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Picos

Ventos de 100 km/hora deixaram prejuízo de quase R$ 10 milhões em Picos

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O vendaval ocorrido no último final de semana no Sertão do Piauí foi o maior da história do estado. O fenômeno climático atingiu principalmente a cidade de Picos (a 307 quilômetros ao Sul de Teresina). É o que apontam dados do CPTEC-INPE – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (um dos maiores órgãos do Mundo na área). O fenômeno gerou prejuízos de quase de R$ 10 milhões e poderia ser evitado caso houvesse um simples monitoramento via Internet.

A reportagem de O Olho procurou entender o que aconteceu e por que a região de Picos foi atingida com ventos da intensidade de tornados, comuns apenas na região do Caribe (a milhares de quilômetros de distância do Sertão do Piauí).

Vídeo da ventania de mais de 100 quilômetros por hora que atingiu o Sertão do Piauí:

A ventania pegou a população da região de Picos de surpresa. Fóruns de cientistas que estudam questões de tornados e furacões dizem que não ocorreram mortes em Picos por muita sorte, já que tudo foi muito rápido e destruidor.

Vários fatores da ventania em Picos foram cientificamente esclarecidos pelo professor de Climatologia da UESPI – Universidade Estadual do Piauí – Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho, um dos maiores estudiosos desses fenômenos no estado. O professor universitário mostrou que muitos dos prejuízos materiais poderiam ser evitados com simples informações hoje disponibilizadas gratuitamente em qualquer computador, tablet ou celular interligados à Internet. Ele também atribui a muita sorte o fato de não terem ocorridos prejuízos com vidas.

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Professor Werton Costa: um dos maiores especialistas em Climatologia do Piauí. Foto: Orlando Berti/O Olho

Werton Costa explicou, também usando dados do CPTEC/INPE que até então o maior vendaval já registrado no Piauí tinha sido o que destelhou o Ginásio Verdão, em Teresina, ainda no século passado. “O que ocorreu na região de Picos foi um fenômeno atípico, com nuvens rápidas vindas do Ceará e do Pernambuco. O relevo da cidade ajudou”, destacou o professor universitário.

A região central de Picos fica praticamente dentro de um buraco. Por isso uma chuva tão intensa com tantos ventos, já que o vento opera como um líquido em busca de espaço. Se esse volume é retido, vem os famosos “pés d´água”. Era o espaço perfeito para o vendaval, seguido de forte chuva, que derrubou centenas de árvores, destruiu dezenas de carros, pôs ao chão dezenas de quilômetros de fios elétricos, provocou muito caos em residências e estabelecimentos comerciais e desesperou a terceira maior cidade do Piauí.

Ventania acabou com o último dia de festa do aniversário de 125 anos de Picos. Foto: O Olho Imagens

O mais intrigante é que todo esse vendaval, que continua sendo objeto de curiosidade por parte de estudiosos de todo o Brasil, atingiu menos da metade da zona urbana de Picos. Na parte mais à Leste da cidade quase não houveram prejuízos. Agora na parte que foi atingida (Oeste e Central) parecia de cenas dos grandes furacões bem comuns no Hemisfério Norte do planeta.

CHUVA RÁPIDA. PREJUÍZO MILIONÁRIO. POR MUITA SORTE NÃO MORREU NINGUÉM

Picos foi atingida por intensa ventania, seguida de chuva, no meio da tarde do último domingo (13 de dezembro – um dia depois da cidade fazer 125 anos). Tudo não durou mais que 20 minutos. Mas os ventos, de mais de cem quilômetros por hora, assustaram, geraram muitos prejuízos materiais e a certeza de que o caso entrou para a história do estado.

Entrada da Rodoviária de Picos. Foto: O Olho Imagens

O presidente da Associação Comercial e Industrial da Grande Picos, Edilberto Francisco da Rocha, disse que diretamente os prejuízos ao comércio da cidade chegam aos R$ 3 milhões por conta do vendaval. Ele conta que presenciou os fortes ventos e chuva quando estava em um restaurante com amigos. “Quase fui ferido”. O líder empresarial da cidade destacou que o mais importante foi que não ocorreram mortes e nem feridos graves.

Edilberto Rocha: prejuízos evidentes ainda 48 horas depois da ventania. Foto: Ascom ACINPI

Sobre os prejuízos financeiros, Edilberto Rocha destacou que em vários bairros de Picos ocorreram caída de muros, árvores e que alguns estabelecimentos comerciais terminaram atingidos. Mas os principais problemas foram as faltas de energia elétrica e Internet. Em Picos uma boa parte das empresas têm acesso a Internet via sistema de rádio. Quase todas as antenas do sistema, distribuídas pela cidade, foram avariadas. “Até hoje (mais de 48 horas depois do vendaval) ainda tem loja sem funcionar direito”, destacou. “Mas vamos botar para tudo funcionar normalmente o mais rápido possível”, complementou.

Para o economista, contabilista, professor universitário e presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas da Microrregião de Picos, Hildemar Fontes de Moura, mais conhecido por Mazinho, os prejuízos podem chegar aos R$ 10 milhões. Isso é dado porque os cálculos dele levam em conta os efeitos colaterais causados pelo vendaval. Mazinho lembra que o fenômeno climático impediu a realização do último dia de festas de comemoração dos 125 anos da cidade.

