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NOTÍCIA DESTAQUE

Passo a passo de um crime: como o jornalista Elson Feitosa foi assassinado

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O que leva um trio de rapazes que nunca tinham se envolvido com a polícia, que nunca tiveram envolvimento com delitos, que até pouco tempo estudavam e eram considerados pacatos: a tramarem, atraírem, desferirem vários golpes de porrete, esganarem, andarem com um corpo por quase 40 quilômetros, comprarem gasolina, queimarem esse corpo, depois passarem o resto da noite em uma festa e ainda, no outro dia, saírem com o carro da vítima, cheio de sangue, se livrarem de seus pertences, e ainda circularem por várias partes da cidade realizando compra de roupas, celulares, relógios e bugingangas?

Elson Feitosa: vítima de um crime com requintes de crueldade. Foto: Facebook

Os fatos narrados acima aconteceram; Não é nenhuma história de filme de terror ou novela com temática macabra. Esse é o enredo dos últimos momentos de vida, trucidamento e passos dos acusados de terem matado o jornalista e empresário Elson Feitosa Silva, 38 anos. O crime ocorreu no início do mês e esta semana foi desvendado pela Polícia Civil do Piauí.

JORNALISTA FOI ATRAÍDO ATÉ CASA DE TIO DE UM DOS ACUSADOS

O jornalista Elson Feitosa foi atraído por volta das 19h30 do dia 02 de outubro deste ano (uma sexta-feira) para a residência número 836 da rua Major Sebastião Saraiva, bairro Piçarreira, zona Leste de Teresina. O imóvel era usado como depósito por um dos tios de um dos acusados. A polícia descarta que esse tio tenha envolvimento, pois acusados usaram a casa sem o conhecimento do parente. A casa fica bem próxima à sede do 11ª Distrito Policial de Teresina.

Casa em que o jornalista foi assassinado. Foto: Google Earth

Seria o último local que Elson Feitosa entrou com vida. Minutos antes tinha saído de sua casa, nas proximidades da avenida Dom Severino com a Homero Castelo Branco. Falou para familiares que iria entregar alguns produtos para clientes de sua loja de venda de artigos fitness.

Elson Feitosa chegou sozinho em seu veículo Gol, placas HQE-5736/PI. Na casa já estariam presentes os três acusados pelo crime, os desempregados: Madson Pereira Costa, 20 anos, José Carlos Pacheco Araújo, 24 anos, mais conhecido por J.P., e Mizael da Conceição Silva Barbosa, 19 anos.

O inquérito policial aponta que no dia anterior Elson teria saído com Madson, de quem já conhecia há quase um ano. O encontro teria sido registrado em uma imagem, divulgada pelo jornalista a um amigo através do Whatsapp. Os outros dois rapazes não conheciam diretamente a vítima.

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Veículo da vítima. Foto: Polícia Civil do Piauí

Minutos depois de chegar àquela casa Elson Feitosa já estaria dominado e seu martírio estava apenas começando.

“Esse não foi um latrocínio (matar para roubar) comum. Pois mataram e tentaram destruir o cadáver. Isso era um passo para levar a crer que quem matou conhecia a vítima”, revelou o delegado Danúbio Dias, responsável pelo caso.

JORNALISTA SOBREVIVEU A PAULADAS, ARQUEJOU E TERMINOU SENDO ASFIXIADO

Madson Costa: mentor. Foto: Polícia Civil do Piauí

O assassinato de Elson Feitosa foi concretizado por volta das 20h do dia 02 de outubro (uma sexta-feira). O inquérito policial tenta provar que o jornalista foi imobilizado por um dos acusados quando estava conversando na cozinha da casa.

O inquérito também aponta que J.P. segurou Elson. Madson teria desferido golpes com um taco de beisebol artesanal (desses vendidos à noite por ambulantes nos restaurantes de Teresina). De postura física avantajada Madson teria dado golpes quase mortais. Já Elson, que tinha aproximadamente 1,60 metro de altura pouco pôde fazer para se defender. Teria caído de costas, batendo a cabeça em um fogão. Ficou agonizando no chão. Sua cabeça sangrou muito.

Mizael Barbosa: vigiou a casa. Foto: Polícia Civil do Piauí

As investigações apontam que Elson Feitosa foi golpeado por, pelo menos, três vezes. Todas as pancadas foram na cabeça. Houve afundamento de crânio. Enquanto isso, Mizael, que estava com um dos braços quebrados, vigiava a casa.

O jornalista não morreu após a porradas. Se debateu por quase dez minutos, nas proximidades de uma pia. Uma poça de sangue ficou evidente. Minutos depois um dos acusados ainda notou que Elson Feitosa respirava e aplicou o “golpe de misericórdia”: o jornalista foi esganado.

