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Clicks do Mês

Aos 23 anos, ela mostra a força da mulher na vaquejada; no Clicks do Mês, conheça a história da jovem de Geminiano, Andresa Mendonça

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Há cerca de 7 anos, a luva, perneira e o capacete fazem parte do seu guarda-roupa e de sua história. Os acessórios ela usa para prática de um esporte predominantemente composto por homens, mas no qual ela está presente, mostrando com muito talento, paixão e empenho, a força da mulher.

Desde a infância, ela teve contato com cavalos. Dentro de casa, teve o exemplo de familiares que nutriam a mesma paixão, e foi no meio desse cenário, que surgiu o encanto pela vaquejada.

Ela, é Andresa de Moura Mendonça, da cidade de Geminiano. A jovem, de apenas 23 anos de idade, corre vaquejada desde 2015, seguindo os passos do pai, avô e tia. E é a história dela na vaquejada, que o projeto Clicks do Mês conta em mais uma edição.

Andresa contou como tudo começou. “Eu sempre tive essa paixão por cavalo desde novinha, porque meu pai sempre criou cavalos e eu montava desde os 4, 5 anos. Quando cresci mais, vi o esporte, gostei e comecei a praticar. Eu tinha um cavalinho, comecei montar nele e meu pai foi me ensinando. Fui conhecendo mais a vaquejada, sabendo o que era, e meu pai foi me aprofundando mais nesse mundo, aí despertou a paixão. E o impulso veio também porque a família do meu pai é voltada para vaquejada, minha tia montava e participava de corrida de prado, meu vô também, é algo que já vem de gerações”.

Além dos ensinamentos do pai, ela também aprendia sobre o esporte assistindo vídeos na internet. “Quando comecei meu pai não tinha muito tempo de me ensinar, ele é cascador e chegava tarde da noite. Então, eu ficava assistindo vários vídeos, e montava no meu cavalinho. Quando tinha alguma dúvida eu perguntava ao meu pai, ele ia me explicando e eu associando com os vídeos que assistia”.

Aos 17 anos de idade, ela viveu a primeira experiência dentro da pista. “A primeira vez que corri foi na Cacimbinha. Ele me levou, e de surpresa, disse “vamos ver se você sabe, se leva jeito mesmo”, aí me colocou, eu consegui derrubar o boi e valeu. Foi emocionante. Minha mãe é nervosa, até hoje ela nem gosta de assistir, mas nesse dia ela tava lá gritando, torcendo (riso). Nesse dia eu nem dormi de noite pensando (riso). E de lá pra cá venho correndo nas vaquejadas sempre que posso. Meu pai que levava, eu corria com ele, depois conheci meu namorado e passei a ir com ele”.

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A jovem lembra que as primeiras corridas, fez montando o cavalo que tinha desde pequena. Depois da morte dele, veio o tornado, que participou de diversas de suas conquistas. Hoje, Andresa tem a égua Karina, que ganhou de presente do pai.

“Meu primeiro cavalo se chamava Branquinho, eu comecei a correr com ele e sempre tive muita confiança. Porém ele faleceu, então comecei a correr no Tornado, que era o cavalo do Adailton (namorado). E foi ele que me deu quase todos os troféus que tenho. Depois ele faleceu também. A gente cria um laço com eles, é como se fosse um ser humano, a gente sente mesmo a partida, abala. Tanto é que até hoje eu não esqueço e sempre gosto de relembrar o tempo com eles. O troféu é uma lembrança que tenho deles. E hoje eu tenho a Karina que ainda é novinha, está começando a correr agora” conta.

Sobre a prática do esporte, a jovem contou que exige preparo e força. “Para a preparação pra vaquejada tem o treino, passar o boi. A gente tem em casa o boi manso, que ele vai correndo devagar para você passar o cavalo, pra ir adaptando seu corpo, porque se você correr de uma vez, fica toda dolorida. Tem que ir adaptando também o cavalo, porque ele também é um atleta, precisa estar sempre em forma, é uma preparação da gente, junto com ele. E na hora de correr, além de força, você precisa ter técnica. É muita coisa, você tem que fazer a carreira do boi, passar a volta e derrubar ali no lugar certo, então você tem que ter muito raciocínio, e isso em pouco tempo”.

Andresa foi a primeira a correr vaquejada em Geminiano e Picos. Ela diz que no Piauí, a mulher ainda não está tão presente na vaquejada. “Infelizmente muitas meninas começam e desistem, porque é difícil, é um ambiente muito machista. Aqui em Picos acho que fui a primeira a correr. Hoje a mulher já ganhou mais espaço. Aqui no Piauí é mais fraco, mas por aí a fora, Pernambuco, Ceará, é bastante forte a presença da mulher na vaquejada”.

Para a jovem, o maior desafio é estar no esporte, e mostrar que a mulher também é capaz. “O maior desafio é a gente estar lá dentro de um esporte bem masculino, e mostrar que a gente consegue, que sabemos fazer o mesmo que eles fazem também. E quando você ganha uma corrida é um incentivo. É como se fosse um vício, você fica sempre querendo de novo. Eu quando errava sempre tentava melhorar, corrigir aquele erro”.

