeu alta após ficar 6 dias entubado (Foto: Divulgação)

QUANDO DESCOBRIU QUE ESTAVA COM COVID-19?

Minha última tentativa de contato com Marcelo Magno, antes de ser internado na UTI, se deu via Whatsapp na manhã do dia 18 de março. Era uma quarta-feira. Já era de conhecimento público que o jornalista, apresentador do Piauí TV da Rede Clube (afiliada Globo no Piauí) e do Jornal Nacional em tempos de revezamento na bancada, estava internado. Ele, por motivos óbvios, nem chegou a visualizar minhas mensagens. Era uma quarta-feira. Começava ali a batalha de Magno, que aos 37 anos não possui qualquer outro problema de saúde. Não se encaixa em nada no grupo de risco: não tem diabetes, nem hipertensão e nem fumante ele é. Mesmo assim, precisou ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e ficou sob coma induzido. O próprio Marcelo Magno conta o que foram esses dias para ele e sua família:

“Desde que voltei do Rio de Janeiro (RJ), eu me sentia bem. Apenas dava alguns espirros, típicos de muitos de nós, piauienses, quando há essa mudança de clima, coma chegada das chuvas… Bom, eu passei a me tratar normalmente, cheguei até a fazer inalação, em casa… tinha o aniversário do meu filho, e aí me preservei. Peguei uma chuva nesse dia, mas até então me sentia bem. No domingo (dia 16/03) a noite senti uma febre, então fui para o hospital, eu mesmo dirigindo meu carro, achando que seria um início de pneumonia, uma gripe que não tratei direito… Até aí, fiquei bem, acordado, me alimentando bem, conversando com todo mundo. Mas me pediram para ficar. Eu até disse ao pessoal do hospital: ‘poxa gente, me sinto bem, deixa eu ir embora’. Mas acho que foi essa decisão dos médicos que me ajudou”.

Marcelo Magno explica que a decisão de ser entubado partiu da equipe médica a partir do momento em que passou a apresentar sintomas que poderiam ser de covid-19. “Até o momento que fui internado, não sabia que tinha coronavirus. E nem tinha ainda o resultado do exame que eu fiz. No domingo e na segunda, mesmo tendo apresentado uma febre, não apresentei outro sintoma. Não fiquei com problema respiratório, por exemplo. Aí quando foi na terça as coisas começaram a se complicar. Perdi o olfato e passei a sentir mais os sintomas. Somente aí que percebi que poderia estar com coronavirus. O médico me explicou que eu seria entubado e a partir daí, não sei mais o que aconteceu”, explicou Magno, que teve confirmado, somente na tarde da quarta-feira, dia 18, o exame dando “positivo” para coronavírus.

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Postagem divulgada nas redes sociais de Marcelo Magno no dia que recebeu alta, já em casa, com a família (Foto: Reprodução)

A CURA E A CONFIRMAÇÃO DO USO DE HIDROXICLOROQUINA

Marcelo Magno ficou sob coma induzido por exatos seis dias. Desacordado, sem saber que o resultado havia dado positivo. “Allisson, é como se eu tivesse dormido num dia e acordado no outro. São seis dias que eu não vou lembrar nunca na minha vida. Mas olha, eu sou muito grato à equipe médica que cuidou de mim. Eu acho que fui salvo por conta dessa decisão. Enquanto a doença me deixava pior, eu já estava internado, na UTI, respirando com ajuda de aparelhos e recebendo os devidos cuidados. Eu me sinto abençoado por isso. Sou muito grato. Te digo uma coisa, todo agradecimento que fizer, a Deus, aos médicos, às pessoas que oraram por mim, gente de todo canto do Brasil, do Piauí, aos que mandaram mensagens… todo agradecimento que eu fizer ainda será pouco”, disse.

Marcelo Magno “acordou” no último dia 23 de março, exatamente há uma semana. Dois dias depois já não estava mais na UTI, ficou no apartamento, mas ainda em isolamento. Na sexta-feira (27/03) pela manhã recebeu alta e pôde voltar para casa.

“Eu passei a ter melhoras significativas. Os médicos sempre me acompanhando, entrava uma enfermeira, completamente paramentada. E assim fui melhorando, até receber a confirmação de que deu ‘negativo’ para voltar para casa. E olha, algumas curiosidades de quando acordei, quando saí da UTI: o médico perguntava quem era aquela pessoa, se eu estava me lembrando dos nomes, e a voz da minha esposa, achei que era meu pai. E falei “meu pai”. De tão grogue que eu ainda estava. Quis saber dos meus filhos imediatamente, impressionante como me veio à cabeça. E a primeira pergunta, olha que curioso, foi para saber como está o plano de saúde deles, se estava em dia (risos). Um enfermeiro ouviu e disse: ‘se preocupar com contas agora?’. E todos rimos. Mas era a certeza de que eu estava bem. E curado”, pontuou.

A propósito, ao falar dessa cura, é importante registrar: dos 18 casos de covid-19 confirmados até a manhã desta terça-feira (31/03) em todo o Piauí, segundo dados oficiais repassados pela Secretaria Estadual da Saúde (SESAPI), Marcelo Magno é o único curado, até o momento. Há três óbitos e os demais seguem em tratamento. São 14 casos em Teresina (com duas mortes), 1 em Parnaíba e 1 em São José do Divino (caso da morte do prefeito da cidade). O jornalista confirmou que em seu tratamento os médicos utilizaram de hidroxicloroquina. Não deu detalhes, até porque há todo um procedimento técnico que cabem aos médicos. Marcelo Burlamarque Nunes foi o diretor médico que esteve a frente da recuperação de Marcelo Magno.