Acabava ali a vida de um jovem rapaz, empreendedor, bom filho e bom amigo. Mas o martírio do seu corpo estava apenas no início.

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CORPO CIRCULOU PELAS RUAS DE TERESINA

Segundo o delegado Danúbio Dias, os três acusados pegaram o corpo de Elson Feitosa, enrolaram em um lençol e colocaram no porta-malas do veículo da vítima.

Seguiram rumo a avenida Presidente Kennedy, na zona Leste de Teresina.

J.P.: segurou a vítima: Foto: Polícia Civil do Piauí

Madson e Mizael seguiram de carro. J.P. seguiu em uma moto.

Minutos depois, a primeira parada, ainda na avenida Presidente Kennedy. Precisavam abastecer o veículo. Os R$ 50 do serviço foram retirados da carteira de Elson Feitosa.

Seguiram para a zona rural de Teresina, via PI-112 (sentido à cidade de União). Saíram da zona urbana da capital e adentraram a zona rural, sempre em direção ao Norte.

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Já na zona rural, localidade Campestre, uma parada macabra. Compraram dois litros de gasolina. O material foi colocado em uma garrafa pet. O atendente achava que era para socorrer algum motoqueiro em apuros. Um ato comum naquela região.

A gasolina era para complementar “o serviço”. Entenda-se por “serviço”: incendiar um corpo e não deixar rastros.

 DOIS LITROS DE GASOLINA PARA INCENDIAR E DAR FIM AO JORNALISTA

Taco de beisebol utilizado para matar o jornalista. Foto: Polícia Civil do Piauí

Elson Feitosa foi levado para um lugar tão distante justamente para que suas cinzas não fossem encontradas. Era nítido que a intenção de ocultar e fazer o cadáver desaparecer era para ser bem feito.

O delegado responsável pelas investigações diz que o local foi escolhido à dedo por ser ermo, não ter presença de caçadores e de não deixar evidências. Era bem conhecido pelo acusado Mizael Silva que mora nas proximidades.

Os dois litros de gasolina foram jogados sobre o corpo de Elson Feitosa. O fogo consumiu 75% do cadáver. Somente ficaram visíveis parte de suas mãos, canelas e pés. O restante estava irreconhecível. Uma cena de filme de terror. O incêndio do corpo ainda consumiu uma área de quase quatro metros quadrados. Foi aberta uma clareira pela colocação do corpo e seu quase incineramento. Isso chamou a atenção de moradores da região que no dia seguinte encontraram o corpo e avisaram à polícia.

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Até a tarde desta quarta-feira (14) ainda havia restos de tecido humano no local da tentativa de incineração do corpo. Por respeito à família e aos leitores a reportagem de O Olho não veicula fotos de corpo nem do local, ainda com cena de filme de terror.

MATARAM O JORNALISTA E FORAM PARA FESTA. ANTES DISSO SE LIVRARAM DE PROVAS

A Polícia Civil também aponta em inquérito policial que depois de matarem Elson Feitosa os três acusados voltaram rumo à Teresina e foram se livrar dos pertences da vítima.

Pertences do jornalista encontrados em terreno baldio de Teresina. Foto: Polícia Civil do Piauí

Em várias partes da zona Leste de Teresina atiraram boné, restos de roupa e materiais do carro dele. Com a prisão dos acusados a polícia, mais de uma semana depois, ainda conseguiu recuperar objetos ensanguentados em matagais. Alguns estavam em um terreno na rua jornalista Dondon, no bairro Horto Florestal.

O remorso passou longe. A noite da morte de Elson Feitosa terminou com os acusados indo até o município de Altos (a 45 quilômetros de Teresina) dirigindo-se a uma festa.

Estavam no carro do jornalista, com seu dinheiro.

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A noite foi longa, regrada a muita bebida. Os acusados negaram ter comprado drogas, apesar de Mizael Silva assumir ser consumidor de entorpecentes. Os outros negam vício ou envolvimento com substâncias ilícitas.

QUASE R$ 5 MIL EM COMPRAS COM CARTÃO DA VÍTIMA

Na manhã seguinte, segundo apontou o delegado Danúbio Dias, o trio teria retornado até o Comercial Carvalho da avenida Presidente Kennedy, proximidades do local em que ocorreu o crime.

Depois de morte, queima de cadáver, festa, ocultação de provas: acusados foram às compras. Foto: Polícia Civil do Piauí

Lá os acusados são apontados de tentarem gastar quase R$ 5 mil em produtos, usando o cartão de crédito de Elson Feitosa. “Quiseram comprar celulares, roupas e outros objetos”, revelou o delegado.