Ela lembra que no início, as mulheres não ganhavam troféus nas competições. “Não sei quantos troféus tenho, mas não são tantos, porque quando começou aqui era só dinheiro, não tinha troféu. Infelizmente as mulheres não tinham direito a nada, nem um troféu eles davam, mas mesmo assim a gente ia. No primeiro prêmio que ganhei não tinha troféu. Já o segundo foi o menorzinho dos que tenho aqui, depois de um bom tempo foi que evoluiu”.

Para ela, no esporte, a mulher não deve ter os mesmos direitos que os homens. “Às vezes queriam que colocasse como se fosse uma coisa dada, como “ah, mulher não tem que pagar senha”. E é ao contrário, mulher tem que pagar a senha, tem que ter os mesmos direitos que os homens. Muitas vezes comentam “ah, mulher vai correr e atrapalhar o horário do masculino, ou ‘começa pra acabar logo’. Geralmente era assim, mas hoje graças a Deus está mudando esse cenário”.

Andresa conta que são comuns os comentários diminuindo a mulher, mas que é preciso vencer mais esse obstáculo. “Presencialmente eu nunca vi comentários a meu respeito, mas já ouvi falando de outros colegas. E já vi que tem um vídeo meu, onde o rapaz fala ao fundo “uma mulher nunca vai conseguir derrubar um boi daquele”, mas eu vou lá e consigo derrubar o boi no mesmo dia. A gente sempre vai lidar com esse tipo de preconceito, precisamos ir vencendo essa barreira. Eu, quanto mais criticam, mais me esforço para melhorar, não me deixo abalar”.

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Se mantendo firme diante dos desafios no esporte, ela se tornou exemplo para outras meninas. “Antes não tinha o feminino, então eu corria no meio dos homens mesmo. Às vezes nem valia o boi nem nada, mas eu estava ali. E isso despertava a vontade nas outras meninas, tanto é que eu já recebi muitas mensagens de meninas que falam que sou inspiração e que começaram a correr por minha causa. Daí as meninas começaram a correr mais aqui na região”.

Andresa diz que sempre procura incentivar as jovens que também querem seguir no esporte. “Sempre levo uma mensagem positiva para as meninas quando elas vem me procurar. Então deixo esse recado, de não desistir, ter determinação, pois se você se dedicar ali no que você quer, vai conseguir, é consequência. Eu mesma não comecei sabendo de tudo, mas fui me aperfeiçoando com o tempo, e se eu consigo, qualquer outra mulher pode conseguir também”.

Hoje, Andresa já tem uma bagagem com muitas experiências e avanços. Além de correr em diversas cidades do Piauí, a jovem já participou de vaquejadas também nos estados do Pernambuco e Ceará. Na sala da casa da família de Andresa, três prateleiras exibem os diversos troféus já conquistados por ela.

Para ela, um dos prêmios mais importantes, foi o conquistado no Circuito Avapi de Vaquejada, em Teresina. “Posso destacar uma vaquejada que foi memorável para mim, que foi uma das últimas que um cavalo muito importante me deu, o tornado. Foi da AVAPI, no parque de exposições de Teresina, onde eu ganhei a etapa e ele também me consagrou a campeã das campeãs, em 2020. Foi um troféu especial e gosto de lembrar dessa data”.

Nessa trajetória, Andresa também conta com apoio do companheiro, Adailton de Moura Feitosa, mais conhecido como Chapadinha, que já está há 12 anos na vaquejada. Juntos desde 2017, eles se apoiam na vida e no esporte.

“A gente se ajuda, ele me apoia, a gente treina junto. Ele sempre incentiva, ensina, é assim. Depois que conheci ele que acho que teve o ápice maior na vaquejada. A gente corre junto, e é muito bom estar ao lado de uma pessoa que a gente confia, que te passa mais segurança” disse ela.

Questionado sobre seu sonho na vaquejada, ela disse que simplesmente quer seguir se dedicando e fazendo o que aprendeu. “Eu gosto de estar ali no meio do pessoal, de correr, do desafio. E eu gosto de me apresentar bem, meu foco é fazer o que eu tenho em mente, o que aprendi, e o prêmio, as conquistas, é tudo consequência. Tudo é do jeito que Deus quer, prêmio é consequência, eu gosto de me dedicar, fazer direito o que tenho que fazer. Se eu errar ali, amanhã já quero consertar”.

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Hoje, Andresa também concilia a prática da vaquejada com um outro sonho. Ela é estudante do curso de Medicina Veterinária. “O sonho de fazer o curso já foi bem antes, é um sonho compartilhado com meu pai, que sempre foi desse meio. E eu sempre gostei também, nunca teve outra coisa na minha cabeça, sempre foi Medicina Veterinária. E uma coisa liga a outra”.

Por fim, Andresa diz que a vaquejada como um esporte, mas que pretende seguir praticando até quando for possível. “Esse esporte acho que é pra vida toda, você não deixa. Infelizmente não tenho como me dedicar mais, porque estudo em Bom Jesus, que é longe, e quando estou lá fico afastada de tudo, do mundo da vaquejada, dos meus bichos, fico doidinha (riso). Para mim a vaquejada é um esporte, mas tem muitas meninas que tem como profissão. Mas mesmo assim, pretendo seguir até quando puder” concluiu.

Veja os Clicks do Mês de Março:

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