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Mazinho: quase R$ 10 milhões em prejuízos diretos e indiretos. Foto: Chico Silva/Portal FCS

“Só aí, em vinda de turistas, consumo em restaurantes, venda de produtos e tudo mais, tivemos dezenas de milhares de reais em prejuízos. Fora que muitos comércios terão de ser reparados, além dos prejuízos com os aparelhos públicos. Sem falar no após”, analisou com a experiência de quem trabalha há quase 20 anos analisando perspectivas econômicas no Sertão do Piauí.

Mazinho também destacou que ocorreram vários prejuízos com aparelhos públicos como uma parte do muro do estádio municipal Helvídio Nunes (no bairro Canto da Várzea) que caiu, a parte coberta da AABB – Associação Atlética do Banco do Brasil (no bairro Catavento) em que são realizados parte das grandes festas da cidade e dos acessos ao Terminal Rodoviário Zuza Baldoíno (no bairro Industrial). “O principal é que ninguém saiu ferido muito grave”, também, falou aliviado, o professor universitário e líder empresarial.

Essa não foi a primeira grande ventania em Picos. Geralmente no final do ano há fortes ventos na região, mas o de domingo até hoje continua sendo um dos assuntos mais fortes nas rodas de conversa. “Esperemos que nunca mais aconteça um desses, meteu medo”, finalizou o professor Mazinho.

MUITOS DOS PREJUÍZOS PODERIAM SER FACILMENTE EVITADOS, REVELA PROFESSOR DE CLIMATOLOGIA

Praticamente todos os prejuízos relatados pelos líderes empresariais Edilberto Rocha e Mazinho poderiam não ter existido ou terem sido muito menores caso houvesse um monitoramento climático na região.

Professor universitário mostra como é fácil monitorar, e evitar, problemas climáticos. Foto: Orlando Berti/ O Olho

O professor Werton Costa, que atualmente tenta convencer e provar às autoridades do Piauí sobre as facilidades e importância desses monitoramentos, explicou que com um simples acesso à Internet e um conhecimento básico sobre clima e seus efeitos poderia alertar a população da região do Sertão do Piauí sobre o que aconteceu. Ele confirmou que em toda cidade do estado há, pelo menos, umas cinco pessoas formadas em Geografia e que todos estudam noções de Climatologia, podendo, facilmente ajudar no monitoramento.

“Hoje há sites que fazem isso e emitem alertas. Se acompanhar dá para evitar muita coisa”, destacou Werton Costa.

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Estádio de Picos teve parte do muro derrubado após ventania. Foto: O Olho Imagens

Há uma previsão quase em tempo real sobre fatores de temperatura, umidade, possibilidades de chuva e velocidades e direção dos ventos. E todos esses dados estão a um clique na Internet. Há órgãos que dão alertas se vão ocorrer chuvas, tempestades ou outros fenômenos. “Com isso torna mais fácil mobilizar e alertar as populações”, frisou o professor de Climatologia da UESPI. A população de Picos foi pega de surpresa e muita gente se desesperou com a ventania.

O professor universitário disse que há quase 30 estações de monitoramento no Piauí e que dão dados para o sistema nacional. Uma delas, inclusive, fica em Picos. Essa estação registrou dados anormais para o período. Um fato é que os dados foram menores, pois no bairro em que fica a estação, Pantanal, não foi atingido pela ventania (o epicentro na cidade ocorreu a cinco quilômetros de distância).

Vídeo do professor Werton Costa explicando como é fácil monitorar problemas climáticos: 

Esses dados poderiam ser melhor complementados caso o Piauí tivesse sistemas de radares. Isso permitiria informações mais precisas ainda. Menos de 10% do território piauiense é monitorado, mesmo assim por estações de Pernambuco (uma) e do Ceará (duas). “Poderiam instalar uma no Piauí para melhor estudos, inclusive para ajudar nas questões sociais, de agricultura e acadêmicas. Esse monitoramento é mais que necessário”, comentou o professor especialista em Climatologia.

FERRAMENTAS ACESSÍVEIS E DE GRAÇA PARA MONITORAR FENÔMENOS CLIMÁTICOS

Quase que diariamente o professor universitário Werton Costa usa sua conta no Facebook para compartilhar informações sobre as condições climáticas no Piauí. Mas não precisa ser um expert como ele para poder monitorar possíveis ventanias, grandes quantidades de chuvas ou outros fatores ligados ao clima que podem gerar prejuízos. A maior preocupação do professor é no sentido de que vidas possam ser salvas.

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Site no Inmet, dados de fácil acesso. Foto: Reprodução do site

Werton Costa diz que há uma série de ferramentas para esses monitoramentos. As duas principais são os sites o do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia (www.inmet.gov.br) e do CPTEC/INPE – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www.cptec.inpe.br).

Site no CPTEC/INMET dados completos sobre chuvas, ventos, umidade e muito mais. Foto: Reprodução do site

Não se paga para acessar. “É tudo muito fácil de ser acessado e se houver o monitoramento por parte de alguém que entenda um pouco quase tudo pode ser alertado”, destacou o professor Costa, que desenvolve uma série de pesquisas na área e tem percorrido várias partes do Piauí dando palestras sobre a importância das informações sobre o clima para a previsão de prejuízos.

Os institutos também têm aplicativos para celular. “A informação pode ajudar muita gente. Por isso é necessário que divulguemos esses sites e essas ferramentas”, finalizou o professor Werton Costa. Ele pretende levar estudos do tipo para seu trabalho de Doutorado.

 

 

Fonte: OOlho

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