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Kassio Marques: O sonho brasileiro chega ao STF

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O piauiense Kassio Nunes Marques foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na cadeira aberta com a aposentadoria do ministro Celso de Mello. Ele tomará posse em cerimônia virtual no próximo dia 05. Na sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Kassio contou sua história familiar e profissional e relacionou sua chegada à Corte Suprema a realização do “sonho brasileiro” de perseverar, avançar e conquistar o que tiver ao alcance através dos estudos, do trabalho e da vontade de construir um novo País.

“A conquista da láurea pelo resultado do esforço e da dedicação pessoais. Pelo trabalho continuado, árduo e profícuo, é valor subjacente do sonho brasileiro, que oportuniza a qualquer um de nós,
de qualquer origem ou etnia, através do estudo, do trabalho e do esforço concretizarmos os nossos sonhos. Esse é o ideário de um país democrático e que reconhece a força do trabalho e a dedicação dos seus filhos por seus próprios méritos. Nesse momento um longo passa diante dos meus olhos. Parece várias vidas em uma só vida. Episódios e fases de vida incomunicáveis e inimagináveis em períodos distintos na minha vida”, disse Kassio.

FAMÍLIA E INFÂNCIA NO SACI

“Peço licença para traçar breves linhas sobre minha origem e de como cheguei aqui. Sou egresso de uma família pequena. Eu e minha irmã, filhos únicos do paraense Raimundo Correia Marques e da piauiense Carmem Dolores Neiva Nunes Marques, professora da rede pública. Ele também mais tarde tornou-se dentista da rede pública estadual. Nasci na Maternidade Evangelina Rosa, em Teresina, no dia 16 de maio de 1972. Morei em uma pequena casa na Rua Benjamin Constant, centro de Teresina. Aos seis anos de idade, ainda sem ter compreensão da vida, perdi minha querida irmã Karina que nos deixou precocemente com apenas um anos de 10 meses. Cresci em um bairro do subúrbio de Teresina. Bairro Saci, onde vivi dos nove aos 25 anos de idade e passei os memoráveis dias da minha infância e adolescência. Lá fiz amigos eternos que tenho o privilégio de conviver até os dias atuais. Tive uma infância simples, com jogos, brincadeiras de rua e muito futebol jogado nas áreas abertas próximo onde morava. As fogueiras de São João, o calor e a saudade de Teresina ainda acalantam minha alma nos dias frios de Brasília”.

““A conquista da láurea pelo resultado do esforço e da dedicação pessoais. Pelo trabalho continuado, árduo e profícuo, é valor subjacente do sonho brasileiro, que oportuniza a qualquer um de nós, de qualquer “origem ou etnia, através do estudo, do trabalho e do esforço concretizarmos os nossos sonhos””

Kássio Nunes Marques

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APRENDENDO A REZAR

“Fiz primeiras letras no então colégio de freiras Instituto Dom Barreto, hoje referência de ensino no Brasil e orgulho da educação piauiense. Prossegui nos estudos por quase 10 anos no colégio de padres Diocesano. Onde conheci como colega de sala de aula e moradora do mesmo bairro que residia, Maria do Socorro Carvalho Marques, com quem casei e tive três filhos. Os gêmeos Karson e Keven, hoje com 20 anos, e Kauã, atualmente com 15 anos de idade. Peço a permissão dos senhores para fazer aqui um pequeno registro de agradecimento e reconhecimento. Primeiramente a Deus, por tudo que tem realizado na minha vida. A minha madrinha Toinha e minha avó Vedina de forma póstuma por serem anjos na minha vida, ontem e hoje. Aos meus pais Raimundo Marques e Carmen Dolores que estão me vendo nesse momento de Teresina, por todo carinho e cuidado e também pela firmeza que exigiram de mim dedicação aos estudos, grandeza e dignidade. Foi com minha mãe que aprendi a rezar todos os dias, de joelhos, ao pé da cama, e com as mãos juntas em posição de suplica. O fato de chegar até aqui e ter a oportunidade de fazer esses registros já valeram toda essa longa caminhada”.

SEM MEDO

“O estado de perfeição é realmente condição inerente a Deus e refoge a nossa condição humana. Lembro aqui significativa observação de Theodore Roosevelt que ao se referir a limitação humana ou cometimento de eventuais erros, e também ao chamamento da realização dinâmica e efetiva do trabalho assegurou que ‘o único homem que nunca comete erros e aquele que nunca faz coisa alguma’. Não tenha medo de erro, pois você aprenderá a não cometer duas vezes o mesmo erro. A única forma de assegurar a impossibilidade de qualquer erro na judicatura é nada fazer, o que evidentemente não é solução para nenhuma circunstância”.