Como passaram mais de uma hora comprando produtos caros e de maneira aleatória terminaram chamando atenção do setor de segurança do supermercado, que começou a monitorar os acusados e terminou impedindo a compra com o cartão de crédito.

Depois ainda tentaram abastecer o veículo. Deram mais voltas e horas depois abandonaram o carro no estacionamento do mesmo Comercial Carvalho da avenida Presidente Kennedy.

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Acusados circulando por supermercado tentando fazer compras com cartão do jornalista. Foto: Polícia Civil do Piauí

Enquanto isso familiares e amigos, já notando que Elson Feitosa tinha desaparecido, acionaram as redes sociais para tentar encontra-lo. Em duas horas as mensagens pedindo pistas sobre seu paradeiro já tinham atingido quase 3.000 compartilhamentos.

Somente no domingo a busca tinha acabado. E terminado da maneira menos esperada: o jornalista sumido estava morto. Era um indigente, encontrado quase 24 horas antes em um matagal que estava no IML – Instituto Médico Legal – e terminou sendo reconhecido por um adereço que carregava em um dos tornozelos. O cadáver foi reconhecido por um amigo da família.

Devido a situação de quase incineração do corpo o mesmo só foi liberado mais de 50 horas depois de chegar ao IML de Teresina porque precisou de uma série de exames para realmente confirmar se aquele cadáver realmente era do jornalista.

Trio circulou por quase uma hora em supermercado. Foto: Polícia Civil do Piauí

Enquanto a família e amigos choravam os acusados são apontados de tentar lavar e desconfigurar o local do crime. Uma semana depois ainda restavam vestígios de uma poça de sangue. Vassouras usadas na limpeza foram encontradas na casa. Tudo também com marcas de sangue humano.

COMO TUDO COMEÇOU A SER ELUCIDADO

Dois detalhes foram fundamentais para a elucidação do caso. O primeiro foi a compra de um suco com o cartão de crédito da vítima. Foi essa conta de R$ 2,20 que ajudou a identificar e comparar os acusados através de filmagens. O segundo ponto foi quando, aproximadamente 12 horas depois do assassinato, os acusados tentaram abastecer o carro da vítima com seu cartão de crédito.

Foto de acusado, tirado pelo jornalista e enviado por rede social. Fugiu em ônibus. Foto: Polícia Civil do Piauí

Devido terem tentado, sem sucesso, no supermercado, terminaram por não ter a autorização, de R$ 25 de abastecimento, fornecida.

Dois dos acusados saíram, a pé, e foram a algum lugar próximo. “Era a pista que precisávamos, pois a gente já tinha os vídeos do supermercado mostrando eles usando o cartão da vítima. E como ele não demorou muito sabíamos que um deles morava ali perto”, relatou o delegado Danúbio Dias.

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As investigações ficaram cem por cento a cargo da Delegacia de Homicídios de Teresina. Com as imagens disponíveis agora era hora de identificar os acusados. Houve cruzamento de ligações telefônicas e mensagens de textos da vítima.

“A família foi fundamental para ajudar na elucidação”, revelou o delegado responsável pela chefia do caso. Ele complementou dizendo que os familiares e amigos do jornalista ajudaram muito dando passos e pistas.

O momento seguinte foi procurar a identidade dos acusados. Um ponto é que nenhum, ao menos em sua fase de maioridade, não tinha envolvimento com a polícia.

Chegou-se a Madson Costa justamente porque dias antes Elson Feitosa, durante um encontro dos dois, teria tirado uma foto dele e enviado para um amigo. Esse amigo destacou o nome de Facebook de Madson Costa, que usava a alcunha Márcio Curtis Jakson (que já foi deletado da rede social). Ele era contato de rede social com a vítima. Além disso, em uma das fotos da rede social, ele estava usando o mesmo cordão do dia em que circulou com o carro e os cartões da vítima. Tudo flagrado por câmeras de circuito interno.

Com esses dados em mãos, e informações sobre o colégio em que o acusado diz ter estudado (informações do Facebook), policiais da Delegacia de Homicídios chegaram até Madson Costa e seu endereço. Um mandado de prisão temporária foi expedido pelo juiz da Central de Inquéritos de Teresina.

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Mas quando a polícia chegou à casa do principal acusado de matar o jornalista ele já tinha fugido. Pegou um ônibus rumo ao Rio de Janeiro.

