GERAL
Mãe cria boneca negra e de cabelo cacheado, em crochê, a pedido da filha de 10 anos: ‘igual a mim’
Foi a pedido da filha Fernanda de Brito, de 10 anos, que a artesã Brenda de Brito decidiu criar em crochê uma boneca que fosse igual à menina: negra e com o cabelo cacheado. Segundo a mãe, o pedido aconteceu porque a filha já está atenta às discussões sobre racismo na mídia e não se via representada nos brinquedos que tinha.
Brenda contou que o pedido surgiu depois que a menina observou que o tom de pele e o tipo de cabelo de bonecas, brinquedos e personagens em programas infantis, em geral, retratam apenas pessoas brancas e de cabelos claros e lisos.
“Ela falou que as bonecas dela não pareciam com ela. Eu comecei a fazer bichinhos em crochê em fevereiro, a ideia não era fazer bonecas, mas ela pediu essa”, contou a mãe.
Para Brenda, o pedido teve tudo a ver com a necessidade da menina de se sentir representada. E, principalmente, de se ver como uma menina bonita com seu tom de pele e cabelo naturais, já que há algum tempo a garota não gostava de seu cabelo e queria ele liso.
“Teve um período em que ela mesma não gostava de ser chamada de negra, achava que o cabelo era feio, queria alisar. Nós, mães negras, não temos os privilégios que os brancos têm. Os brancos não precisam se esforçar, ligam a TV e no desenho, no filme, só tem brancos, é o normal”, disse ela.
A partir daí, houve um processo de diálogo. A mãe mostrou amigas de cabelo cacheado, mulheres famosas, pesquisou penteados e conversou sobre o assunto com a menina.
“Esses dias ela estava arrasada com a história do Miguel, que caiu do prédio [menino de cinco anos caiu do 9º andar de um prédio no Recife depois que a patroa da mãe, Sari Corte Real, deixou a criança sozinha em um elevador. Ela vai responder por homicídio culposo, quando não há intenção]. Eu não precisei dizer nada, na hora que ela viu a matéria, ela disse: ‘foi puro preconceito’”, relatou Brenda.
Brenda disse que demorou para fazer a boneca, mas queria atender o pedido da filha. — Foto: Brenda de Brito/Arquivo pessoal
A criação da boneca, para ela, foi mais um passo para o entendimento, a identificação e a compreensão da menina sobre a representatividade e o racismo.
“Foi bem difícil, pesquisei, desmanchei a boneca um milhão de vezes, mas ficou como ela queria, ela ficou toda feliz. Espero que ela continue firme, a pressão ainda é grande”, disse a mãe.
Fonte: G1 PI
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