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JAICÓS | Em apenas 1 dia, cerca de 600 trabalhadores migram para Matão em busca de melhores condições de vida

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“Só Deus sabe o quanto sofre um nordestino, que vê seu sonho de menino, se acabando pelo ar. Ele sofre quando tem que ir embora, a família toda chora, mas não pode mais ficar. Entra no ônibus de coração partido, sabe que vai ser sofrido o mundo da desilusão”.

O trecho da música “Lamento de um Nordestino”, de Francis Lopes, define a realidade de muitos jaicoenses. Todos os anos, pais saem do lar deixando esposa e filhos, jovens saem de casa para ficar pela primeira vez longe dos pais, casais se “separam”, em busca do sonho da casa própria ou simplesmente de melhores condições de vida.

Na manhã desta sexta-feira (10), a cena, que já se tornou corriqueira, se repetiu mais uma vez. A principal avenida da cidade foi tomada por uma multidão, que aguardava a chegada dos cerca de 13 ônibus, que levariam trabalhadores para São Paulo.

O destino dos cerca de 600 trabalhadores, número registrado somente em um dia, é a cidade de Matão, situada no interior de São Paulo. Eles saem daqui já contratados para o trabalho na safra de laranja. A migração de trabalhadores de Jaicós, que segundo relatos, teve início na década de 2000, vem crescendo a cada ano.

A falta de oportunidades de trabalho, dificuldade financeira e o desejo de realizar sonhos, estão entre os principais motivos que levam milhares de pessoas a deixarem sua cidade natal todos os anos. Os momentos de partida são marcados por um misto de sentimentos. Lágrimas e tristeza estão presentes, mas também fé e esperança de dias melhores.

Francisco Paiva de Assis, que é do Saco da Serra, zona rural de Jaicós, viaja pela 6ª vez. “Já são seis viagens com essa. Vou porque as coisas aqui são difíceis e lá a gente ganha um dinheirinho a mais. Moro com a minha esposa e tenho dois filhos casados. Tem que ir porque o “caba” tem que conseguir alguma coisa e aqui não dá para conseguir” falou.

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Francisco, que irá com o filho, disse que o trabalho é pesado, mas também há as vantagens. “Não tem previsão de voltar não, só quando acabar a safra, que pode dá até 11 mês esse ano. Lá o trabalho é puxado, por produção. A vantagem que tem lá é que eles dão alojamento bom, o cara não paga moradia e a empresa leva e traz. Eu vou com meu filho, de 25 anos” disse.

Francisco ainda disse que é difícil deixar a família. “É difícil demais porque o “caba” deixa a família em casa, vai, mas é difícil. Pra sair e deixar a família em casa por 10 ou 11 meses é difícil. “Caba” sai porque é obrigado mesmo” concluiu.

Com o sonho de construir a casa própria, Fábio Antônio da Costa Silva, de Jaicós, vai deixando a esposa e uma filha de 1 ano e seis meses.” Vou para trabalhar lá e fazer uma casa aqui. É complicado, mais tem quer ir, né?. Tá difícil pra trabalhar aqui. É a primeira vez que vou, na esperança de conseguir alguma coisa lá. Ano que vem já quero estar de volta” destacou.

Leocácio Venâncio de Oliveira, que é do Poço do Pato, chegou de Goiás há apenas 3 meses e vai pela primeira vez para Matão. “Eu morava em Goiás, passei 8 anos em Goiás e aí vim para cá. Eu trabalhei 4 anos na água mineral lá em Goiás.  Agora estou indo para Matão pela primeira vez. A maior dificuldade é de deixar a família, mas aqui não tem ganho nenhum, né? Então a gente vai para conseguir alguma coisa, se Deus quiser. Já vamos fichado” falou.

Recém casado, Francisco Ronilson da Costa, também de Jaicós, vai pela primeira vez, deixando esposa e filho. “Vou em busca de melhoras pra gente. Aqui em Jaicós é difícil de emprego e quando arruma é complicado. Os empresários de Jaicós gostam muito de explorar, não dá valor a profissão da gente. Decidi ir para lá e Deus quiser vai dar tudo certo, já estamos todos fichados” disse.

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Francisco Ronilson pretende construir uma casa quando retornar. “A gente vai para quando chegar de volta construir uma casa. Sou recém casado e aqui em Jaicós não dá pra construir não, só dá mal pra comer. Deixar a mulher e um filho pequeno não é fácil não, mas a gente tem que fazer esse sacrifício pelo futuro nosso. Dependendo das condições e dando para construir a nossa casinha pela primeira vez eu não quero ir mais não, mas se precisar voltar lá, a gente volta” falou.

Ele já trabalhou também em Natal e Cuiabá. “Eu morei em Natal 18 anos e trabalhei lá e em Cuiabá morei por 7 meses. Eu fui pra Natal com 13 anos e voltei está com 2 anos e nesse intervalo eu fui para Cuiabá e passei 7 meses e daí pra cá eu fiquei trabalhando aqui em Jaicós, só que o salário é muito baixo, é pouco reconhecida a classe da gente, então a gente tem que dá uma volta pra ver se consegue alguma coisa” contou.

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