PRINCIPAL ACUSADO FOI PRESO A CAMINHO DO SUDESTE DO PAÍS

Vassouras ainda sujas de sangue. Foto: Polícia Civil do Piauí

Desde a noite da última sexta-feira que os policiais da Delegacia de Homicídios chegaram ao primeiro acusado, Madson Costa. Ele foi preso na cidade maranhense de Grajaú (a 456 quilômetros de Teresina). Estava em um ônibus da empresa Real Sul rumo ao Rio de Janeiro.

Depois de arrancarem a confissão da mãe do acusado de que ele havia fugido de Teresina o delegado Bareta, que ajudou nas investigações, conta que foi até o Terminal Rodoviário Lucídio Portella e levantou as listas de passageiros.

Uma equipe imediatamente dirigiu-se até o Maranhão e interceptou o ônibus prendendo Madson Costa.

Ele não esboçou reação. Era a peça-chave do quebra-cabeças sobre a morte de Elson Feitosa.

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Marcas de sangue da vítima em fogão na casa em que ocorreu o crime. Foto: Polícia Civil do Piauí

Trazido para Teresina confessou a participação no crime e entregou os outros dois comparsas, que terminaram presos no início desta semana. Cada um estava em sua residência e se surpreenderam com as prisões.

Interrogados os três confessaram suas participações no crime e, friamente, contaram o passo a passo da morte de Elson Feitosa.

Segundo o delegado Danúbio Dias o caso foi tramado por Madson, que já conhecia Elson. Ele terminou convidando J.P. Os dois chamaram Mizael. Durante o convite da vítima já estava acertado que o jornalista seria morto.

O acusado Mizael Silva alega que está ouvindo vozes da vítima, principalmente quando Elson Feitosa implorava para não ser morto. “Ele diz que fica ouvindo direto a vítima implorando por piedade”, revelou o delegado Danúbio Dias.

Os três, até o final da tarde desta quarta-feira (14) estava encarcerados na Central de Flagrantes, a espera de vagas no Sistema Prisional Piauiense. Sem tantas posses ainda não tinham advogados para defendê-los.

Dois advogados, amigos de Elson Feitosa, estão acompanhando o caso, em nome da família. Ajudarão o Ministério Público a promover condenação e pena máxima aos acusados. Os três serão indiciados pelos crimes de latrocínio (matar para roubar) e ocultação de cadáver. Dão mais de 30 anos de prisão, para cada um dos acusados, mas, pela lei brasileira, só podem ficar atrás das grandes três décadas.

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UMA INVESTIGAÇÃO DIGNA DE C.S.I. DA POLÍCIA CIVIL DO PIAUÍ

As investigações sobre o assassinato de Elson Feitosa mostraram o quanto a Polícia Civil do Piauí está preparada para elucidar casos complicados. O portal O Olho foi um dos que mais cobrou, através de matérias e crônicas, a elucidação do caso compartilhando matérias quase que diárias sobre o fato.

Delegados Bareta e Danúbio Dias: equipe da Del. de Homicídios fez trabalho exemplar. Foto: Orlando Berti/O Olho

Destaca-se o empenho dos delegados Danúbio Dias e Francisco das Chagas Costa, além da equipe A de investigação da Delegacia de Homicídios de Teresina. O grupo é formado por dedicados e experientes policiais civis, alguns com mais de 500 elucidações de homicídios no currículo. Quatro membros dessa equipe passaram mais de 150 horas dedicadas quase exclusivamente para o caso Elson Feitosa.

Todo o passo a passo do crime foi descrito em riqueza de detalhes de dar inveja aos produtores da série de ficção norte-americana C.S.I., que encanta telespectadores mundo afora pelo desvendamento de casos complicados. No assassinato de Elson Feitosa foram feitas várias provas científicas e dados foram milimetricamente analisados.

Inquérito está robusto para tentar garantir pena de 30 anos para cada um dos acusados de matar Elson. Foto: Facebook

As provas apontadas pelo delegado Danúbio Dias mostram rigor não só em encontrar os acusados de matar, roubar e queimar Elson Feitosa, mas trazem pormenores sobre provas materiais para que os acusados passem muito tempo atrás das grades. “Trabalhamos assim, pois com muitas provas terminamos por dessincentivar os crimes”, destacou o jovem delegado.

Elson Feitosa está enterrado em Picos, sua terra natal. Familiares ainda permanecem consternados com o bárbaro crime. Não se sabe se ele ainda está descansando em paz, mas a sociedade piauiense está mais em paz com menos três acusados de alta barbárie circulando pelas ruas. É aumentada, ao menos um pouco, a certeza de que, ao menos no caso Elson Feitosa, a impunidade parece que não ter vez.

 

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O Olho

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