Estudos têm sido feito com o uso de pelo menos duas drogas: além de hidroxicloroquina, cloroquina. Comumente usadas no tratamento de malária e doenças autoimunes, como lúpus, tem dado certo em alguns casos contra o covid-19. Contudo, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o protocolo impõe outras experiências para conceder aval definitivo ao par de drogas. A coordenadora de ciência, tecnologia e inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou uma nota informando que essas medicações devem ser tomadas com controle, por conta dos efeitos colaterais, como arritmia e problemas visuais.

Exame comprovando que Marcelo Magno já não tinha mais o coronavírus: resultado do último dia 23 (Foto:

FESTA E O CONTATO COM FAMILIARES, AMIGOS E FAMILIARES

Perguntei a Marcelo Magno sobre algo que tem intrigado muita gente: a informação de que ele teria realizado uma festa de aniversário para seu filho, que acabara de completar 1 ano de idade, para vários convidados. Ele fala pela primeira vez sobre o assunto desde que recebeu alta e confirma a festa, mas nega que tenha sido feita para mais de 200 convidados como espalharam por aí.

“Confesso para você que, de todas as mensagens, 1% ou 2% foram de coisas meio ruins sabe, mas é importante você tocar neste ponto, da festa que eu fiz. Foi realizada no condomínio onde eu moro e geralmente as pessoas usam uma área bem grande que tem, que é aberta. Só que esperávamos que chovesse no dia e realizamos na área coberta, para cerca de 80 pessoas. Mesmo assim, além do fato de eu não saber que tinha o coronavirus, até porque se eu soubesse não teria problema algum em cancelar esta festa, não existe qualquer confirmação de que pessoas foram infectadas. Veja bem: nesses dias todos eu dormi com minha esposa, meu filho bebê dorme com o berço em nosso quarto, e até o momento nenhum só espirro existiu dentro de nossa casa. Claro que foram devidamente monitorados. Mas não existe essa história de que eu passei para outras pessoas”.

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Vale lembrar que mesmo com essa proximidade, a esposa de Magno não apresentou qualquer sintoma e não precisou fazer exames. Nem os seus filhos. Magno pode ter sido infectado quando voltava para Teresina, após apresentar o Jornal Nacional nos estúdios da Globo no dia 7 de março, durante uma conexão de seu voo no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP).

Na TV Clube, houve outros casos de coronavírus, como o diretor e conselheiro geral Segisnando Alencar, o Sisa, e a produtora Clarissa Castelo Branco, além de a emissora ter que colocar mais de 20 pessoas em quarentena. Mais de 100 funcionários foram afastados e os programas foram suspensos, tendo transmissão apenas da Globo Nordeste, direto de Recife (PE). A previsão é a de que os trabalhos retornem nesta quarta-feira, após quase dez dias sem programação. Marcelo Magno participará apenas para mostrar que está se recuperando bem, pois ainda segue em tratamento. Na verdade, eu pedi a ele para fazer um vídeo e quem sabe uma live, mas por dois motivos totalmente compreensíveis não pôde: recomendações médicas e prioridade à empresa de comunicação que trabalha.

Jornalista Marcelo Magno“Eu gostaria, Allisson, de verdade, de enfatizar um ponto: eu não tenho qualquer problema de saúde, apesar de terem dito por aí que sou asmático, e mesmo assim passei por essa situação, internado, na UTI e entubado. Acho que Deus me deu essa missão para mostrar para as pessoas que é possível escapar dessa. E eu acredito muito que todos nós vamos passar por isso tudo e vencer. Não tenho qualquer comorbidade e sofri com a doença. Nunca fiz uma só lamentação, mas percebi que Deus me deu isso como uma missão. E olha, acho que foi para mostrar para as pessoas que essa doença, que o coronavirus, pode atingir qualquer pessoa. Não tem essa história de que é só uma gripezinha… Pode acontecer com qualquer um, todos estão suscetíveis… Por isso mesmo é importante seguir todas as recomendações das autoridades da saúde, o isolamento, se afastar neste momento dos nossos idosos…”

Esse trecho foi o suficiente para um momento de emoção. Perguntei ao Marcelo Magno se ele tinha noção do quanto as pessoas estavam torcendo por ele, pelo ser humano, pai de família e profissional que é. E revelei que pessoas que nem sequer o conhecem, como por exemplo a minha mãe, choraram quando foi dada a notícia de sua plena recuperação em cadeia nacional, no programa jornalístico mais assistido do Brasil, que é o JN:

“É como eu disse: ‘Todo agradecimento que eu fizer ainda é pouco’. Eu passei a ver somente agora, esses dias, as várias mensagens, orações, manifestações que realmente me emocionaram muito. Eu participei do Jornal Nacional, naquele vídeo que gravei, estava com a voz embargada mesmo. Foi mesmo um momento de minha vida que vai ficar marcado para sempre”. Por fim, perguntei sobre possíveis sequelas: “Zero. Não tenho qualquer sequela, nem nos pulmões, nada… agora, é claro, estou ainda em uma fase de recuperação. Mas me sinto bem, muito bem mesmo. Nem um espirro mais, nem tossir… Só mesmo muito repouso, fazendo uma fisioterapiazinha, porque quando se passa seis dias entubado tem-se uma certa dificuldade, locomoção… mas acredito que tudo isso já passou”. É Magno, meu amigo, depois de acompanhar toda essa sua batalha, me resta te desejar, talvez em nome de muita gente que torceu por sua plena recuperação, muita saúde, muita paz e te dizer o quanto nos deixa feliz que é possível sim superar esse temido coronavirus… Ah, e claro, flamenguista como somos, não podia deixar de cumprimentá-lo: Saudações rubro-negras. “Isso, saudações rubro-negras… sempre… Kkkk”.

Fonte: Oito Meia, por Allisson Paixão

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