CANÇÃO DO TAMOIO

“Trago sucessiva formatura em Direito na Universidade Federal do Piauí fui aprovado no Exame de Ordem e iniciei na advocacia com a ajuda de dois amigos, dentre eles um primo cujo pai possuía uma sala no Edifício Tomaz Tajra, centro de Teresina, e me permitiu o compartilhamento do espaço para que pudesse atender meus constituintes. Com o passar dos anos tornei-me sócio de ambos e constituí em 2001 formalmente uma sociedade de advogados. Os primeiros anos na advocacia foram difíceis. Primeiro advogado da família e sem relações sociais, as causas não apareciam e as despesas só aumentavam. Inspirado em um poema de Gonçalves Dias chamado Canção do Tamoio, resolvi vender a casa lotérica e me dedicar exclusivamente a advocacia mesmo diante da incerteza desse futuro profissional. Paralelo a atividade que exercia no escritório fui contratado como assessor jurídico de uma cooperativa médica local, do ramo de planos de assistência a saúde, onde anos depois fui promovido a diretor jurídico, experiência que me influenciou fortemente como um curioso do universo médico e estudioso do Direito da Saúde”. Na advocacia priorizei concorrer através de licitações buscando contratações com empresas públicas e sociedades da economia mista. Por anos integrando a banca de advogados e através de contratos obtidos através de licitação pública fui advogado do Banco do Estado do Piauí, da Companhia Energética do Piauí, da Rede Ferroviária Federal no Piauí e
no Maranhão. Da Companhia Nacional de Abastecimento, entre outros. Em 2006 fui eleito Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil pela seccional do Piauí onde integrei várias comissões e presidi a comissão de Orçamento e Recursos Hídricos. Em 2008 integrei o Tribunal Regional Eleitoral do Piauí como membro da classe jurista tendo me desvinculado em 2011 por razão da assunção ao cargo de juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

FUSCA MONTADO

“Em 1990 ingressei no curso de Direito da Universidade Federal do Piauí. Único curso de Direito existente no Piauí a época. A Universidade Federal ficava no extremo oposto do conjunto habitacional onde morava, quase 20 quilômetros de distância, atravessando toda a cidade. Também fazia esse trajeto de ônibus. Qual foi a minha alegria quando meu pai me presenteou com uma moto usada Yamaha 100 cilindros anos 1972, motor dois tempos, cuja fumaça expelida nunca me tirou o sorriso de deslocar-me mais agilmente até a Universidade. Também nunca esqueci os gritos e a chacota da molecada quando regressava ao bairro em razão de deixar um enorme rastro de fumaça no ar. Durante esse período tive um carrinho de cachorro quente que circulava pelos bairros vizinhos. Aos sábados pela manhã comprava laranjas em um sítio de um conhecido para revender aos vizinhos da rua. Tornei-me concessionário lotérico da Caixa Econômica Federal em 1991. Provavelmente o mais jovem do Brasil já que fui emancipado para assumir uma pequena loteria de um bairro menor e mais pobre do que o que eu morava. Fui concessionário lotérico por nove anos. Com esses pequenos ganhos e a ajuda do meu pai passei quase um ano montando meu primeiro carro. Peça por peça. Longarina, para-lamas, piso, quase todas adquiridas nas sucatas de Teresina. Para serem montadas sobre o chassi de um Fusca 1970. Foi um duplo aprendizado. Não me esqueço da necessidade, após o término da montagem do Fusca, de levar comigo uma lista para descolar o platinado e uma chave de fenda para arrefecer a bobina que volta meia cortava a corrente de energia do carro”.

COLÉGIO DE ÔNIBUS

“No Colégio Diocesano fiz amigos para toda a vida. Hoje além de amigos, muitos deles tornaram-se compadres. Foi no colégio Diocesano, usando o uniforma padrão, nas missas semanais, nas aulas de educação moral e cívica e de organização política e social do Brasil que comecei moldar minha fé em Deus e no Brasil. Por alguns anos, ainda adolescente, integrei o movimento escoteiro onde aperfeiçoei minha personalidade com valores de preocupação com o próximo, um meio ambiente equilibrado e o propósito de construir um mundo melhor, mais justo, fraterno e solidário. As idas e vindas diárias ao Colégio Diocesano, sempre de ônibus, me abriram portas para um mundo que talvez jamais chegasse a conhecer. Foi muito enriquecedor a convivência diária com pessoas de variada origens, etnias, pensamentos, e classes sociais”.

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Fonte: Meio Norte
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