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Preço, desinformação e desinteresse ainda são barreiras ao consumo sustentável
O Brasil é o terceiro país com o maior consumo de carne bovina per capita do mundo, perdendo apenas para a Argentina e o Paraguai. Ao longo de 2017, cada brasileiro consumiu em média 25,9 quilos de carne, 11,4 quilos a mais do que a média dos habitantes dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, formada por 35 nações).
Mas será que o consumidor está preocupado com o impacto ambiental da carne que consome? Para a diretora de Sustentabilidade do Grupo Pão de Açúcar, Susy Yoshimura, a resposta é não: “Hoje a grande maioria da população ainda olha mais a parte estética da carne, da cor, do que ela entende que será o sabor, e para o preço deste produto. De maneira geral, os atributos ambientais e sociais não fazem parte das premissas como fator de decisão de compra, ainda”.
O Instituto Akatu, em ação em prol do consumo consciente, realizou uma pesquisa para avaliar o nível de consciência do consumidor brasileiro. Constatou que o percentual de consumidores engajados e conscientes vem caindo nos últimos anos. São aqueles consumidores dispostos a tomar atitudes de longo prazo e que tenham um benefício coletivo para a sociedade, como reciclar o lixo e optar por produtos sustentáveis. Em 2006, 33% dos consumidores se encaixavam nestas categorias. Em 2018, este número caiu para 24%. Já o percentual de consumidores indiferentes em relação ao consumo sustentável passou de 25% para 38%.
Em outro estudo, os entrevistados foram apresentados a dez temas, como transporte, alimentação e estilo de vida, e para cada tema tinham que escolher entre duas opções. Uma opção relacionada ao consumismo e outra à sustentabilidade. Em sete dos 10 temas apresentados, os entrevistados optaram pelo caminho da sustentabilidade.
Para Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, a explicação para a aparente contradição entre as pesquisas está nos dois principais entraves apontados pelos consumidores à escolha de produtos sustentáveis: o preço e a necessidade de mais informações sobre os impactos sociais e ambientais daquele produto. “O desafio de tornar o consumidor brasileiro mais consciente é conseguir que ele não tenha a percepção de que o produto sustentável é caro e que ele tenha a informação sobre os impactos sociais e ambientais mais positivos daquele produto”, afirma Mattar.
Em tempos de crise econômica, o fator “preço” ganha ainda mais importância. O Estudo Nielsen 360° verificou como o consumidor está reagindo ao cenário de incertezas políticas e econômicas, e concluiu as principais preocupações dos brasileiros mudaram: a preocupação com a saúde perdeu espaço para os problemas da economia e da estabilidade política.
A pesquisa também traz uma má notícia para as marcas que investem em sustentabilidade mas precisam repassar custos ao consumidor. Na hora de fazer as compras, a primeira medida que o consumidor toma em tempos de crise é migrar para marcas mais baratas. Em 2018, 34% dos brasileiros adotaram esta prática.
O contraditório é que, ao mesmo tempo, 64% dos consumidores brasileiros não se sentem atendidos pelos produtos que lhes são ofertados, especialmente no que diz respeito à saúde, e 51,7% dos entrevistados se dizem dispostos a pagar mais por marcas que protegem o meio ambiente. Na classe AB, este percentual sobe para 65%.
Talvez uma das explicações para as contradições que aparecem nas pesquisas esteja na avaliação de Pedro Burnier, gerente do Programa de Cadeias de Pecuária da Amigos da Terra. Ele conduziu um estudo com 572 pessoas para avaliar a disponibilidade dos consumidores de pagar a mais por atributos sustentáveis na carne bovina.
Por meio de um modelo estatístico, Burnier concluiu que os consumidores estão dispostos a pagar, em média, R$ 14,97 a mais por um quilo de filé que tenha Rastreabilidade até o Frigorífico. Para uma carne com Marca Sustentável, essa disponibilidade é de R$ 10,83 a mais por quilo de carne. Pelo produto com certificação de Bem-estar animal, o consumidor afirma estar disposto a pagar R$ 23,87 a mais. O pesquisador lembra, no entanto, que o fato de o consumidor dizer que está disposto a pagar a mais não significa que ele realmente vai fazer esta opção na hora H, na prateleira do supermercado: “Uma coisa é ele dizer que está disposto a pagar, outra coisa é ele efetivamente pagar”.
Fonte: O Eco
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